Correio braziliense, n. 20809 , 13/05/2020. Brasil, p.8

 

País chega a 12 mil mortes, 881 em 24h

13/05/2020

 

 

Número de casos confirmados da doença saltou de 168.331 para 177.589, um acréscimo de 9.258 registros entre segunda e terça-feira. Previsão é que, até a próxima semana, mais 10 mil vidas sejam perdidas, segundo estudo

Mais 881 brasileiros entraram para a lista de vítimas do novo coronavírus no país. Vidas encobertas por uma sucessão de números, divulgados todos os dias, balanço após balanço. Para se ter uma ideia, as vidas perdidas anunciadas, ontem, representam quase 15 vezes o total de mortos pelas fortes chuvas em Minas Gerais no início do ano, que arrastaram 60 histórias com as enxurradas. Sufocadas pela própria incapacidade dos pulmões, 881 pessoas lutaram, acamadas em leitos de hospitais ou na agonia da própria cama, já que o sistema de saúde colapsa em várias cidades do país. De acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, com o novo recorde o número de mortos chegou a 12,4 mil. O número de casos confirmados da doença no país saltou de 168.331 para 177.589, um acréscimo de 9.258 registros entre segunda e terça-feira.

“Vocês não têm noção o quanto dói ver meu pai partir por uma doença tão horrível, que pessoas levam como brincadeira. Meu pai contraiu essa blasfêmia trabalhando pela saúde de outras pessoas. Dói muito perder quem a gente ama”, desabafou, nas redes sociais, o estudante Pedro Caetano, filho do maqueiro Evandro do Nascimento Mendonça, de 57 anos, uma das vítimas do coronavírus. O funcionário do Hospital Base Dr. Ary Pinheiro morreu em 5 de maio, após ficar 15 dias internado.

São Paulo lidera o ranking no país, com 3.949 óbitos e 47.719 infectados. Atualmente, há 9,9 mil pacientes internados em SP, sendo 3.818 em UTI e 6.083 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos reservados para atendimento à covid-19 é de 69,1% no estado de São Paulo e 85,7% na Grande SP.

Além de São Paulo, há outros quatro estados com mais de mil mortos: Rio de Janeiro (1.928), Ceará (1.280), Pernambuco (1.157) e Amazonas (1.098). Outros nove estados já registraram mais de 100 óbitos pela doença. São eles: Pará (864), Maranhão (423), Bahia (225), Espírito Santo (212), Paraíba (154), Alagoas (150), Minas Gerais (127), Paraná (113) e Rio Grande do Sul (111).

Previsões

A previsão é que até a próxima semana, mais 10 mil vidas sejam perdidas para a doença, segundo análises do Portal Covid-19 Brasil. Pelos cálculos do grupo formado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP), até 21 de maio, as fatalidades no país devem bater as 22 mil. Já pelas projeções da consultoria norte-americana Kearney, o Brasil tem potencial para ser recordista de morte, podendo chegar a 295 mil mortos ainda este ano. O número, no entanto, pode variar conforme as medidas que forem adotadas, diz o relatório.

Deixando as estimativas de lado, o número oficial de mortos, hoje, está fora de qualquer indicativo apontado por Jair Bolsonaro. Só ontem, o Brasil ultrapassou a previsão total feita pelo presidente, durante entrevista dada à Rede Record, em março. Na ocasião, ele afirmou que o coronavírus não alcançaria a quantidade de vítimas por H1N1 em 2019, que matou mais de 800 pessoas. “Brevemente, o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nesta questão do coronavírus”, disse, à época. No entanto, quando o país alcançou o patamar de 10 mil mortos, se isentou da responsabilidade. “E daí. Sou Messias, mas não faço milagres”, comentou.

Dentre as dificuldades que o Brasil tem enfrentado, o coordenador do Curso de Especialização em Administração Hospitalar e de Serviços e Sistemas de Saúde da FGV, Walter Cintra, destaca que “a principal e mais grave, com certeza, é a postura do presidente. É inacreditável um presidente que desdenha da pandemia e vai passear de jet ski quando o país atinge a marca de dez mil mortos.”

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Brasil fora de grupo para vacina

Marisa Wanzeller*

13/05/2020

 

 

Na luta travada contra a pandemia de covid-19, a busca por uma vacina que proteja contra o novo coronavírus move países por todo o mundo. No dia 24 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com governos internacionais e entidades públicas e privadas, lançou uma plataforma de aceleração de pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, a Access to Covid-19 Tools (ACT) Accelerator. Liderada por países da União Europeia, o Brasil se nega a colaborar com o projeto.

No último dia 4, ocorreu uma conferência on-line com diversos líderes mundiais para o fundo, a pledging conference. O intuito era arrecadar 7,5 bilhões de euros para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos contra a covid-19. O Brasil foi convidado a participar do evento, mas não contribuiu financeiramente com a causa. Além do Brasil, Estados Unidos, Rússia e Índia optaram por não participar da iniciativa. Contudo, o Itamaraty afirma que o Brasil tem atuado em “diversos mecanismos e organismos que coordenam, no plano regional e internacional, ações de resposta à pandemia da covid-19, incluindo G-20, Brics, Prosul”.

Lucas Fernandes, analista político da BMJ, afirma que tanto o núcleo ideológico quanto a contraposição ao globalismo impedem o atual governo de dialogar com a OMS. “Desde o início da crise, o presidente optou por radicalizar o discurso econômico de que o remédio está sendo mais amargo do que a doença”, observa o especialista.

De acordo com ele, se a posição do governo se mantiver, o Brasil pode sofrer represálias internacionais. “(O mundo) vai sair desse surto muito mais preocupado com novas doenças e epidemias que possam afetar a economia mundial. A gente tem uma chance muito grande de que alguns países fiquem mais receosos em relação às viagens internacionais”, analisa.

Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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Homenagem à linha de frente

Jailson R. Sena*

13/05/2020

 

 

No Dia Internacional da Enfermagem, celebrado ontem, profissionais da saúde de Brasília, Cuiabá, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, entre outras cidades, realizaram um ato em homenagem aos 98 colegas de profissão mortos na linha de frente do combate ao coronavírus em todo o país. O Brasil perdeu mais enfermeiros que Espanha e Itália juntas, até agora.

“Essa homenagem é para chamar a atenção em relação ao número de mortes de profissionais de enfermagem no Brasil, que é muito alto”, explica Dayse Amarílio, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro-DF). Segundo ela, até ontem, 109 profissionais da categoria morreram de coronavírus.

O ato em Brasília foi em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. Pacífico, respeitou as recomendações internacionais de distanciamento, com número limitado de participantes e uso de máscaras. Vestidos de jaleco com nomes dos colegas que morreram, enfermeiros e técnicos de enfermagem ficaram parados, em silêncio. Em seguida, anunciaram o nome das vítimas e se deitaram, um a um, como forma de protesto. A manifestação foi organizada pelo SindEnfermeiro-DF, Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (Sindate-DF) e pelos conselhos federal e regional da categoria.

Em Cuiabá, os profissionais colocaram cruzes no canteiro central de uma avenida, visando chamar a atenção para o número de mortes provocadas pela doença, além de ressaltar a importância do isolamento social. Em BH, os enfermeiros se reuniram no centro da cidade e também distribuíram cruzes, com os nomes e cidades dos mortos, pela Praça Sete. No Rio, o ato ocorreu em frente às escadarias da Assembleia Legislativa, com cruzes e balões brancos.

Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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Américas ultrapassam Europa

13/05/2020

 

 

O aumento no número de casos da covid-19 no Brasil, Estados Unidos e Canadá, nas últimas semanas, fizeram com que a região das Américas ultrapassasse o total de infectados na Europa, considerada, até então, epicentro da doença no mundo desde meados de fevereiro. Segundo os últimos levantamentos divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), há 1,74 milhão de novos registros do novo coronavírus nas Américas, contra 1,73 milhão, no continente europeu.

Apesar de o continente americano ter um maior número de casos, a Europa supera em relação a quantidade de mortos, em quase 60 mil. Na segunda-feira, os óbitos nas Américas bateram, juntos, a marca dos 100 mil. No Brasil, são mais de 177.589 registros e 12,4 mil mortes; nos Estados Unidos, as autoridades sanitárias informam que o coronavírus atingiu mais de 1,3 milhão de pessoas e já matou mais de 80 mil; já o Canadá tem cerca de 70 mil infectados e mais de 5 mil fatalidades.