Título: Juro menor é insuficiente
Autor: Cristino , Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2012, Economia, p. 13

Os juros no menor patamar histórico dos últimos 18 anos deveriam estar contribuindo para que os consumidores conseguissem colocar as suas contas em dia. Mas não é isso o que vem acontecendo. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, enquanto a taxa para as pessoas físicas cai sistematicamente nos últimos oito meses — batendo em 35,4% ao ano em outubro —, a inadimplência permanece estacionada em 7,9% há pelo menos seis meses, sem dar mostras de que vai recuar.

O chefe do Departamento Econômico do BC (Depec), Túlio Maciel, acredita, no entanto, que essa taxa caia até o fim do ano, porque, não apenas a queda dos juros ajuda, mas, principalmente, o ganho real de renda, da ordem de 6% no ano, é o fator preponderante. Só que Maciel vem repetindo esse mantra há pelo menos três meses, e o percentual das operações contratadas em atraso há mais de 90 dias não dá sinais de que vai sair do lugar. É certo que parou de crescer, especialmente no financiamento de veículos, que a entidade reguladora considera o vilão da história.

Nos dados divulgados pelo BC é fácil constatar a mudança de hábitos do consumidor. O uso do cheque especial, que vinha crescendo a uma taxa de 16% em 2011, tteve recuo de 1,6% em 12 meses. Mesma coisa vem ocorrendo com o cartão de crédito. No ano passado, o aumento das compras parceladas e também do rotativo foi da ordem de 22%. Nos últimos 12 meses, está em 2,4%. Enquanto isso, o crédito pessoal, mais barato, cresce 13,7% no ano e 15,4% em 12 meses.

Bancos A redução das taxas de juros praticadas pelos bancos só começou depois que o próprio Banco Central deu início à redução da taxa básica de juros (Selic). De agosto do ano passado até outubro deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou-a em 5,25 pontos percentuais, de 12,5% para 7,25% ao ano. A queda foi interrompida na reunião do Copom deste mês. Já os bancos, notadamente os públicos, só começaram a se mexer a partir de abril deste ano, depois que a própria presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, passaram a pressionar o setor.

Enquanto os juros e os spreads bancários caem, o volume de crédito à disposição de empresas e pessoas físicas aumenta. O estoque total alcançou R$ 2,269 trilhões em outubro, com aumento de 1,4% em relação a setembro e de 16,6% em 12 meses. Essa montanha de dinheiro à disposição do público já equivale a 51,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

» Mais crédito consignado

As operações de crédito consignado realizadas por aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) cresceram 43,26% em outubro, alcançando R$ 2,8 bilhões. Em setembro, devido à greve dos bancários, os segurados tinham conseguido pegar apenas R$ 1,9 bilhão nos bancos. Na comparação com outubro do ano passado, o aumento no valor das operações contratadas foi de 33,88%. Os dados foram divulgados ontem pela Previdência Social. Por lei, os aposentados e os pensionistas do INSS podem comprometer com o desconto em folha até 30% da remuneração líquida. As prestações estão limitadas ao prazo de 60 meses.