Título: Ex-presidente está indignado, diz ministro
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 13/12/2012, Política, p. 4

Gilberto Carvalho afirma que Lula não teme as denúncias de Marcos Valério

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, rebateu ontem as acusações feitas pelo empresário Marcos Valério, o operador do mensalão. Amigo de Luís Inácio Lula da Silva, Carvalho relatou que o ex-presidente está "indignado". "Ele está sem nenhum medo, só profundamente indignado com a atitude desse senhor e impressionado com a credibilidade que, de repente, esse que era uma espécie de fábrica de males, passou a ser agora tido como um legítimo e digno acusador", disse Gilberto. "Esse senhor nos causou males suficientes para continuar tentando atacar pessoas que só fazem bem e que querem continuar construindo esse país", disse.

Carvalho, que foi chefe de gabinete durante os oito anos em que Lula ficou no Planalto, também negou a existência de pagamentos de despesas pessoais do ex-presidente por meio do esquema. "Não é verdade que ele pagou nenhuma despesa do presidente Lula, não havia nenhuma necessidade disso", rebateu. Segundo o ministro, quem se envolveu com o empresário já foi penalizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "Se houve erros de membros do nosso partido na relação com o Marcos Valério, esses erros já foram devidamente julgados e devidamente penalizados. Querer tentar atingir o presidente Lula por meio de uma campanha baseada num gesto de desespero oportunista desse cidadão é, a meu juízo, uma indignidade", criticou.

Inconsistências Em uma tentativa de desqualificar as acusações, o ministro insinuou haver inconsistências no depoimento do empresário. "Ele erra inclusive a geografia interna, que é um detalhe, mas os detalhes também contam aqui no Palácio (do Planalto)." No relatório da Procuradoria Geral da República, consta que Marcos Valério disse que, após reunião com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, subiu uma escada para ir ao gabinete do então presidente Lula. O gabinete da Casa Civil fica no quarto andar do Palácio do Planalto, e o da Presidência, no terceiro. "O que esse senhor tem revelado, particularmente naquilo que diz respeito ao presidente Lula, é de uma falácia, de uma falsidade impressionante (...) tanto nos detalhes quanto no conteúdo mais profundo", disse.

Outros petistas saíram em defesa do ex-presidente ontem. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que o depoimento de Valério não tem valor jurídico. "É uma peça produzida por uma pessoa processada e condenada a muitos anos de prisão. Foi feita exclusivamente na tentativa ou de tumultuar o processo ou de negociar a redução da pena", declarou. O presidente do PT, Rui Falcão, publicou vídeo conclamando a militância a "expressar sua indignação" ao que chama de "sucessão de mentiras envelhecidas". Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, as acusações "deveriam ser analisadas com mais cuidado".

Decisão adiada

A decisão sobre a cassação dos mandatos de deputados condenados pelo Supremo Tribunal Federal, prevista para ontem, foi adiada para a sessão desta tarde. A mudança ocorreu por conta da ausência do decano da Corte, Celso de Mello, o único ministro que ainda não se pronunciou sobre o tema, empatado em 4 a 4. Segundo a assessoria de imprensa do STF, Celso teve uma gripe forte e não foi à Corte — os demais ministros aproveitaram a sessão para apreciar outros assuntos. Diante das declarações do presidente da Câmara, Marco Maia, de que a Casa poderia não cumprir a determinação do Supremo, Marco Aurélio Mello disse que essa seria uma atitude grave. "Se ele não observar o título emanado do Supremo, é o fim, é a babel", decretou o ministro, que voltou a defender a abertura de investigações contra o ex-presidente Lula. "A simples notícia de uma prática criminosa já sugere abertura de investigação". Em visita ao Congresso ontem, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia negaram que haverá crise institucional entre o Judiciário e o Legislativo no caso de os magistrados se decidirem por cassar o mandato dos três deputados condenados no processo do mensalão.