Correio braziliense, n. 20812 , 16/05/2020. Política, p.6

 

Major cede nome do filho para exame

Augusto Fernandes

16/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Na cerimônia pelos 500 dias do governo, ministro frisou a necessidade de Bolsonaro impedir que servidores tenham aumentos, como está previsto em trecho do projeto de socorro financeiro a estados e municípios. "É inaceitável que tentem saquear o gigante que está no chão"

O ministro da Economia, Paulo Guedes, enfatizou a importância de o presidente Jair Bolsonaro vetar o trecho do projeto de socorro a estados e municípios que permite reajuste salarial a algumas categorias do funcionalismo, mesmo nesse período de pandemia. Ele pediu a contribuição dos servidores e disse que "é inaceitável que tentem saquear o gigante que está no chão". E adaptou uma frase do ex-presidente John Kennedy ao acrescentar que "nós queremos saber o que podemos fazer de sacrifício pelo Brasil nessa hora, e não o que o Brasil pode fazer por nós".

"Vamos nos aproveitar de um momento desse, de maior gravidade de uma crise de saúde, e vamos subir em cadáveres para fazer palanque? Para arrancar recursos do governo? Isso é inaceitável! A população não vai aceitar. Vai punir quem usar cadáveres como palanque", frisou Guedes, ontem, durante cerimônia no Palácio do Planalto em alusão aos 500 dias do governo Bolsonaro.

O ministro ainda enfatizou que "as medalhas são dadas depois da guerra, não antes" e destacou que "nossos heróis não são mercenários". Também falou que "é inaceitável que usem a desculpa da crise da saúde para saquear o Brasil na hora que ele cai". "Que história é essa de pedir aumento de salário porque o policial vai à rua exercer a sua função, ou porque um médico vai à rua exercer a sua função? Se ele trabalhar mais por causa do coronavírus, ótimo. Ele recebe hora extra. Mas dar medalhas antes da batalha? As medalhas vêm depois da guerra, depois da luta", ponderou Guedes.

Assim que o país vencer a pandemia e se mostrar "um Brasil forte, erguido", Guedes disse que será o momento de se discutir o reajuste para servidores. "Nós vamos lembrar disso. Vamos botar o quinquênio, o anuênio, o milênio, o Eugênio, tudo o que for preciso", ironizou. E completou: "Mas não antes da batalha. Não podemos aproveitar um momento de fragilidade que o Brasil cai numa crise financeiramente", analisou.

Segundo Guedes, "acho que nós, como brasileiros, temos que estar juntos. Temos que atravessar essa primeira onda de saúde juntos. Temos que estar juntos no esforço para impedir que o Brasil colapse, também financeiramente; essa segunda onda que o presidente Bolsonaro tem alertado, que pode nos remeter a um país onde prateleiras estão vazias".

 Redução
A proposta de socorro a estados e municípios aprovada no Congresso reduziu de R$ 130 bilhões para R$ 43 bilhões a estimativa de economia, por parte do governo, com o congelamento da remuneração do funcionalismo pelos próximos 18 meses. Bolsonaro prometeu que vai vetar essa parte do projeto, mas ainda não anunciou quando o fará.

Para Guedes, o governo precisa da contribuição do servidor porque "dezenas de milhares de brasileiros estão sendo demitidos, milhares de empresas estão fechando". "Só estamos pedindo uma contribuição. Não queremos tirar nada de ninguém. Nós sempre tivemos a mesma posição. Não vamos tirar nada de ninguém. Por favor, enquanto o Brasil está de joelhos, nocauteado, tentando se reerguer, por favor, não assaltem o Brasil. Não transformem um ano eleitoral, onde é importante tirar o máximo possível do gigante que foi abatido, deixa ele levantar."

O ministro disse que as próximas duas semanas serão decisivas para garantir que o provável veto de Bolsonaro não seja derrubado no Parlamento. Guedes comentou que o Legislativo "não pode derrubar o veto para impor uma derrota política ao governo, para desorganizar economia brasileira, ou para transformar em farra eleitoral um ato de grandeza nosso".

"Se ele (Bolsonaro) tiver que vetar, ele veta. Não transformem isso em ato político. Esse é um pedido que eu faço de colaboração, que sejamos bem interpretados", salientou Guedes.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Major cede nome do filho para exame

Renato Souza

16/05/2020

 

 

A major Maria Amélia Alves da Costa Ferraz, mãe do jovem de 16 anos que teve o nome utilizado por Jair Bolsonaro como pseudônimo em um dos exames realizados para covid-19, trabalha no Hospital das Forças Armadas (HFA). Ela está lotada na área de coleta de amostras da unidade de saúde e, no dia 17 de março, auxiliou no atendimento ao presidente.

Maria Amélia é mãe de Rafael Augusto Costa Ferraz Nascimento, estudante do ensino médio que não chegou a testar o coronavírus, mas tem atendimento permitido no hospital por ser filho da militar. Apesar do nome do jovem de sido registrado no laudo, os demais dados utilizados, como CPF e RG, são de Bolsonaro.

A informação de que o presidente testou negativo para a doença está em um laudo enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), após o jornal Estado de S.Paulo entrar na Justiça para ter acesso aos resultados. Mas o uso de codinomes e ausência de identificação levantaram polêmica. Procurado pelo Correio, o Ministério da Defesa informou que a major Maria Amélia autorizou o uso do nome do filho no exame. "Em consonância com a equipe médica da Presidência, e no intuito de proteger e garantir confidencialidade aos exames do Presidente da República, foi sugerida a utilização de um pseudônimo, sendo o nome que lhe ocorreu, naquele momento", informou, em nota.

Ainda de acordo com a Defesa, não há nada irregular. "Cabe destacar, ainda, que, de acordo com a própria Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, o uso de pseudônimos em exames de saúde de pessoas públicas, visando proteger a privacidade, é comum e não representa irregularidade", completa nota da pasta.

Em outro exame, realizado na Fundação Oswaldo Cruz, por meio de amostras enviadas ao Rio de Janeiro, o Planalto não forneceu nome e dados pessoais para comprovar a identidade do paciente, o que vai contra normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).