O Estado de São Paulo, n.46203, 17/04/2020. Política, p.A5

 

Ministério defende 'isolamento estratégico'

Bruno Nomura

Paula Reverbel

17/04/2020

 

 

Teich já citou o uso da geolocalização como forma de monitorar aglomerações, medida vetada por Bolsonaro

Novo titular. O oncologista Nelson Teich faz o primeiro pronunciamento como ministro

Anunciado ontem como o novo ministro da Saúde, em substituição a Luiz Henrique Mandetta, Nelson Luiz Sperle Teich é formado em Medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), especialista em oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer e fez curso em Ciências e Economia da Saúde pela Universidade de York, no Reino Unido. Fundou e presidiu o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI) entre 1990 e 2018. Foi consultor da área de saúde da campanha de Bolsonaro à Presidência, em 2018, e chegou a ser cotado ao Ministério da Saúde à época. Atualmente, é sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos.

Segundo seu perfil no LinkedIn, atuou como conselheiro e consultor da secretaria atualmente comandada por Denizar Vianna, a de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde. Os dois já foram sócios e têm relação de proximidade. Ontem, ao se despedir do cargo, Mandetta sugeriu que Vianna poderia até compor a próxima gestão da pasta. Ele não mencionou o nome de Teich, mas afirmou que o oncologista é um bom pesquisador, embora não conheça o SUS.

O novo ministro tem apoio da Associação Médica Brasileira e mantém boa relação com empresários do setor da saúde. A expectativa é de que ele apresente dados que destravem debates considerados politizados sobre a covid-19.

Em artigo publicado no LinkedIn, o médico critica a “polarização” entre a saúde e a economia e defende a necessidade de projeções sobre o coronavírus “levar em consideração o impacto de uma crise econômica nos níveis de saúde e mortalidade da população”. “Esse tipo de problema é desastroso porque trata estratégias complementares e sinérgicas como se fossem antagônicas. A situação foi conduzida de uma forma inadequada, como se tivéssemos que fazer escolhas entre pessoas e dinheiro, entre pacientes e empresas.”

Teich já criticou o isolamento vertical, modelo defendido por Bolsonaro em que apenas pessoas no grupo de risco são colocadas em quarentena. “Sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem a partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias”, escreveu.

Tecnologia. Em artigo, defendeu o isolamento horizontal como a “melhor estratégia no momento” no combate à pandemia. “Diante da falta de informações detalhadas e completas do comportamento, da morbidade e da letalidade da covid-19, e com a possibilidade do Sistema de Saúde não ser capaz de absorver a demanda crescente de pacientes, a opção pelo isolamento horizontal, onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento.”

Ele ressalta, no entanto, que nenhum dos modelos seria o ideal e defende um “isolamento estratégico”, com uso de sistema de geolocalização para monitoramento de aglomerações. “Estamos falando aqui do uso de testes em massa para covid-19 e de estratégias de rastreamento e monitorização, algo que poderia ser rapidamente feito com o auxílio das operadoras de telefonia celular”, afirmou. Nesta semana, no entanto, Bolsonaro vetou o uso de geolocalização para identificar situações de risco.

Teich já mencionou a cloroquina como esperança no tratamento do coronavírus, mas não se posiciona sobre a forma como ela deve ser usada.