Correio braziliense, n. 20802 , 06/05/2020. Cidades, p.17

 

34 mortes e 1.837 infectados

Walder Galvão

06/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Um morador de Samambaia de 53 anos faleceu na segunda-feira. Ele é o primeiro paciente sem comorbidades e com menos de 60 anos a perder a vida na capital devido ao coronavírus

O Distrito Federal registrou a primeira morte provocada pelo novo coronavírus de um paciente com menos de 60 anos e sem comorbidades. A vítima, um morador de Samambaia de 53 anos, faleceu na segunda-feira. De acordo com informações da Secretaria de Saúde, ele estava internado desde 29 de abril, 11 dias após apresentar os primeiros sintomas da Covid-19. Com o novo registro, a capital chegou a 34 óbitos causados pela doença e 1.837 casos confirmados.

Dos diagnosticados, 133 estão hospitalizados. Desses, 56 têm quadro clínico crítico, e estão em unidade de terapia intensiva (UTI). Apesar da quantidade de notificações, há 1.081 pacientes considerados recuperados do coronavírus. Além disso, a maior incidência da doença está entre pessoas de 30 a 39 anos, que somam 559 casos. Com 404 infectados, o segundo grupo etário com mais registros da Covid-19 tem idades entre 40 a 49 anos. Ainda, há 239 pessoas com mais de 60 anos, consideradas do grupo de risco.

Com 248 casos confirmados, o Plano Piloto lidera as cidades do DF com mais registros da Covid-19. Em segundo lugar, está Águas Claras, que soma 184 notificações. O Guará vem em seguida, com 90 infectados, e ultrapassou a quantidade de ocorrências do Lago Sul, que tem 82 pacientes. A Fercal é a única região da capital que não tem moradores infectados pelo coronavírus.

O número de diagnósticos no sistema penitenciários ultrapassa a quantidade de pacientes do Plano Piloto, local com mais registros da doença. Ao todo, são 334 pessoas infectadas, sendo 122 agentes penais e 212 detentos. Cinco policiais e oito internos estão internados. A Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) informou que 61 presos e cinco agentes estão recuperados da Covid-19.

Curva

Após completar dois meses da primeira confirmação do coronavírus, a curva de contaminação da doença começa a se estabilizar no Distrito Federal. Apesar do aumento diário de diagnósticos, principalmente após o início da testagem rápida por drive thru em 21 de abril, Pesquisa da Companhia de Planejamento (Codeplan) mostra que houve desaceleração do crescimento em comparação às semanas anteriores. O DF conta com 10 postos para que a população faça o exame para detecção do coronavírus. Confira a lista de locais no site do Correio.

A pesquisa atribui a mudança da trajetória da curva às medidas de restrição estabelecidas por meio de decretos pelo Governo do Distrito Federal (GDF), como o isolamento social, suspensão de aulas e fechamento de setores do comércio. Por não existir vacina ou remédio com eficácia comprovada capaz de combater a Covid-19, as atitudes de contenção da população se tornaram mais necessárias para diminuir a disseminação do coronavírus. Segundo o estudo, o descumprimento das regras pode modificar “rapidamente o cenário, com consequência de expansão dos casos”.

A pesquisa também mostrou que a quantidade de passageiros no transporte público da capital caiu após o início da pandemia. Em 8 de março, a média de pessoas em ônibus e metrô na capital era de 1,1 milhão por semana. Monitoramento mais recente da Codeplan, de 3 de maio, revelou que o número caiu 71%, passando para 332 mil.

 

Tecnologia

Para fortalecer o combate ao novo coronavírus na capital, o Executivo local pretende investir em tecnologia. Ontem, o GDF firmou convênio com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para desenvolver projetos digitais de saúde voltados para o tratamento, diagnóstico e prevenção da Covid-19. Ao todo, serão R$ 10 milhões de recursos.

Entre as ferramentas que serão desenvolvidas, estão o uso da telemedicina e tecnologias de realidade virtual, que serão incorporadas no cotidiano das unidades de saúde da capital. A telemedicina, por exemplo, já é utilizado no Instituto de Gestão Estratégica da Saúde (Iges).

 

Processo

Na semana passada, os ministérios públicos Federal (MPF), do Trabalho (MPT) e do DF e Territórios (MPDFT), acionaram a Justiça para manter a suspensão das atividades não essenciais no DF. Entretanto, a Advocacia Geral da União (AGU) pediu a extinção do processo por meio da Procuradoria Regional da União da 1ª Região e enviou a solicitação à 3ª Vara Federal Cível do DF.

O documento emitido pelos ministérios exigia que a União informasse eventuais estudos direcionados ao DF e que se relacionem à redução do distanciamento social. Em contrapartida, a AGU ressaltou que não é permitido que a União dê prioridade a um outro ente federativo sem que se tenha justificativa plausível, “sob pena de se promover, ainda que implicitamente, uma hierarquia entre os diversos estados da Federação”.

Números da Covid-19 no DF

    Casos confirmados    1.837

    Recuperados     1.081

    Mortes    34

    Homens    1.161

    Mulheres    676

Hospitalizados

    Enfermaria    77

    UTI    56

Regiões com  mais casos

    Plano Piloto    248

    Águas Claras    184

    Guará    90

    Lago Sul    82

Regiões com menos casos

    Fercal    0      

    Varjão do Torto    1

    SIA    1

    Candangolândia     4

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Aquisições para combater a pandemia

Jéssica Eufrásio

06/05/2020

 

 

A pandemia do novo coronavírus tem exigido da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) racionalidade na distribuição de insumos. Na seção de acompanhamento do estoque desses itens disponibilizada no site da pasta, dos 21 tipos de equipamentos de proteção individual (EPIs) listados, apenas macacões para pulverização estavam fora de estoque ontem. Apesar disso, entidades representativas do setor têm averiguado problemas na distribuição de alguns artigos aos profissionais que lidam diretamente com os pacientes da Covid-19. A preocupação com o cenário e com uma possível piora chegaram a ser tema de ofício encaminhado por sindicatos ao Executivo local, em março.

Ontem, houve divulgação no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) da compra de R$ 19,5 milhões em EPIs, por meio de contratos com dispensa de licitação firmados com três empresas. Entre eles, houve a aquisição de máscaras cirúrgicas, sapatilhas descartáveis, óculos de proteção, macacões para pulverização e máscaras do tipo N95. Além disso, a SES-DF informou, ontem, que vai republicar uma chamada para a compra de 178.801 capotes — aventais descartáveis.

O secretário-adjunto de Gestão em Saúde, Eduardo Pojo, afirmou que não é possível precisar quanto tempo os equipamentos vão durar, mas o estoque de alguns deles, como de máscaras N95, é garantido por cerca de seis meses. “A demanda é muito dinâmica. E o governo (do Distrito Federal) tem feito o máximo de esforços para liberar recursos (para a compra dos itens necessários). As empresas que tiverem interesse em vender para a Secretaria de Saúde devem acompanhar o DODF e o prazo para entrega de propostas. Todos os resultados das dispensas de licitação são publicados no site da pasta e no Diário Oficial”, ressaltou.

O secretário-adjunto acrescentou que, desde o início dos trabalhos de combate à pandemia no DF, todas as compras regulares estão em andamento. No entanto, para alguns insumos, pode haver reabertura da fase de cotação, se necessário. “Haverá nova cotação para os itens que não foram adquiridos nos quantitativos que entendemos serem suficientes para a pandemia, razão pela qual vamos reabrir o caso dos aventais”, completou Eduardo Pojo.

Hoje, a Secretaria de Saúde deve divulgar um balanço de todas as ações realizadas no âmbito do combate à Covid-19 ao longo de dois meses. Na última semana, a pasta havia informado que o GDF pretende comprar 300 respiradores. Além disso, a Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), trabalha na recuperação de outros 150 aparelhos desse tipo.

Licitações

Mestre em direito constitucional e presidente da Comissão da Advocacia nos Órgãos de Controle da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), Karina Costa explicou que uma lei federal publicada em fevereiro permite que os estados e o DF façam contratações diretas se preciso, diante do cenário de emergência de saúde pública. “A norma simplificou a forma de contratar e reduziu pela metade o prazo. A lei permite, por exemplo, que se comprem itens acima do preço caso o gestor justifique a ausência (de produtos mais baratos)”, detalhou.

No entanto, a advogada acredita que, no futuro, após as análises por parte dos órgãos de fiscalização, será necessário levar em conta diversos fatores que influenciaram o fechamento de contratos. “Estamos lidando com vidas. Quando fazemos contratações, ponderamos princípios. Há um trabalho mais demorado para a escolha do preço menor. Agora, temos de entender que esta é uma situação excepcional. Claro que não se pode exagerar. Tudo tem de ter uma medida, mas esse outro olhar será necessário”, concluiu Karina.