Título: Jovem, negra e feminina
Autor: Caldas, Simone
Fonte: Correio Braziliense, 13/12/2012, Economia, p. 18

A nova classe média brasileira é jovem, negra e formada majoritariamente por mulheres. Movimenta R$ 1 trilhão por ano, alimenta valores como laços de amizade com a vizinhaça e não tem a pretensão de se tornar membro da elite. O empresário que quiser conquistar essa parcela da sociedade terá que entender as suas peculiaridades e falar a sua língua. As conclusões são do sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular, Renato Meirelles. Ele participou ontem do Fórum Novo Brasil — Desvendando a Classe Média, promovido, em Brasília, pelo Correio.

O controle da inflação e o aumento real da renda, principalmente do salário mínimo, criou um forte mercado consumidor formado por 104 milhões de pessoas, o equivalente a 52% da população. A faixa etária entre 18 e 30 anos se tornou tão importante nesse contexto que já não pode ser vista como segmento. Segundo Renato Meirelles, “ela é o verdadeiro mercado”. Movimenta R$ 100 bilhões por ano e consome, principalmente, produtos eletrônicos e lazer. Para cada jovem da classe alta, existem quatro da classe C. Além de ter mais anos de educação que seus pais, contribuem cada vez mais com a renda familiar, levam para casa R$ 71 de cada R$ 100 produzidos pela família.

Os negros e as mulheres também passaram a ocupar um lugar central. De cada 10 pessoas da classe média, oito são negras. E 41% da renda desse contingente são geradas por elas. A pesquisa da Data Popular mostra ainda que as mulheres definem como será gasto o dinheiro da família. Decidem qual alimentação (86%), carro (69%) e computador (56%) comprar. “Muitos pensam que são os homens que escolhem um veículo mais potente, mas, na verdade, são elas”, ressalta Meirelles.

Outra característica da nova classe média destacada na fórum é o otimismo. Seis em cada 10 pessoas acreditam que a vida melhorou nos últimos anos, e oito em cada 10 têm certeza de que, em 2013, as coisas estarão ainda melhores. Esse é o espírito que precisa ser captado pelo empresariado. Os brasileiros da classe C não buscam exclusividade ou coisas intangíveis, como um iPod que armazena 10 anos de música. Elas são práticas, focadas e querem produtos de qualidade e bons serviços.