Título: Vitória da Palestina
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Fonte: Correio Braziliense, 30/11/2012, Mundo, p. 16
Em um dia histórico para os palestinos, a Assembleia Geral das Nações Unidas elevou ontem o status da Palestina para Estado observador não membro. No Dia Internacional da Solidariedade à Palestina, dos 188 países que votaram, 138 — inclusive o Brasil — disseram sim à proposta do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas. A medida foi rejeitada por nove nações, entre elas Israel e Estados Unidos, e 41 se abstiveram. Em um resoluto discurso, Abbas pediu uma "certidão de nascimento" à Palestina e, por várias vezes, criticou o que chamou de "agressão" de Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, não tardou na resposta e classificou a fala de "hostil e venenosa".
Logo depois da votação, o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota felicitando a Palestina, mas instou as partes a retomarem o diálogo. "O Brasil reitera seu apoio à retomada imediata de negociações entre Israel e Palestina que conduzam ao estabelecimento de uma paz sustentável e duradoura, baseada na solução de dois Estados", afirmou a nota. Ao defender a posição contrária de seu país, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, declarou que a resolução "cria obstáculos" à paz.
Ao entrar no plenário da Assembleia Geral, em Nova York, para defender seu pedido, Abbas foi ovacionado. Ele lembrou a recente campanha militar de Israel na Faixa de Gaza depois que militantes do Hamas, o grupo islâmico que governa o território, disparou foguetes contra cidades israelenses. "Vidas inocentes têm sido tomadas por bombas israelenses", disse. Mas o presidente, também líder do Fatah, partido que controla a Cisjordânia, também falou em esperança e disse que o povo palestino acredita no fim do conflito. "A Palestina veio à ONU porque crê na paz", afirmou.
O presidente da AP lembrou que, 65 anos atrás, a Assembleia Geral da ONU adotou a resolução nº 181, que dividiu a Palestina em dois estados. "Agora, a Assembleia Geral enfrenta um dever moral que não pode ser adiado. Ela está convocada a expedir uma certidão de nascimento do Estado da Palestina. Chegou a hora de o mundo dizer não à ocupação da Palestina", disse o líder, interrompido várias vezes com salvas de palmas. Logo depois de seu discurso, o gabinete do primeiro-ministro israelense divulgou um comunicado rebatendo o pronunciamento e o classificando de "hostil e venenoso" e de "propaganda falsa". "Essas não são palavras de um homem que não quer a paz."
Substituindo Abbas no plenário, o embaixador de Israel na ONU, Ron Prosor, alertou que a resolução não garante a segurança de seu país nem a conclusão do conflito. O diplomata afirmou que o presidente palestino não reconhece o Estado judaico e ironizou. "Presidente Abbas, você nem pode visitar a metade de seu país, porque ele está controlado pelo Hamas, uma organização terrorista", disse. Depois das eleições de 2007, Fatah e Hamas romperam e passaram a dividir o comando dos territórios.
Retaliação
O novo status da Palestina, até então uma "entidade" observadora da ONU, permitirá o acesso a organismos internacionais e ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Na noite de anteontem, representantes de Washington se reuniram em Nova York com o palestino para instá-lo a desistir da votação. Os dois países sugeriram que poderiam promover cortes em doações à Cisjordânia. Ontem, um grupo bipartidário de senadores americanos fez a mesma ameaça.
Horas antes da votação, Netanyahu havia declarado que o aval da ONU "não mudará nada no terreno". O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, garantiu que nenhum acordo concluído com palestinos seria anulado. Posição que, segundo o diretor do Programa de Estudos de Oriente Médio da Universidade de Massachusetts/Amherst (EUA), David Mednicoff, demonstra o esforço do país em minimizar a medida. Para o analista, a aprovação do pedido de Abbas favorece a estratégia de Israel de afirmar que os palestinos não pretendem negociar com seu governo e que representam uma ameaça à sua segurança. "O novo status político palestino permite a Netanyahu manter essa estratégia", afirmou Mednicoff ao Correio.