Correio braziliense, n. 20804 , 08/05/2020. Cidades, p.17/19

 

Dia das Mães sob encomenda

Matheus Ferrari

08/05/2020

 

 

ECONOMIA » Comerciantes buscam opções para minimizar as perdas previstas nas vendas este ano, em relação à celebração da data em 2019, e apostam em serviços on-line, delivery e drive-thru. Atendimento personalizado também surge como alternativa

O feriado do Dia das Mães, celebrado no próximo domingo, tem levado diversos setores do comércio do Distrito Federal a buscarem estratégias para minimizar os impactos da crise causada pelo novo coronavírus. Com o fechamento das lojas físicas, comerciantes depositam a maioria das fichas em vendas on-line e delivery para aproveitarem a data, que é, historicamente, a segunda maior em termos de arrecadação para o setor, perdendo apenas para o Natal. Fecham-se as portas, abrem-se os canais de comunicação. Sites, redes sociais e atendimentos personalizados são alguns dos recursos que surgem como alternativa.

O Correio ouviu comerciantes e entidades representativas de diversos segmentos, como vestuário, confeitaria, panificação, restaurantes e floriculturas, para entender como tem sido a adaptação e quais são as projeções relacionadas à festividade do segundo domingo de maio. A queda no faturamento é certa para a maioria. No entanto, o Dia das Mães deve amenizar o prejuízo em alguns casos.

Dono de uma tradicional padaria na 113 Sul, Luiz Guilherme Carvalho, 38, implementou o sistema de entrega em seu negócio durante a pandemia. Segundo ele, com a proximidade do Dia das Mães, a demanda cresceu consideravelmente. “A loja está aberta por se enquadrar nos serviços essenciais, mas os pedidos por delivery têm sido crescentes. A gente não tinha esse serviço. Havia apenas um setor de encomendas”, conta.

O empresário já projeta queda no faturamento, se comparado ao mesmo período do ano passado. No entanto, a perspectiva é de que o Dia das Mães traga, ao menos, um alento em relação às últimas semanas. “É tudo muito novo. Também estamos aprendendo sobre o comportamento do cliente. Em todo feriado, aumentávamos nosso tíquete médio em 30%. Mas, nos últimos feriados, foi como se fossem um dia normal. Não teve acréscimo nenhum de venda. Não teve um fluxo maior. É como se não houvesse data comemorativa. Mas esperamos um acréscimo de venda de 10% a 20%, em relação aos últimos dias. A Belini é conhecida pelo chá da tarde, pelo café da manhã... Isso não estamos podendo fazer. Então, o faturamento vai ser muito abaixo do que foi o ano passado”, explica.

Projeções

 O negócio de Luiz Guilherme reflete as projeções do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). A entidade espera por números muito distantes dos cerca de R$ 90 milhões arrecadados em diversos setores da cadeia produtiva com o Dia das Mães de 2019. “Os segmentos que mais vão perder são os de moda feminina, calçados, perfumes e acessórios”, projeta o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta.

No entanto, segundo Abritta, consumidores e comerciantes estão adequando-se aos meios de vender e de adquirir os produtos. “O que vai prevalecer é a venda on-line.” É o caso de uma marca brasiliense de moda feminina que está no mercado há mais de 30 anos. Com seis pontos físicos no DF, a empresa intensificou o serviço prestado por meio da loja na internet para continuar atendendo aos clientes. “Logo que começou a quarentena, a gente focou no serviço on-line, que já estava implementado, mas de modo ainda lento”, explica Daniella Naegele, fundadora e diretora de estilo da Avanzzo.

Entretanto, segundo Daniella, algumas pessoas demonstraram dificuldades em se adaptar ao mercado virtual. Com isso, a empresa implementou uma espécie de drive-thru na loja da 206 Sul. As portas da loja permanecem fechadas ao público, mas os clientes podem ir até o local buscar produtos ou tirar dúvidas sobre as peças.

“A gente sempre teve um trabalho muito forte de fidelização com o cliente. On-line é muito eficiente, mas, às vezes, as pessoas se sentem um pouco inseguras de fazer a compra ou escolher”, pontua Daniella. “Estamos testando o drive-thru para aproveitar esta semana, que é superimportante, e também dar esse suporte de a vendedora ajudar as pessoas a escolherem o melhor presente.”

Segundo a empresária, todos os profissionais envolvidos tomam medidas de prevenção para evitar possíveis contaminações pelo coronavírus. “A equipe toda está preparada. As vendedoras usam luvas e máscaras. Temos três pessoas só para organizar isso”, diz. Mesmo com todas as estratégias pontuais, Daniella projeta uma queda de 80% a 90% nas vendas, em relação ao Dias das Mães do ano passado.

Acostumada com as vendas por meio do site, a gerente de uma floricultura na 302 Sul, Luciana Cardoso, 24, ainda não sabe o que a data comemorativa do próximo domingo trará de retorno para a loja. “O nosso serviço de entrega já é muito utilizado. Pela praticidade do site, onde você pode fazer o pedido, e também pelo telefone. Mas é uma incógnita. A expectativa é de que os clientes que viriam à loja peçam para entregar. Nós nos preparamos antecipadamente. Temos muitas opções de flores, vasos plantados e arranjos. Então, a entrega pode ser boa. Mas o presencial também conta muito.”

Contraponto

 Se há quem tenha certeza das perdas com a crise, existem empreendedores otimistas. Beatriz Fernandes, 24, tem visto as encomendas por seus doces caseiros aumentarem em relação ao Dia das Mães passado. “Eu me programei para fazer bem menos do que nos outros anos. Mas estou tendo uma procura muito grande. Maior do que imaginava. Vou ter que comprar mais embalagem”, afirma. Segundo ela, o faturamento será, no mínimo, o dobro, se comparado a 2019.

A crise, no entanto, também fez a estudante de farmácia remodelar o negócio da All Sweet. “Antes, eu usava as redes sociais mais como ferramentas alternativas. Hoje, elas são meus principais instrumentos. Tento explicar tudo por lá. Faço catálogo sobre o produto, com informações sobre conservação e data de validade. Antes, não fazia entrega, vendia na faculdade. Agora, passei a fazer entrega, e meu pai, que está desempregado, virou meu entregador. Levamos álcool em gel e vamos de máscara. Tem cliente que tem medo. Mas, quando vê que tomamos os cuidados, confia”, pontua Beatriz.

A farmacêutica Mariete Cardoso do Nascimento, 36, é uma das pessoas que não deixou de preservar a tradição de presentear a matriarca da família, apesar do isolamento social. Ela encomendou alguns doces com Beatriz para fazer um carinho à mãe, mesmo que a distância. “A forma como eu vou entregar vai ser diferente. Não vai ter contato, aquele abraço. Mas nem por isso a gente vai deixar de fazer o que sempre faz”, conta a moradora do Gama.

Orientações

Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento com delivery triplicou na maioria dos estabelecimentos. Em alguns casos, a arrecadação com a entrega chega a ser quatro vezes maior, desde o início das medidas restritivas.

De acordo com a associação, os pedidos devem dobrar neste domingo. Por isso, a orientação é para que restaurantes reforcem o número de funcionários, além de aumentarem a quantidade de motoboys, para que não haja “congestionamento”. A associação também aconselha os clientes a fazerem a encomenda com antecedência. “A expectativa é de que o Dia das Mães aumente muito as vendas nos restaurantes. É uma data muito forte”, pontua Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF.

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Dinheiro dá respiro para cena local

Maria Basqui*

08/05/2020

 

 

POLÍTICA PÚBLICA » A Secretaria de Cultura e Economia Criativa divulgou mais um edital do Conecta Cultura para beneficiar prejudicados com a pandemia do coronavírus

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) divulgou, ontem, o Fac Prêmios — Cultura 60. A iniciativa faz parte do Conecta Cultura, para diminuir os impactos gerados pela covid-19 aos produtores culturais. O novo edital foi publicado no Diário Oficial do Distrito Federal.

O projeto consiste em premiar agentes culturais do Distrito Federal e Entorno que tenham contribuído positivamente com as cenas das cidades. O investimento disponibilizado pela secretaria é de R$ 2 milhões. As inscrições podem ser feitas até 25 de maio e o resultado de aprovação tem previsão para o fim deste semestre, segundo informações oficiais da Secec.

Para muitos artistas do Distrito Federal, o momento delicado de isolamento social tem gerado agravamentos em relação à renda mensal. Este é o caso da cantora Alessandra Terribilli, que vê a necessidade de projetos governamentais que apoiem os produtores culturais. “Essas iniciativas são importantes para garantir a vida material dos artistas locais que não podem mais gerar renda com couvert e ingressos de shows. Assim, todos poderão seguir as regras de isolamento social sem precisar sair de casa”, declarou.

Para se inscrever, o artista precisa acessar a plataforma on-line, enviar portfólio de trabalho e preencher o formulário em aberto. O diferencial desta ação é a permissão para a participação de artistas de rua que não tenham cadastro ativo com a Secec.

Segundo o secretário de Cultura do DF, Bartolomeu Rodrigues, a intenção é de que o projeto Fac Prêmios — Cultura 60 seja democrático e inclusivo. “Tivemos a preocupação em permitir a participação de artistas que, historicamente, não participam desses editais, devido ao caráter burocrático das inscrições. A proposta é, de alguma forma, ajudar essas pessoas, sobretudo artistas de baixa renda e que estão precisando muito de auxílio neste período”, declarou.

Diversidade

As áreas aceitas para efetivação do cadastro são artesanato, artes plásticas, audiovisual, capacitação cultural, circo, cultura digital, cultura popular, dança, design, fotografia, gestão grafite, literatura, moda, música, patrimônio histórico, produção cultural, teatro e ópera.

Serão aprovados pelo edital 500 agentes culturais que tenham ações que beneficiem, principalmente, a parcela da sociedade que está em vulnerabilidade socioeconômica. Os contemplados receberão R$ 4 mil cada. Somado ao valor de R$ 2 milhões investidos no edital divulgado em abril, FAC Apresentações On-line, a Secretaria aplicou R$ 4 milhões em áreas de cultura.

No último edital, FAC Apresentações On-line, o esperado era de até 300 inscrições. No entanto, o secretário ressalta que obtiveram, no total, 691 projetos inscritos. “Apesar de esperarmos, também para este edital, um alto número de inscrições, terão critérios de julgamento rigorosos. Todos os dados serão analisados e conferidos à risca. O agente deverá mostrar qual a contribuição para a cultura local”, afirmou Bartolomeu Rodrigues.

O chamamento atende aos requisitos impostos na Política Cultural de Ações Afirmativas. Dessa maneira, a ação visa, também, mapear e entender as principais demandas culturais da região. “Conseguiremos saber, mais ou menos, como está o cenário cultural. Não temos segurança e garantia de quando acabará a quarentena. Por isso, o leque de socorro está aberto e é para todos”, finalizou o responsável pela pasta.

Para o ator João Campos, de 35 anos, as ações da Secretaria são de grande importância visto que, para ele, o setor artístico é um dos mais impactados pelos desdobramentos do vírus. “A cultural é um dos primeiros a ser afetado e muito provavelmente será um dos últimos a retomar as atividades. Esses editais vieram para tapar essas lacunas, para colaborar não só com os agentes culturais, mas com a população que consome conteúdo”, disse o artista.

*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

Iniciativas

Ações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa até agora na pandemia:

• FAC Apresentações On-Line: O objetivo do primeiro edital do Conecta Cultura foi a seleção de projetos artísticos on-line para receberem apoio financeiro do FAC em diversas áreas culturais.

• Capacitações on-line: Estão disponíveis oficinas virtuais a respeito dos principais instrumentos de fomento à cultura do DF, como o Fundo de Apoio à Cultura e o Lei de Incentivo à Cultura (LIC). O conteúdo pode ser acessado pelo site da Secec.

• Rolê Cultural: Ação que disponibiliza visitas virtuais guiadas por espaços culturais e museus da Secretaria de Cultura, como o Catetinho, Museu da História Candanga e o Centro Cultural Três Poderes.

Frases

“Todas as iniciativas para sanar dificuldades são válidas. Mas acho que as regras devem atender a todos os artistas de forma menos burocrática.”

Japão, Viela 17

“Esse tipo de iniciativa mostra que a Secretaria de Cultura está atenta aos anseios e necessidades dos produtores culturais. Eu fico muito feliz em ver a secretaria agindo nesse sentido. Esse olhar cuidadoso e atento da secretaria é muito importante.”

João Campos, ator

“A realidade apresenta um cenário cheio de incertezas sobre qual rumo garantirá os artistas e produtores culturais de nossa cidade diante da pandemia. Por isso, contamos muito com a competência do atual secretário de Cultura que tem se mostrado preocupado com a classe artística do DF.”

Alberto Salgado, cantor

“Acredito que ainda podemos ter mais do que esses editais, pois o baque é muito grande para os profissionais do setor. Foi um dos primeiros a paralisar e será o último a voltar.”

Barata, DJ

“Achei a ideia dos editais incrível. Esse processo de votação será simplificado e o processo, mais ágil. Isso é muito importante!”

Pedro Batista, produtor cultural

“Nesse cenário quase distópico, toda e qualquer ação que garanta o mínimo de dignidade para as pessoas, como comida e teto, são importantes. Vejo com bons olhos ainda que não abarquem os  desalentados.”

Dayse Hansa, produtora e gestora cultural

“Iniciativas como essas são importantes. Muitos agentes estão desamparados e precisam dessa fomentação da cadeia cultural.”

Esdras Nogueira, músico

“Acho a inciativa da Secretaria de Cultura necessária e vejo, sim, a possibilidade de participar de algum edital dessa natureza, dependendo do tempo que ainda durar a quarentena e a ausência de shows presenciais.”

Emília Monteiro, cantora