Título: Um país indignado
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 18/12/2012, Mundo, p. 16

Norte-americanos reagem à matança em Newtown e enviam abaixo-assinado com 140 mil nomes, por meio do qual cobram rigor no controle de armas. Líder da maioria no Senado defende nova legislação. Alerta fecha escolas de duas cidades vizinhas

Sob um clima de indignação nacional, os corpos de duas crianças vítimas da chacina de sexta-feira em Newtown (Connecticut) foram os primeiros a serem enterrados ontem. Em reação a uma das maiores carnificinas dos Estados Unidos, a opinião pública cobrou medidas mais duras em relação ao controle de armas. Um abaixo-assinado com mais de 140 mil nomes chegou a ser enviado à Casa Branca. Uma pesquisa mostrou que mais de 54% dos norte-americanos apoiam uma restrição maior ao porte de armas, e legisladores prometeram apresentar projetos que contemplem esse clamor.

Jack Pinto foi enterrado em Newtown. Noah Pozner, na vizinha Fairfield, em funerais acompanhados por colegas. Os dois meninos tinham apenas 6 anos, idade da maioria das demais 18 crianças a serem sepultadas ao longo da semana, assim como as seis mulheres executadas por Adam Lanza, 20 anos. Cinco das vítimas eram professoras ou funcionárias da Escola Primária Sandy Hook. A sexta era Nancy Lanza, mãe do autor dos disparos e dona das três armas usadas por ele no massacre. Móveis e objetos começaram a ser retirados da escola, que será desativada, e levados para outra instituição, na vizinha cidade de Monroe.

Não bastasse o clima de comoção, os moradores de Ridgefiel e Redding, perto dali, viveram momentos de pânico. A polícia pediu que suas escolas fechassem as portas, ao receber a denúncia de que um homem com um fuzil estaria rondando uma estação de trem da região. O alerta foi retirado, sem que ninguém tenha sido preso. As autoridades descartaram ligação com o massacre de sexta-feira. Mais distante dali, a polícia de Los Angeles (Califórnia) prendeu um homem, cuja identidade foi não divulgada, por usar o site de relacionamentos Facebook para ameaçar escolas. De acordo com a rede de tevê NBC, os agentes encontraram armas na casa do suspeito.

Mudança

Os episódios aumentaram a tensão no primeiro dia de aula após a matança. Em meio ao clima de medo, um abaixo-assinado no site da Casa Branca contou com a adesão de mais de 144 mil pessoas, que pediram uma lei sobre o controle de armas. O líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, disse ontem que o Congresso deve examinar o que pode ser feito para responder ao recente tiroteio, "inclusive a possibilidade de nova legislação". Seus colegas, os senadores Dianne Feinstein e Charles Schumer já haviam defendido o mesmo, no dia anterior. Feinstein prometeu, inclusive, reapresentar uma legislação que impede a compra de fuzis de assalto. Em 1994, o então presidente Bill Clinton assinou uma lei determinando a proibição dessas armas, mas ela expirou 10 anos mais tarde e jamais foi renovada. Desde sexta-feira, o presidente, Barack Obama, tem defendido que o país deve fazer mais para acabar com tragédias desse tipo. No entanto, a Casa Branca admitiu não existir uma agenda concreta sobre o porte privado de armas.

Uma pesquisa divulgada pela rede de tevê ABC News e pelo jornal Washington Post mostrou que 54% dos americanos veem o tiroteio em Newtown como um reflexo de um problema mais amplo da sociedade e são favoráveis a leis mais rígidas de controle de armas. O porta-voz da Presidência, Jay Carney, afirmou que esse controle é parte de um problema maior e, sozinho, não resolve a questão da violência. Visão que tem a simpatia do especialista Robert Cottrol, da George Washington University. Em entrevista ao Correio, ele afirmou que os políticos deveriam se preocupar também com as políticas de saúde pública e de sanidade mental.

Já na opinião do especialista Harry Wilson, autor de Guns, Gun Control, and Elections ("Armas, Controle de Armas e Eleições", pela tradução livre), esta é a "melhor chance" para se tomar uma atitude. "É difícil imaginar uma oportunidade melhor do que agora", disse à reportagem. Wilson reconheceu as limitações dos políticos. Segundo ele, a proposta de Feinstein passaria pelo Senado, mas enfrentaria resistência na Casa dos Deputados.