O Estado de São Paulo, n.46203, 17/04/2020. Política, p.A6

 

Presidente fala em ‘divórcio consensual’

Jussara Soares

17/04/2020

 

 

Numa fala pausada e medindo as palavras, o presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, como um “divórcio consensual”. Os dois travavam uma guerra fria nos últimos dias sobre as diretrizes para o enfrentamento do coronavírus. O duelo persistiu até nos instantes finais. Quando Bolsonaro iniciou seu pronunciamento no Palácio do Planalto, Mandetta ainda concedia entrevista na sede do ministério.

Ao lado do escolhido para assumir a pasta, o oncologista Nelson Teich, o presidente justificou a mudança no ministério afirmando que Mandetta não tratou a crise da forma como ele gostaria. Ele evitou ataques diretos ao ex-auxiliar e o agradeceu pela “cordialidade” e condução do ministério.

“É direito do ainda ministro defender o seu ponto de vista como médico. E a questão de entender também a questão do emprego não foi da forma que eu achava, como chefe do Executivo, que deveria se tratada. Não condeno, não recrimino e não critico o ministro Mandetta. Fez aquilo que como médico achava que tinha que fazer”, disse Bolsonaro, com um semblante abatido.

Segundo o presidente, Mandetta se colocou à disposição para auxiliar na transição. “Foi realmente um divórcio consensual”, disse. Apesar de seguidas ameaças, Bolsonaro demorou a efetivar a demissão por temer ser responsabilizado caso a crise se agravasse. Outra preocupação era o prejuízo político, vez que Mandetta ganhou popularidade ao conduzir as estratégias de enfrentamento à covid-19. A avaliação de interlocutores da Presidência é a de que o fato de Teich não ter interesse na política foi fundamental. Bolsonaro achava que Mandetta estava usando a crise como palanque político.