Título: Rosemary quebra o silêncio
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Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2012, Política, p. 3

A ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha resolveu se pronunciar pela primeira vez desde a deflagração da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Em nota assinada por ela e pelo advogado, Luiz José Bueno de Aguiar, Rose afirma que teve a vida devassada do dia para a noite e que é a mais interessada em provar que não teve participação em supostas fraudes em pareceres técnicos ou corrupção de servidores públicos para favorecimento de empresas privadas. Também nega ter cometido o crime de tráfico de influência e diz que nunca fez "nada ilegal, imoral ou irregular que tenha favorecido o ex-ministro José Dirceu ou o ex-presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva)", enquanto trabalhou para o PT ou para a presidência.

Afirma, ainda, que nunca soube de qualquer relação pessoal ou profissional de Lula e de Dirceu com os irmãos Paulo e Rubens Vieira, ex-diretores da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), respectivamente. Rosemary afirmou ter forte relação de amizade com Paulo Vieira há mais de 10 anos, mas disse que esses laços foram abalados pela operação da Polícia Federal. Rosemary afirmou estar perplexa com o caso. Segundo o advogado, Rose se colocou à disposição da polícia para prestar todos os esclarecimentos necessários. De acordo com o Ministério Público Federal, ela será indiciada por corrupção passiva e tráfico de influência.

"Quero dizer que todas as viagens que fiz ao exterior foram por solicitação do cerimonial da PR, em decorrência de meu cargo e função e, para isso, fiz curso no Itamaraty, não havendo, portanto, nada de irregular ou estranho neste fato", disse Rosemary. Segundo informações disponíveis no Portal da Transparência, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo viajou para pelo menos 24 países, nos últimos 10 anos, incluindo Cuba, França, Inglaterra, Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Rússia, México e Catar. Recebeu R$ 59 mil em diárias. Participou de viagens presidenciais. Em setembro de 2003, por exemplo, integrou a comitiva oficial que acompanhou Lula em visita a Havana. Em várias ocasiões, se hospedava no mesmo hotel onde o presidente e os ministros ficavam — fato incomum para funcionários abaixo do primeiro escalão. Ela foi demitida do cargo pela presidente Dilma Rousseff na manhã do último sábado, um dia após a deflagração da Operação Porto Seguro. O Diário Oficial da União trouxe a exoneração na segunda-feira. Na Operação Porto Seguro, além de Rosemary, foram indiciadas outras 18 pessoas, incluindo servidores públicos, como o ex-adjunto da Advocacia-Geral da União José Weber Holanda Alves.

Pedidos de depoimentos A oposição apresentou mais requerimentos ontem para ouvir envolvidos na Operação Porto Seguro. O PPS protocolou, na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, um pedido para convidar José Cláudio Noronha, ex-marido da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Nóvoa Noronha, a falar sobre sua nomeação para o conselho de administração de duas empresas do Banco do Brasil. Sobre o mesmo assunto, o partido pede a presença de um representante do Ministério da Educação, que teria validado um diploma falso do ex-marido. O PPS quer ouvir também o secretário executivo da Secretaria de Portos da Presidência, Mário Lima Júnior, sobre uma suposta negociação de pareceres fraudulentos.