Correio braziliense, n. 20809 , 13/05/2020. Artigos, p.13

 

A importância da cooperação internacional

Kim Chan-Woo

13/05/2020

 

 

O mundo, hoje, pode ser dividido em antes e depois do novo coronavírus. Segue-se a isso uma visão pessimista de que talvez não mais possamos voltar ao mundo vivido antes da pandemia. Expressões incomuns como distanciamento social, autoisolamento passaram a fazer parte do vocabulário do nosso cotidiano e foram inseridas no dicionário americano Merriam Webster. A covid-19, que infectou mais de 4 milhões de pessoas no mundo e tirou a vida de quase 300 mil, mudou o dia a dia de nossa vida com a inserção de novas rotinas como teletrabalho, estudo a distância, telemedicina.

O mundo já viveu outras experiências de pandemia, tais como a peste negra e a gripe espanhola. E não creio que a covid-19 venha a ser a última da humanidade. Enquanto existirmos, pandemias continuarão a nos importunar, e nós precisaremos extrair o melhor de nossa sabedoria para fazer frente a elas. E, em breve, também estaremos superando a covid-19.

A grande questão é responder ao “quando” isso vai acontecer. Precisamos, na situação desesperadora em que inúmeras pessoas estão sendo vitimadas pela covid-19, enfrentar o problema de um jeito ou de outro. Neste momento, toda a comunidade internacional vem tomando medidas preventivas como o distanciamento social e o isolamento, além de tratar as pessoas infectadas. Mas, para superarmos a pandemia, o desenvolvimento da vacina é urgente.

Em razão da covid-19, os países se viram forçados a se isolarem. Ironicamente, porém, nunca a cooperação internacional se fez tão necessária para combater a pandemia. Compartilhamento de informações sobre a doença, cooperação em insumos de desinfecção médica, planos de combate, cooperação no desenvolvimento de medicamentos e vacina, estabelecimento de protocolos especiais internacionais para o deslocamento de recursos humanos médicos e de empreendedores são práticas para as quais a cooperação internacional se tornou necessária mais do que nunca.

A Coreia, a partir da identificação da primeira infecção pela covid-19 (em 20 de janeiro), enfrentou sérias dificuldades com o expressivo aumento de casos de infecção no início. Mas, hoje, o país se encontra em situação de estabilidade, com número de casos confirmados diários abaixo de 10 e quase sem ocorrência de óbitos. Obviamente que não será possível replicar em outros países o modelo de enfrentamento aplicado na Coreia, mas há vários aspectos que poderão ser considerados. Para exemplificar, a autoridade coreana na área da saúde tem compartilhado as experiências de combate à covid-19 com a comunidade internacional por meio da realização de seminários virtuais.

O plano de enfrentamento à covid-19 da Coreia pode ser, basicamente, explicado em 3T (do inglês test, trace, treat — testar, rastrear, tratar). Entre eles, a eficiente capacidade de testagem foi altamente contributiva nesse embate. Recentemente, o estado de São Paulo importou 1,3 milhão de kits de diagnóstico da Coreia, além de muitas outras importações de kits coreanos pelo Brasil. É uma cooperação bilateral delimitada à covid-19, mas tenho grandes expectativas de que essa ação fortalecerá ainda mais a cooperação entre a Coreia e o Brasil na área da saúde.

Para que não venhamos a sofrer uma segunda ou terceira onda de contaminação, é urgente o desenvolvimento rápido de uma vacina. No dia 4 de maio, 40 países, entre eles, os da União Europeia, da Coreia, da China e do Japão, uniram-se para uma campanha de arrecadação de fundos em prol do desenvolvimento de uma vacina. Além disso, a Coreia também tem contribuído com seus esforços no IVI — International Vaccine Institute. Estou certo de que, quando toda a sociedade internacional unir as forças, poderemos colher resultados positivos.

Precisamos pensar em modos de enfrentar a covid-19 de acordo com as fases de sua ocorrência. A forma de combate é diferente na fase inicial, quando temos acúmulo de pacientes infectados e, depois, na fase posterior, quando temos achatamento da curva de incidência da doença. As considerações em relação ao problema da saúde e ao problema da economia precisam ser feitas por fase, de forma harmônica.

Também será necessário reunir esforços para o período pós-covid-19. Maciços investimentos na área da saúde podem ser considerados como novo motor de crescimento.

KIM CHAN-WOO

Embaixador da República da Coreia no Brasil