Correio braziliense, n. 20803 , 07/05/2020. Política, p.3

 

Órgão de R$ 1 bi para o Centrão

Jorge Vasconcellos

Sarah Teófilo

07/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Governo entrega direção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, com orçamento bilionário, a indicado pelo bloco. Planalto busca aliança com partidos da "velha política" para formar base no Congresso, aprovar projetos e barrar pedidos de impeachment

O governo mudou a direção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgão ligado ao Ministério de Desenvolvimento Regional e cujo orçamento deste ano é de R$ 1,09 bilhão. O nomeado foi Fernando Marcondes de Araújo Leão, indicado pelo Centrão, formado por partidos como PP e PL. A definição foi publicada, ontem, no Diário Oficial da União (DOU), e marcou de vez a aliança pretendida pelo governo, que busca base no parlamento.

Fernando Marcondes, que até então atuava como gerente-geral do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Pernambuco, foi filiado ao PTB, de Roberto Jefferson, por 32 anos, tendo saído no último dia 16 de abril. Em março, mudou-se para o Avante. A filiação foi processada no dia em que saiu do PTB.

A nomeação marca a aliança que tem sido buscada pelo presidente com os partidos no Congresso, a fim de conseguir aprovar projetos e, eventualmente, barrar algum pedido de impeachment. Bolsonaro também já está de olho na presidência da Câmara, que ficará ocupada até começo de 2021 pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), parlamentar a quem constantemente critica.

A aproximação de Bolsonaro com as legendas também manifesta o isolamento do chefe do Executivo, que se vê em meio a recorrentes crises no Planalto, falta de articulação no Congresso e pedidos de impeachment chegando.

No último dia 28, Bolsonaro admitiu ter mantido conversas com lideranças políticas de partidos do Centrão. Na ocasião, chegou a dizer que não vai barrar eventual negociação de cargos no seu governo. No passado, criticou a prática (de conceder cargos em troca de apoios, também chamada de toma lá dá cá).

No mês passado, o chefe do Executivo se reuniu no Planalto com o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI); o deputado federal e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP); e os deputados federais Arthur Lira (PP-AL), Diego Andrade (PSD-MG), Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) e Wellington Roberto (PL-PB). Todos são líderes dos partidos na Câmara.

Fala-se que a indicação de Fernando Marcondes seria do líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL). A reportagem tentou contato com o parlamentar, sem sucesso. Deputados do partido alegaram nada saber e que não foram consultados.

Vice-líder do PP no Senado, Daniella Ribeiro (PB) disse que não houve qualquer reunião do partido para discutir apoio ao governo, tampouco foi dialogado sobre indicações a cargos no governo. “Não houve consulta. Eu não tomei conhecimento, a não ser pela própria imprensa”, frisou.

O Correio entrou em contato com Fernando Marcondes ontem, mas ele disse que estava em uma reunião e desligou. A reportagem enviou mensagens via WhatsApp, mas não houve retorno.

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Regina ganha sobrevida

Ingrid Soares

Sarah Teófilo

Augusto Fernandes

07/05/2020

 

 

Em meio ao impasse sobre a permanência de Regina Duarte como chefe da Secretaria Especial da Cultura, um almoço no Planalto colocou panos quentes no assunto, ao menos por enquanto, e selou a reaproximação entre a atriz e o presidente Jair Bolsonaro. Ela apresentou as condições em que recebeu a secretaria, falou de seus planos e projetos.

De última hora, o chefe do Executivo convidou o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, que faz reiteradas críticas à atriz em seu perfil no Twitter. Ele classificou o almoço como “agradável”. Mais tarde, porém, publicou uma provocação à artista, ao dizer que não faz parte da equipe dela e que a atriz não sabia que ele iria à reunião. Ao tomar posse na pasta, Regina defendeu a demissão de Camargo.

Na semana passada, Bolsonaro disse que a secretária tinha “dificuldades”. Na ocasião, mostrou insatisfação com o fato de a atriz estar trabalhando de São Paulo. Quatro dias depois, no domingo, ela voltou a Brasília. A crise entre os dois ficou mais evidente na terça-feira, quando o governo nomeou para a presidência da Fundação Nacional das Artes (Funarte) o maestro Dante Mantovani, exonerado do cargo por Regina Duarte assim que ela tomou posse, em março. Na noite do mesmo dia, porém, o Planalto voltou atrás e tornou sem efeito a nomeação.

Ainda que a reunião marque uma reaproximação e a assessoria da secretária tenha confirmado que ela fica, ainda há rumores de uma possível saída. Ontem, um nome que entrou no radar do Planalto foi o do ator Mário Frias. Em entrevista à CNN Brasil, ele negou que tenha recebido algum tipo de convite para assumir a pasta, mas disse que aceitaria um chamado do presidente.

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Tropa militar na saúde

Bruna Lima

07/05/2020

 

 

A tomada de ações no combate à covid-19 está nas mãos de militares, que a cada dia ocupam um número maior de cargos de alto escalão no Ministério da Saúde. Quatro das cinco nomeações que saíram no Diário Oficial da União de ontem são da ala militar. A confirmação dos nomes reforça a avaliação de que o Planalto procura manter o controle sobre a pasta.

Todas as novas indicações que têm carreira militar ocupam a patente de tenente-coronel. Na direção e Gestão Interfederativa e Participativa ficará Reginaldo Machado Ramos. Marcelo Blanco Duarte é o novo assessor no Departamento de Logística. Jorge Luiz Kormann será diretor de Programa, e Paulo Guilherme Ribeiro Fernandes, coodenador-geral de Planejamento. A única que não faz parte do grupo é Emanuella Almeida Silva, que ficará na coordenação de Pagamento de Pessoal e Contratos Administrativos.

Nos bastidores, a atuação do chefe da pasta, Nelson Teich, tem sido criticada por ficar no “campo das ideias”. Assim, muitos começam a considerar o número dois da pasta, general Eduardo Pazuello, como “o verdadeiro condutor”.

Questionado sobre o escalonamento da área militar dentro da pasta, Teich foi enfático: “Os militares têm muito planejamento, trabalho em equipe, de uma coisa organizada. Isso é importantíssimo em um momento que se precisa de agilidade na execução”.