Correio braziliense, n. 20804 , 08/05/2020. Economia, p.8

 

Fila dos R$ 600 deve chegar aos 80 milhões

Marina Barbosa

08/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Instituição Fiscal Independente do Senado calcula que o número de necessitados do auxílio emergencial ainda subirá, incluindo mais 30 milhões de pessoas num cenário otimista. No pessimista, os dependentes passarão de mais da metade da população brasileira

Mais 30 milhões de pessoas ainda devem entrar na lista de beneficiados do auxílio emergencial de R$ 600. A estimativa é da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, que acredita que o número de brasileiros aptos a receber os R$ 600 vai subir por conta do avanço do desemprego durante a pandemia do novo coronavírus, forçando o Executivo a ampliar em mais R$ 30 bilhões o orçamento do programa. Nota técnica divulgada nesta semana, a IFI lembra que 50 milhões já receberam o auxílio emergencial de R$ 600, mas estima que esse número pode chegar a, pelo menos, 80 milhões.

E esse é apenas um cenário razoável. Em uma projeção mais extrema de crise e desemprego, de acordo com a Instituição, o número de elegíveis aos R$ 600 poderia chegar até a 112 milhões — mais da metade da população brasileira —, puxando o orçamento do programa para R$ 217 bilhões.

Avaliação

Segundo o órgão de estudos do Senado, a Dataprev ainda está analisando o cadastro de quase 19 milhões de brasileiros que solicitaram o auxílio emergencial no aplicativo do programa (13 milhões de cadastros que foram, inicialmente, classificados como inconclusivos, e 6 milhões de cadastros realizados depois do dia 30 de abril). E, entre os motivos que podem ampliar o número de elegíveis aos R$ 600, estão: 1º) a possibilidade de muitos brasileiros de baixa renda não terem solicitado o recurso ainda por conta de problemas tecnológicos, como a falta de acesso à internet; e 2º) o fato de que o número de brasileiros que pode se encaixar nos critérios de concessão do auxílio emergencial subir, já que a crise da covid-19 continua pressionando o emprego e a renda da população.

A IFI diz que o “aumento do desemprego elevará o número de elegíveis” e lembra que “a trajetória da taxa de desemprego para os próximos meses ainda é incerta — assim como a duração e a intensidade da desaceleração econômica”. Hoje, a taxa de desemprego está em 12,2% e afeta 12,9 milhões de pessoas. Mas há quem diga que esse percentual pode chegar a 15%, colocando mais três milhões de pessoas na fila do desemprego.

Por isso, a IFI diz que é “razoável” considerar que o número de contemplados pelo benefício emergencial de R$ 600 vai subir de 50 milhões para 79,9 milhões de pessoas, nas próximas semanas. E calcula que isso vai elevar o orçamento do programa, que começou em R$ 98,2 bilhões e já saltou para R$ 123,9 bilhões, para R$ 154,4 bilhões. O aumento forçaria o governo a liberar, portanto, mais R$ 30,5 bilhões de crédito extraordinário para o auxílio emergencial.

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2ª parcela perto de sair

Marina Barbosa

08/05/2020

 

 

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, informou ontem que o Ministério da Cidadania aprovou o cronograma de pagamentos da segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600. Agora, as datas de pagamento só precisam do aval do presidente Jair Bolsonaro para serem anunciadas. Para evitar uma nova corrida às agências do banco, Guimarães alerta: esse pagamento não vai começar imediatamente.

“Eu e o ministro Onyx (Lorenzoni, Cidadania) praticamente acertamos. Estamos levando ao presidente Bolsonaro para ele validar. A partir do momento que ele validar, nós anunciaremos. Em breve”, prometeu o presidente da Caixa, quando questionado, em live realizada pelo canal do banco no YouTube, sobre as datas de pagamento da segunda parcela dos R$ 600, atrasada há dez dias.

Apesar de dizer que não poderia antecipar detalhes desse cronograma antes da validação de Bolsonaro, Guimarães ainda acabou dando dicas de como será paga a segunda parcela do auxílio emergencial. Ele disse que, para evitar a formação de novas filas nas agências, esse pagamento será feito de espaçadamente, com o tempo necessário para o ajuste da capacidade de atendimento à demanda da população.

“Não vamos fazer o pagamento da segunda parcela amanhã (hoje) ou no sábado. Teremos um pouco de tempo. Será feito com mais espaçamento, de acordo com o mês de nascimento”, observou Guimarães.

Ele indicou que a ideia é de pagar em um dia os trabalhadores nascidos em janeiro; depois de uns dois ou três dias, pagar os nascidos em fevereiro –– e assim por diante. Ou seja, não liberar os pagamentos de janeiro em um dia e os de fevereiro já no dia seguinte, como ocorreu na primeira parcela. Como as filas mostraram nos últimos dias, nem todos os brasileiros foram às agências no dia marcado para o saque. Por isso, os grupos de pagamento acabaram se misturando e formando aglomerações nos bancos.

E para isso tudo funcionar, lembrou Guimarães, também será preciso comunicar com calma as datas de saque, o que explica o tempo entre o anúncio e o início do pagamento da segunda parcela dos R$ 600.

“Esperamos uma grande melhora, porque nossa expectativa é de que, quando pagarmos janeiro, a maioria das pessoas que vai à agência seja de janeiro. Não dá dúvida de que algumas pessoas que nasceram em março ou junho também tentarão receber. Cerca de 30% irão, mas a maioria vai poder receber, diferentemente da semana passada, quando 60% das pessoas que foram às agências não podiam receber de maneira nenhuma. Parte daquela multidão era por essa questão”, salientou Guimarães, garantindo que entende o desespero de quem precisa dos R$ 600 para sobreviver em meio à pandemia.

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Correios ajudarão no cadastro

Marina Barbosa

08/05/2020

 

 

Os brasileiros que ainda não conseguiram solicitar o auxílio emergencial de R$ 600 poderão se cadastrar no programa indo a uma agência dos Correios, a partir da próxima semana. A possibilidade foi anunciada ontem pelo Ministério da Cidadania, com o intuito de ajudar as pessoas que têm direito ao benefício, mas não conseguiram acessar o aplicativo da Caixa.

“A partir de segunda ou terça-feira, as pessoas que têm mais dificuldade, que não conseguiram alguém ou alguma instituição que se dispusesse a auxiliar, poderão ir à agência dos Correios fazer ou refazer o cadastramento absolutamente gratuito. Os funcionários dos Correios vão ajudar as pessoas que têm mais dificuldade a obter o auxílio”, anunciou o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni.

Ele explicou que, apesar de 51,1 milhões de trabalhadores já terem solicitado os R$ 600 no aplicativo e no site da Caixa, o governo sabe que ainda há brasileiros que não pediram o auxílio emergencial por conta da dificuldade em usar os canais digitais ou da falta de acesso à internet. E, por isso, decidiu oferecer mais essa forma de cadastro.

“As pessoas que precisam de auxílio para fazer ou refazer seu cadastramento vão ter um novo canal”, salientou o ministro, que disse ter acertado essa parceria com o presidente dos Correios, o general Floriano Peixoto.

A ajuda no cadastro será oferecida pelos Correios para evitar a formação de novas filas e aglomerações nas agências da Caixa –– que continuará pagando o auxílio emergencial. “(O Correio) Não é lugar para ir receber dinheiro”, alertou.

Apesar de reconhecer a dificuldade de parte da população de baixa renda de usar os canais digitais do governo, o ministro da Cidadania garantiu que a decisão de fazer o cadastro do auxílio emergencial por um aplicativo e por um site foi acertada. Ele argumentou que 50 milhões de pessoas receberam o benefício e informou que a maior parte (37%) dessas pessoas se cadastrou pelo app da Caixa no Nordeste, região que apresenta as maiores restrições financeiras e tecnológicas do Brasil, segundo o governo. Outros 35% dos alistamentos vieram do Sudeste; 11% do Norte; 10% do Sul; e 7% no Centro-Oeste.

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Para Bolsonaro, necessitado é "barulhento"

08/05/2020

 

 

Uma “minoria barulhenta” espera o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. Dessa maneira o presidente Jair Bolsonaro classificou, na live das quintas-feiras, as pessoas que se aglomeram em filas diante das agência da Caixa, à espera do recebimento do auxílio emergencial que vem sendo pago pelo governo federal. Ao lado dele, estava o presidente do banco que faz o repasse aos necessitados, Pedro Guimarães.

“O Pedro Guimarães, presidente da Caixa, que vai falar alguma coisa sobre o pessoal que caiu em (inaudível). É uma minoria barulhenta. Uns realmente têm razão, outros se equivocaram e outros não têm direito, disse Bolsonaro, ao abrir a transmissão.

A live de ontem foi cheia de problemas de sinal, algo que o deixou irritado, a ponto de lembrar que o mesmo problema se manifestara na semana passada. Porém, antes de encerrar, o presidente disse que recebeu cerca de dez empresários, ontem, no Palácio do Planalto e ouviu vários outros em videoconferência. Segundo ele, esse grupo representa 45% do PIB e é responsável por aproximadamente 30 milhões de empregos, antes de voltar a defender a volta ao trabalho e a retomada da economia.

“Eles falaram da necessidade de voltar ao trabalho. Dizem que agora estão na UTI. A gente sabe que, depois da UTI, ou vai para casa ou vai para o repouso eterno”, insistiu.

Sobre o benefício emergencial, Guimarães disse que o pagamento para uma parcela da população, estimada entre 6 milhões e 8 milhões de pessoas, vai acontecer na próxima semana.