Título: Cotação a R$ 2,30
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2012, Economia, p. 7

A maior disposição do governo em usar a alta do dólar para estimular a economia coloca o Banco Central (BC) em uma encruzilhada. Quanto mais a autoridade monetária permitir que a moeda norte-americana suba para impulsionar o crescimento, maior será a sua dificuldade de controlar uma inflação já galopante ao consumidor. Economistas ouvidos pelo Correio foram enfáticos ao afirmar que uma alta de 10% na cotação do dólar provocará uma elevação que pode variar entre 0,3 e 0,5 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

“Não será tarefa fácil administrar um impacto dessa magnitude em uma inflação que, em 2013, deverá encerrar o ano em torno de 5,5%”, diz o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências. O governo tem como meta entregar uma inflação de 4,5% ao ano, com uma tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.

Em 2012, mesmo com todas as desonerações dadas pelo Palácio do Planalto — que resultaram em preços menores para carros, materiais de construção, geladeiras e outros eletrodomésticos —, esse índice já alcança elevação de 5,64%, no acumulado em 12 meses encerrados até meados de novembro. “Por isso, a não ser que o BC abandone o regime de metas de inflação, o que não parece o caso, acho pouco provável que essa alta do dólar vá para muito acima de R$ 2,20, estourando R$ 2,30”, reflete o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.

Mais forte Para alguns especialistas, além da disposição do governo, há espaço para que a divisa ganhe ainda mais força em 2013. Parte dessa avaliação se baseia no cálculo da chamada taxa de equilíbrio para o câmbio — uma correlação entre os fundamentos da economia e o poder de compra da moeda. Um relatório produzido pelo banco norte-americano J.P. Morgan mostrou que, dadas as condições do Brasil, a cotação ideal para o dólar seria de R$ 2,45.

Por essa conta, nem mesmo a valorização de 23,8% do dólar nos últimos 10 meses conseguiu evitar uma sobrevalorização prejudicial à moeda e à indústria brasileira. Para o economista Flávio Serrano, do BES Investimento, não será o câmbio o salvador da pátria brasileira. “Uma moeda desvalorizada não é o que vai solucionar a questão da falta de competitividade do setor produtivo nacional.”