Título: Corte entra em greve
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Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2012, Mundo, p. 13

Juízes alegam sofrer "pressão psicológica" cometida por aliados do presidente e suspendem a análise sobre a legalidade do grupo que redigiu a nova Constituição

A queda de braço entre o Judiciário egípcio e o presidente Mohamed Morsy ganhou novo embate. Ontem, a Alta Corte Constitucional do Egito iniciou uma greve por tempo indeterminado em protesto à “pressão psicológica” praticada por simpatizantes do presidente. Segundo os juízes, eles encontram dificuldades para examinar a legalidade da comissão que elaborou um polêmico projeto de Constituição a ser avaliado em um referendo popular no próximo dia 15.

Antes do anúncio, a Corte já havia postergado a audiência, marcada para ontem, na qual a questão seria analisada. No sábado, centenas de islamitas realizaram uma ruidosa manifestação na frente da sede do tribunal em apoio ao presidente, chegando a bloquear um dos acessos ao prédio e a estrada principal ao longo do Rio Nilo.

O Poder Judiciário está em conflito com Morsy desde o decreto de 22 de novembro, segundo o qual o presidente islamita proíbe qualquer ação legal contra as decisões tomadas por ele e contra a Comissão Constitucional, boicotadas pela oposição de esquerda, liberais e cristãos. Críticos alegam que as decisões recentes permitem uma interpretação religiosa das leis, além de comprometer a liberdade de expressão e os direitos das mulheres.

Em comunicado, a Corte, composta por 19 juízes, ressaltou rejeitar o “assassinato psicológico” de seus membros e chamou os eventos de ontem de “dia negro na história da Justiça egípcia”. Vários partidos e grupos de oposição anunciaram a convocação de uma manifestação para terça-feira, em frente ao palácio presidencial. Chamado de aviso final, o protesto será contra o decreto que concede superpoderes ao presidente e o referendo sobre o projeto de Constituição. Entre os líderes da oposição estão o Partido da Constituição, fundado pelo ex-chefe da agência nuclear da ONU Mohamed El Baradei; o Movimento da Corrente Popular, do ex-candidato presidencial Hamdeen Sabbahi; assim como os Jovens do 6-Abril-Frente Democrática, que participaram da revolta anti-Mubarak no início de 2011.