Correio braziliense, n. 20808 , 12/05/2020. Brasil, p.7

 

Ineficaz em pacientes internados

Bruna Lima

Alan Rios

12/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Enquanto Bolsonaro defende hidroxicloroquina e nega que ministro da Saúde esteja dificultando indicação da droga, estudo feito em hospital novaiorquino aponta resultados inexpressivos no uso da substância em infectados com quadros de moderado a grave

Entre as preocupações que agravam o cenário mundial da pandemia de covid-19, a falta de uma medicação comprovadamente eficaz continua sendo uma realidade. Apesar de declarações entusiasmadas e promissoras de políticos, como o presidente Jair Bolsonaro e o presidente norte-americano Donald Trump, um estudo publicado no New England Journal of Medicine aponta que a hidroxicloroquina não apresenta melhora de pacientes hospitalizados com o novo coronavírus.

O estudo foi realizado pelo Presbyterian Hospital, em Nova York, e observou pacientes que testaram positivo para a doença e que apresentavam quadros de moderado a grave. A conclusão foi que não houve associações tanto à melhora, quanto à piora dos quadros da doença, nem com o aumento do risco do paciente ter que ser entubado ou morrer.

Logo no início da pandemia, tanto Trump quanto Bolsonaro incentivaram o uso da hidroxicloroquina, o que levou a uma compra desenfreada no Brasil. Questionado, ontem, por apoiadores sobre a demora em endossar o uso da substância por parte do Ministério da Saúde, o chefe do Executivo negou, dizendo que o medicamento já estava “no protocolo”. “Tem estado que não está aceitando, está dificultando, outros não”, completou. Já durante a coletiva, o ministro Nelson Teich falou sobre o medicamento, explicando o motivo de não haver recomendação por parte do Ministério.

"Uma coisa é autorizar o uso, a critério do médico. A gente acompanha o que está sendo publicado no meio científico e quando tiver estudo que comprove o benefício claro, vamos recomendar imediatamente. Fora isso, o ideal é que qualquer droga que pareça promissora seja tratada no âmbito de um estudo clínico para poder colher a informação do uso e do resultado de forma a agregar para o entendimento”, disse Teich.

Segundo o estudo do New England Journal of Medicine, são necessários ensaios clínicos randomizados e controlados de hidroxicloroquina em pacientes com a covid-19. Entre os dias 7 de março e 8 da abril, o hospital recebeu 1.446 pacientes positivos para o novo coronavírus, destes, 70 foram descartados por terem sido intubados, transferidos, de alta médica ou terem morrido nas 24 horas seguintes à entrada na emergência.

Foram utilizados os dados de 1.376 infectados. Deste número, 811 (58.9%) pacientes foram tratados com a hidroxicloroquina por cinco dias, em média; e os demais, 565, não fizeram uso da substância no tratamento da doença. Segundo os dados analisados, não houve uma associação significativa entre o uso da hidroxicloroquina e os pacientes intubados ou mortos. Os dados foram analisados no dia 25 de abril.

Ao todo, 180 pacientes foram intubados e, destes, 66 morreram e outras 166 pessoas faleceram sem serem intubadas. Na data final, 1.025 pessoas receberam alta hospitalar e outras 119 seguiam internadas – destas, apenas 24, sem respiração artificial.

O uso da cloroquina, usada no tratamento da malária, lúpus e artrite, foi regulamentado pela pasta para casos graves em decorrência da covid-19. No entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM), a prescrição por parte do médico é permitida, desde que haja a aprovação entre médico e paciente e que seja esclarecido que não há comprovação de evidências sólidas dos benefícios da droga.

Outras possibilidades

Questionado sobre o estágio dos demais estudos envolvendo tratamento do novo coronavírus, o ministro Teich afirmou que a droga que tem se revelado “mais promissora” é o antiviral Remdesivir. No entanto, reiterou que, assim como a cloroquina, não há evidência científica comprovando a eficácia no tratamento. O ministro falou também sobre o desenvolvimento de uma vacina que proteja contra o novo vírus. “Estamos acompanhando o que está sendo desenvolvido em relação à vacina. No que há de mais avançado o ministério está se organizando para ser incluído no estudo clínico”, disse.

Além da hidroxicloroquina, outros medicamentos e tratamentos têm sido testados e, alguns, mostram um potencial promissor. Entre as possibilidades está o uso do plasma ou o soro convalescente humano pode ser uma opção para o tratamento da covid-19.

Em nota técnica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destaca que “as transfusões de plasma são geralmente seguras e bem toleradas pela maioria dos pacientes, desde que seguidos os requisitos técnicos e sanitários para produção e uso dos hemocomponentes”, mas que “não existem vacinas, anticorpos monoclonais (mAbs) ou outros medicamentos específicos disponíveis, com eficácia comprovada para o Sars-CoV-2.”

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País recebe 15 milhões de máscaras

Enrico Misasi*

Fernanda Strickland*

12/05/2020

 

 

O Brasil recebeu dois carregamentos de milhões de máscaras, em um esforço que envolve o Ministério da Infraestrutura e empresas privadas. Ainda há, contudo, uma dificuldade que afeta vários estados para obter respiradores. Existe uma discussão sobre a necessidade de se criar uma base industrial para equipamentos de saúde, de forma a reduzir a dependência chinesa. O primeiro voo com equipamentos para combate à covid-19 pousou no domingo no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O segundo carregamento chegou ontem, também em Guarulhos. As 15 milhões de máscaras triplas pesam cerca de 53 toneladas.

O Ministério da Infraestrutura é responsável pela operação especial para trazer da China 960 toneladas de máscaras cirúrgicas e N95 compradas pelo Ministério da Saúde. Em nota, a pasta explica que “os equipamentos de proteção serão distribuídos aos estados. O MInfra fretará mais de 40 voos da Latam para trazer 240 milhões de máscaras ao país. Também está apoiando estados e prefeituras na logística e distribuição de equipamentos”.

Uma das empresas privadas que estão apoiando o ministério é a Latam Airlines Brasil. Além da parceria logística e o apoio na distribuição de itens médicos aos estados brasileiros, a companhia aérea também está transportando profissionais de saúde envolvidos no combate à pandemia, com isenção total da tarifa aérea.

Dentro do Brasil, a aérea também contribui para o abastecimento das unidades federativas no transporte dos itens de combate à covid-19. Desde 15 de março, foram realizados mais de 130 voos para o transporte de cerca de 600 toneladas de materiais como medicamentos, testes, álcool em gel, máscaras, luvas, termômetros, respiradores e doações de alimentos.

*Estagiários sob supervisão de Fernando Jordão

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Câmara vota uso obrigatório 

Luiz Calcagno

12/05/2020

 

 

O plenário da Câmara deve votar, hoje, um projeto de lei que torna obrigatório o uso de máscara em todo o território nacional. Autor do PL 1562/2020, o líder do PTB na Casa, Pedro Lucas Fernandes (MA), disse ter conversado com o relator da matéria, Gil Cutrim (PDT-MA), e sugeriu que ele aperfeiçoasse o texto, principalmente, no que diz respeito às punições para quem for pego sem o item de proteção. O texto cita o código penal que prevê até 1 ano de prisão e multa para quem quebrar leis criadas para combater a propagação de doenças contagiosas em território nacional. Fernandes destaca que o coronavírus está interiorizando no país, atingindo municípios pequenos, e que a aprovação é urgente.

Embora haja previsão de prisão para quem for pego em local público sem a máscara, o infrator terá a opção de assinar um termo de compromisso de comparecer perante o juiz quando for convocado. Fernandes explicou que o PL deverá padronizar a regra em todo o país, por enquanto, prevalecem as leis estaduais. Na manhã de ontem, por exemplo, policiais detiveram uma mulher de 46 anos que se recusava a usar máscara para entrar em um supermercado no Sudoeste. A medida é obrigatória na capital federal.

Quando o texto foi pautado, ainda na última sexta, estava sem relator. Fernandes contou que, em sua conversa com Cutrim, pediu ao colega que lesse os outros projetos semelhantes apensados ao texto que será votado. “Eu não tenho nenhuma intenção de dizer que é redondo. Deve ser aperfeiçoado com outros projetos semelhantes para termos um relatório robusto, que seja aprovado no plenário. Conversei com o Cutrim, que também é do Maranhão, ele falou sobre o projeto e eu sugeri que visse os demais projetos apensados. Já tem muitos governadores e prefeitos colocando a obrigatoriedade. A doença está indo para o interior. Quanto mais pudermos verticalizar a norma, melhor. Não há intuito de unir o brasileiro. É educativo, para evitar mais mortes”, afirmou.

O líder do PTB também destacou que conversou com outros parlamentares e que há boa adesão ao texto. “Tenho conversado com muitos líderes e todos têm essa atenção do uso da máscara. É importante. Fiquei feliz que vi o presidente (da República) usando. Isso ajuda, educa”, defendeu. É um projeto que tem pressa, que atende recomendação da Organização Mundial de Saúde, e traz um debate no sentido de criar condições para que todos usem a máscara”, completou.

Frase

“Já tem muitos governadores e prefeitos colocando a obrigatoriedade. A doença está indo para o interior. Quanto mais pudermos verticalizar a norma, melhor. Não há intuito de unir o brasileiro. É educativo, para evitar mais mortes”

Deputado Pedro Lucas Fernandes, autor do projeto de lei