Título: Holanda busca parceria no Brasil
Autor: Seffrin , Felipe
Fonte: Correio Braziliense, 18/11/2012, Economia, p. 16

Um ditado popular nos Países Baixos diz que Deus criou o mundo, e os holandeses, a Holanda. A frase resume o orgulho de um povo que venceu constantes inundações, superou o terreno pantanoso e se constituiu como uma das principais nações europeias ao construir 40% de seu território sobre o Mar do Norte. Para crescer economicamente e fugir da crise que assola vizinhos como Espanha e Grécia, porém, somente a engenhosidade holandesa não basta. A 17ª economia do mundo — que registrou no terceiro trimestre do ano recuo de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB) — vê no Brasil um parceiro fundamental para voltar a crescer. Por isso, amanhã, desembarcará em São Paulo e no Rio de Janeiro a maior delegação holandesa desde os tempos do Brasil colônia.

Com o príncipe herdeiro de Orange, Willem-Alexander, e sua esposa Máxima, princesa da Holanda (nascida na Argentina), representantes de cerca de 180 empresas dos Países Baixos de todos os portes vêm ao Brasil. O objetivo dos europeus é unir a sua experiência empresarial ao momento de crescimento econômico brasileiro apesar da crise, e realizar uma série de acordos bilaterais. “Estou confiante de que essa visita contribuirá para um aumento do comércio mútuo e para uma cooperação proveitosa para empreendedores dos dois países”, projetou Hans Biesheuvel, secretário holandês de Estado da Economia, Agricultura e Inovação, que lidera a missão.

Represente do governo brasileiro na monarquia há quatro anos, o embaixador José Artur Denot Medeiros é entusiasta da vinda da comitiva à América do Sul. “A Holanda é um parceiro privilegiado para nós. O Porto de Roterdã é a maior porta de entrada das nossas exportações na Europa”, destacou. O país foi o quarto que mais recebeu bens de origem nacional em 2011. Só perdeu para a China, os Estados Unidos e a Argentina. No ano passado, o Brasil exportou US$ 13,6 bilhões por meio dos Países Baixos, com superavit de US$ 11,3 bilhões. Apesar da balança amplamente favorável, Medeiros crê que ainda há muito a lucrar com a Holanda. “Podemos ganhar em tecnologia, experiência, comércio internacional. Eles são os maiores engenheiros de água do mundo. Toda essa dimensão de inovação nos interessa muito.”

Aviação Oito setores estão contemplados na delegação: agronegócio; arquitetura e design; aeroespaço; metalurgia; ciência, tecnologia e ensino superior; infraestrutura esportiva; gerenciamento de resíduos; e construção de iates. Um dos principais atrativos para a Holanda é a Embraer. A KLM, maior empresa de aviação comercial dos Países Baixos, já conta com 22 aeronaves brasileiras. Agora, companhias como a Fokker, que voltou as suas ações para a fabricação de sistemas elétricos e compostos leves, entre outros, miram intercâmbio de conhecimento. “Estamos impressionados com o crescimento da Embraer. Esperamos desenvolver soluções de tecnologia, serviços e produtos em conjunto. Se tudo der certo, podemos até abrir uma fábrica no Brasil. Espero que as negociações avancem até 2013”, projetou Adriaan Leyte, vice-presidente de marketing da Fokker.

Mais de 100 empresas de capital neerlandês já estão estabelecidas no Brasil. Algumas têm presença no país há quase um século, como a petrolífera Shell. A multinacional de alimentos, higiene e limpeza Unilever, a rede atacadista Makro e a líder do mercado varejista C&A são outras com origem holandesa mais que consolidadas aqui. Agora, companhias com outros perfis também buscam o consumidor brasileiro. Caso da Balk Shipyard, uma das principais construtoras de super iates do mundo. “Os nossos principais mercados são os Estados Unidos, a Europa e a Ásia, mas vemos o Brasil com potencial para tornar-se nosso parceiro”, disse Dann Balk, presidente da empresa que constrói esse tipo de embarcação personalizada, de até 65 mil metros, ao custo máximo de 90 milhões de euros.