Correio braziliense, n. 20807 , 11/05/2020. Brasil, p.5

 

Bolsonaro erra, mortes sobem

Alessandra Azevedo

Marina Barbosa

11/05/2020

 

 

Total de óbitos passa dos 11 mil e fecha um final de semana no qual a pandemia do coronavírus ceifou a vida de 1.226 brasileiros. Número de infectados está além dos 162 mil casos, e país se consolida como o sexto no mundo em que mais pessoas morreram

O Brasil superou 11 mil mortes pela covid-19, ontem, conforme mostra o balanço mais recente do Ministério da Saúde. O número chegou a 11.123, com a confirmação de mais 496 vítimas fatais nas últimas 24 horas. No sábado, havia 10.627 óbitos registrados.

O Correio fez um levantamento mostrando que Jair Bolsonaro vem errando, sistematicamente, nos seus comentários sobre a pandemia no Brasil. A cada observação que fez, desdenhando do avanço do coronavírus, os números de mortes foram aumentando. Apesar de o Ministério da Saúde ter alertado –– sobretudo durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta –– que a linha de casos era de alta, os gestos e as palavras do presidente seguiram na direção inversamente contrária, como se o fato de menosprezar o problema tivesse o condão de fazer os óbitos e infecções refluírem.

O Ministério contabilizou 1.226 novos registros de mortes no país em decorrência da covid-19 apenas neste fim de semana. Além disso, confirmou ontem mais 6.760 casos da doença. O total de infectados, com isso, chega a 162.699. Eram 155.939 no sábado.

O número de mortes registradas nas últimas 24 horas não é necessariamente o de óbitos ocorridos nesse período, porque é preciso considerar o intervalo de tempo entre o registro e a confirmação de que a pessoa estava com o novo coronavírus.

Com números crescentes, o país é o sexto com mais vítimas fatais pelo novo coronavírus no mundo, atrás de Estados Unidos (69,9 mil), Reino Unido (31,2 mil), Itália (30,2 mil), Espanha (26,3 mil) e França (26,2 mil). O levantamento é da Universidade Johns Hopkins, que acompanha a evolução da pandemia em tempo real.

A taxa de letalidade no Brasil — ou seja, a proporção de casos que resultam em morte — é de 6,8%. Significa que, a cada 100 pessoas infectadas, sete morreram. São Paulo continua sendo o epicentro da doença no país, com 45.444 casos e 3.709 mortes. Dos óbitos registrados, nas últimas 24h, 101 ocorreram no estado, com a confirmação, de sábado para domingo, de 1.033 diagnósticos da covid-19.

O Rio de Janeiro vem logo depois, com 1.714 óbitos –– 61 registrados nas últimas 24 horas –– e 17.062 casos. O Ceará, em terceiro na lista, conta 1.114 mortes, 52 novos entre sexta e sábado, e 16.692 infectados.

A lista segue com Pernambuco (13.275 casos e 1.047 vítimas fatais); Amazonas (1.004 óbitos e 12.599 confirmações de diagnóstico); e Pará (652 mortes e 7.256  registros). O levantamento do Ministério da Saúde aponta 42 mortes e 2.682 casos no Distrito Federal.

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Outra infecção avança: sarampo

Fernanda Strickland*

Marisa Wanzeller*

11/05/2020

 

 

Ao mesmo tempo em que o país luta contra a pandemia do novo coronavírus, tem que enfrentar uma epidemia de sarampo. Isso porque, atualmente, 19 estados estão com circulação ativa do vírus da doença. Em apenas uma semana, o número de casos confirmados saltou 18%, segundo o Ministério da Saúde.

De acordo com o boletim epidemiológico emitido pela pasta em abril, o maior número de casos confirmados de sarampo concentra-se no Pará, com 970 pessoas infectadas, sendo 23,1 casos a cada 100 mil habitantes. Apenas neste ano, 8.325 casos suspeitos foram notificados ao ministério e, desses, 2.805 estão confirmados –– outros 3.856, que representam 46,3% das notificações, seguem em investigação. A recomendação é de que todas as crianças, a partir dos seis meses de idade, sejam vacinadas.

O maior número de registros confirmados está em pessoas entre 20 e 29 anos de idade, com incidência de 5,2 por 100 mil. Entretanto, a maior infecção por faixa etária está em menores de cinco anos, sendo 13,1 casos a cada 100 mil habitantes.

Quatro óbitos pela doença foram registrados neste ano em três estados brasileiros: uma criança de 13 meses, não vacinada e portadora de encefalopatia, morreu na capital paulista; em Nova Iguaçu (RJ), a vítima tinha oito meses de idade, não era vacinada e estava em um abrigo do município; e, em Belém, os casos fatais foram de uma criança de um ano e seis meses de idade e de uma criança indígena, de cinco meses, com caso de desnutrição –– ambas não eram vacinadas.

Segundo a infectologista Ana Helena Germoglio, a transmissibilidade do sarampo é ainda maior do que a da covid-19. “Uma pessoa infectada pelo novo coronavírus infecta de duas a cinco pessoas, em média. A transmissibilidade do sarampo varia de 15 a 18 pessoas. Agora que, em tese, estamos em isolamento social, era para haver uma transmissão menor”, cobrou.

Ana Helena critica o fato de as vigilâncias epidemiológicas estarem voltadas apenas para a covid-19, deixando de lado “outras doenças que são tão ou mais graves”. “A população fica com medo de sair de casa para a vacinação, que é a principal forma de contenção desse vírus”, analisa a médica.

Após três anos da erradicação do sarampo, em 2019 o Brasil perdeu o certificado de país livre da doença, concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Neste ano, o Ministério da Saúde estabeleceu metas para recuperar a certificação dentro do Movimento Vacina Brasil.

Desde agosto de 2019 o Ministério adotou a estratégia da dose zero de vacinação contra o sarampo para as crianças de todo Brasil, entre seis e 11 meses de idade, para evitar casos graves e óbitos pela doença. Ainda de acordo com o relatório da pasta, as secretarias estaduais de saúde informam que todas as medidas de prevenção e controle estão sendo realizadas.

* Estagiárias sob supervisão de Fabio Grecchi