O Estado de São Paulo, n.46206, 20/04/2020. Política, p.A5

 

Ministros do Supremo e políticos repudiam ato

Rafael Moraes Moura

Pedro Venceslau

20/04/2020

 

 

Marco Aurélio diz que manifestantes são ‘saudosistas inoportunos’; para Maia, brasileiros devem lutar contra ‘vírus do autoritarismo’

Ministros do Supremo Tribunal Federal repudiaram o ato que pediu intervenção militar, fechamento do Congresso e deposição de governadores, do qual o presidente Jair Bolsonaro participou ontem. Políticos classificaram a atitude do presidente como “incentivo à desobediência” e “escalada antidemocrática”.

O ministro Marco Aurélio Mello chamou os manifestantes de “saudosistas inoportunos”. “Os ares são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão maior”, afirmou o ministro. “Conheço os militares. Observam a disciplina, a hierarquia e não apoiam maluquices. Não sei onde o capitão está com a cabeça”, disse Marco Aurélio, em referência à participação de Bolsonaro na manifestação.

O ministro Luís Roberto Barroso disse que é “assustador” ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Já Gilmar Mendes declarou que invocar o AI-5 é “rasgar o compromisso com a Constituição”.

Parlamentares, presidentes de partidos e governadores também se posicionaram contra as manifestações e a ida de Bolsonaro ao ato. Além de criticarem o motivo do protesto, líderes políticos lembraram que o presidente, mais uma vez, incentivou a aglomeração de pessoas, algo que não é recomendado pelas autoridades de saúde.

Alvo recente de ataques de Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a população precisa lutar contra “o coronavírus e o vírus do autoritarismo”. “É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”, escreveu o parlamentar.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) classificou como “lamentável” a atitude de Bolsonaro. “É hora de união ao redor da Constituição contra toda ameaça à democracia. Ideal que deve unir civis e militares; ricos e pobres.”

Líder do Podemos no Senado, Álvaro Dias (PR) viu a ida do presidente a um protesto como um “estímulo à desobediência”. “Fica difícil aceitar essa transferência de responsabilidade para o Congresso do fracasso do governo federal”, afirmou o senador. Presidente do Cidadania, Roberto Freire declarou que STF e Congresso “devem ficar em posição de alerta” contra o que considera uma escalada antidemocrática.

'Maluquices' 

“Conheço os militares. Não apoiam maluquices. Não sei onde o capitão (Bolsonaro) está com a cabeça.”

Marco Aurélio Mello

MINISTRO DO SUPREMO