O globo, n. 31650, 02/04/2020. Especial Coronavírus, p. 5

 

Corrida contra o relógio

Lucas Altino

André de Souza

02/04/2020

 

 

País prepara 20 mil novos leitos para enfrentar covid-19 

GABRIEL MONTEIROPreparação. Montagem de hospital de campanha ao lado do estádio do Maracanã, no Rio

Enquanto o novo coronavírus avança pelo país, governos e iniciativa privada correm contra o tempo para ampliar o número de leitos. Um levantamento realizado pelo GLOBO, com base nas secretarias estaduais de saúde e dados compilados pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, destaca que, nos últimos dois meses, o número de leitos de UTI do SUS aumentou 26,2%, acrescentando 8,2 mil vagas às 31,3 mil já existentes. Já are dede enfermarias ganhou 11,7 mil leitos, um incremento de 4% sobre o que havia dois meses atrás.

Especialistas reconhecem que é difícil medir se a expansão da rede hospital a ré suficiente, já que a evolução do novo coronavírus ainda é imprevisível. Mas a situação é crítica. Uma estimativa do Ministério da Saúde atesta que 17 unidades da federação têm mais de 70% dos seus leitos ocupados. Por isso, seria preciso criar mais de 1,6 mil leitos de UTI e mais de 22 mil leitos comuns nos próximos 30 dias.

Para a professora da UFRJ Lígia Bahia, um dos que vários dos novos leitos são, na verdade, adaptações de estruturas usadas em outros tipos de tratamento.

—Porquanto tempo poderemos segurara suspensão de uma cirurgia eletiva? Em algum momento teremos problemas, porque os demais pacientes precisarão começar seu tratamento —alerta.

— Dos leitos extras, quantos de fato são novos? E haverá reforço de pessoal para esses hospitais de campanha?

Tânia Vergara, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia no Rio, reforça que a atual oferta de leitos não dá conta do atendimento às pessoas que serão infectadas:

—Temos que fazer leitos extras, preferencialmente em espaços grandes onde já existem um mínimo de infraestrutura, como no Maracanã. Sabemos que não haverá a construção de um hospital do zero, como ocorreu na China.

INICIATIVA PRIVADA

São Paulo instalará vagas no estádio do Pacaembu. O Rio Grande do Sul vai acelerar a inauguração de leitos já previstos antes da epidemia. O Amazonas ampliou suas vagas de UTI em 350 leitos e vai disponibilizá-las “conforme o avanço da doença”.

A rede privada também se mobiliza para aumentar vagas diante da alta demanda. Um grupo de empresas do Rio fará um hospital de campanha com 200 leitos para pacientes do SUS, em um terreno do estado ao lado do 23º Batalhão da PM, na autoestrada Lagoa-Barra. Ficará pronto até o fim do mês.

—Temos visto uma rede de apoio se mobilizando — diz o secretário estadual de Saúde do Rio, Edmar Santos.

Paulo Moll, presidente da Rede D'Or (que bancará R$ 25 milhões dos R$ 45 milhões), destaca a soma de forças entre poder público e setor privado, e Vinicius Albernaz, presidente da Bradesco Seguros, diz que é hora de “atuar com prontidão”.

— Essa união de esforços é fundamental, sobretudo porque os recursos serão totalmente destinados à rede pública de saúde — explica Alberto Corsetti, presidente do Banco Safra.

Segundo a presidente do instituto que reúne a indústria de óleo e gás, o IBP, Clarissa Lins, essa colaboração é importante em um momento crítico. Já Anna Saicali, CEO da IF, braço de inovação das Lojas Americanas, afirma que “o melhor caminho é investir na saúde das pessoas”.

Estudo divulgado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) atenta que o Brasil tem 15,6 leitos por UTI para cada 100 mil habitantes. No SUS, são 7,4. OMS recomenda dez leitos para cada 100 mil habitantes.

— É importante valorizar o trabalho das centrais de leitos, para que se dê atendimento a portadores de Covid-19 e também de outras doenças —diz o pesquisador Adriano Massuda, um dos autores.