Correio braziliense, n. 20805 , 09/05/2020. Política, p.6

 

Deputado do Centrão é investigado

Sarah Teófilo

09/05/2020

 

 

PODER » Sebastião Oliveira, do PL, foi alvo de pedidos de busca e apreensão em operação que mira desvios de recursos destinados à obra de requalificação da BR-101, no Recife

O deputado federal Sebastião Oliveira (PE), do PL, partido que integra o Centrão, foi alvo, ontem, da segunda fase da Operação Outline, da Polícia Federal, que mira desvios de recursos públicos destinados à obra de requalificação da BR-101, na região metropolitana de Recife, com contrato de mais de R$ 190 milhões. A reportagem apurou que a PF fez buscas e apreensão em endereços do deputado em Brasília e Pernambuco.

O parlamentar é ligado a Fernando Marcondes de Araújo Leão, nomeado como diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), na última quarta-feira, após indicação do Centrão. O órgão tem um orçamento de R$ 1,09 bilhão. Na época em que Sebastião Oliveira era deputado estadual, ele apresentou um projeto, em 2012, para dar a uma escola estadual o nome do pai de Marcondes, Pedro Leão Leal, um político da região. A nomeação no Dnocs marcou a aliança entre o presidente Jair Bolsonaro e os partidos do Centrão.

A maior parte dos recursos da obra, alvo de investigação da PF, é oriunda de repasses do governo federal ao Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE). Conforme relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a obra vinha sendo executada com materiais de baixa qualidade e pouca durabilidade, em especial o asfalto. O contrato foi firmado na época em que Sebastião Oliveira era secretário de Transportes do estado.

Segundo a PF, na primeira fase da operação foram apreendidos documentos e arquivos digitais que revelaram a contratação de empresa fantasma e outras provas dos desvios. Também foram encontradas evidências de que a Secretaria de Transporte do estado, atualmente extinta, "teria sido condescendente com as fraudes", de acordo com a polícia.

Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão e dois de prisão temporária expedidos pela Justiça Federal de Pernambuco. Também foi decretado o sequestro de bens imóveis, pertencentes aos investigados em Recife e Gravatá (PE).

Os investigados podem responder por peculato, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. As penas somadas podem ultrapassar os 40 anos de reclusão. A reportagem tentou contato com o deputado federal, mas sem sucesso.

 Concentração
Apesar de ter criticado amplamente a troca de cargos por apoio político, Bolsonaro tem se aproximado dos partidos do Centrão após se ver isolado, em meio a recorrentes crises políticas, sem articulação no Congresso e com pedidos de impeachment. As nomeações dos últimos dias estão concentradas em Pernambuco.

Novo diretor do Dnocs, Fernando Marcondes de Araújo Leão estava na gerência-geral do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Pernambuco. Ele foi filiado ao PTB, de Roberto Jefferson, por 32 anos, tendo saído no último dia 16 de abril. Em março, foi para o Avante. A filiação ocorreu no dia em que deixou o PTB.

Ligado ao Republicanos, o advogado Tiago Pontes Queiroz foi nomeado secretário Nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional. Ao Correio, o presidente nacional do partido, o deputado federal Marcos Pereira (SP) disse, na última quinta-feira, que a nomeação foi acertada pelo líder do partido com a bancada. O parlamentar pontuou que as tratativas relativas aos cargos são entre o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, e os líderes de bancadas, e por isso não sabe como se deu a escolha do cargo no MDR.

Também na última quinta, Bolsonaro indicou para a função de vice-líder do governo o deputado federal Evair Vieira de Melo (ES), do PP, e retirou da posição o parlamentar Herculano Passos (SP), do MDB.

 R$ 190 milhões
Valor do contrato da obra, firmado em 2017

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Regina recebe apoio e crítica

Ingrid Soares

Simone Kafruni

09/05/2020

 

 

As atitudes da secretária nacional de Cultura, Regina Duarte, que cantou a marcha da ditadura e desdenhou das mortes e torturas praticadas durante o regime militar, em entrevista à CNN Brasil, causou controvérsia e repercutiu nas redes sociais. Enquanto o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o general Eduardo Villas Boas, ex-chefe do Exército, saíram em defesa da atriz, ex-colegas artistas postaram críticas às posições dela.

Marcelo Álvaro Antônio irritou-se ao ser perguntado sobre o assunto. "Acho que a gente precisa focar mais naquilo que é relevante para o Brasil. A Regina participou de uma entrevista que eu acho que foi feita de uma forma inadequada. Não precisava daquele tom, daquele nível. Vou me abster de fazer comentários."

O general Eduardo Villas Boas elogiou a postura da atriz pelas redes sociais. "Fiquei encantado com a Regina pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia, inteligência, humildade, segurança, doçura e autoconfiança que nos transmitiu", escreveu nas redes sociais. E prosseguiu: "Apreciei a firmeza com que reagiu à desleal tentativa (dos jornalistas) de confrontá-la com a artista Maitê Proença".

 Perplexa
Entre colegas, as críticas inundaram a internet. Maitê Proença, cujo vídeo com perguntas a Regina desencadeou o "chilique" (como a própria secretária se referiu ao ataque que teve ao vivo), participou de uma live, ontem, com a diretora e produtora Adriana Dutra e contou o que aconteceu.

"A CNN me pediu, como a Regina foi lá conversar, para ver como ficava a situação da Cultura, porque acho que está na hora de fazer alguma coisa como classe. Acho que ela não quis ouvir. Presumiu que era coisa do passado", explicou. No vídeo que seria passado para Regina e que está nas redes sociais de Maitê, a atriz afirma que "a Cultura está perplexa" com a falta de informações.

"Estamos sobrevivendo de vaquinhas. Até quando isso vai se sustentar. São poucos os que têm reserva financeira para milhares que estão à míngua. Enquanto isso, morrem gigantes como Rubem Fonseca, Moraes Moreira, Aldir Blanc e Flávio Migliaccio, e nenhuma palavra do presidente e nenhuma palavra da secretária. Fale com sua classe, Regina, precisamos de você", diz, no vídeo. Na live de ontem, Maitê lamentou que não exista diálogo com o governo. "O que tem é cala boca para cá e cala boca para lá", criticou.

Filha de Regina Duarte, a atriz Gabriela Duarte recebeu uma enxurrada de apelos de internautas para que interdite a secretária. Outros artistas também se manifestaram nas redes. A cantora Anitta fez duras críticas no perfil da secretária no Instagram. "Uma pessoa que aceita assumir a Secretaria de Cultura está aceitando trabalhar para o povo. Isso significaria escutar também os lados que pensam diferente da senhora e colocar sua posição sobre a questão. Se recusar a ouvir uma opinião contrária logo depois de enaltecer os tempos de ditadura me causa muito medo", postou.

Walcyr Carrasco, escritor e dramaturgo, lamentou a transformação da atriz em secretária. "Regina, você foi minha amiga e abriu portas no início da minha carreira. Por isso, dói muito vê-la neste novo papel de secretária. Fiquei chocado quando, na entrevista, você simplesmente achou normais as mortes e chancelou a tortura. O que aconteceu com você, Regina?", indagou.

O ator Bruno Gagliasso postou uma foto da entrevista e escreveu que não dá para desculpar o deboche com os torturados pelo Estado, a arrogância ao dar de ombros às minorias, o silêncio, a falta de projetos e a forma como a secretária trata os trabalhadores do audiovisual brasileiro. "Não dá para desculpar sua falta de diálogo com a categoria, a sua estupidez com jornalistas e ex-colegas de trabalho. Não dá para desculpar a preferência que a senhora tem por ditadores, genocidas, irresponsáveis."

"Fiquei encantado com a Regina pela demonstração de humanismo, grandeza, perspicácia, inteligência, humildade, segurança, doçura e autoconfiança que nos transmitiu"

Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército