Título: Com ação do BC, dólar cai
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Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2012, Economia, p. 12

Apesar de o Banco Central querer desvalorizar o real, teve de interferir para que o aumento da moeda estrangeira não gere inflação no país

O dólar fechou, ontem, em leve queda ante o real, pelo segundo dia consecutivo, após o Banco Central ter anunciado medidas para baratear o crédito ao exportador brasileiro. As ações devem favorecer a entrada da moeda norte-americana no país. A divisa, mesmo com o recuo, manteve-se acima do nível de R$ 2,10 ao longo de todo o dia, reduzindo a queda na parte da tarde. Para analistas, fim de ano é um período de forte demanda de dólares, levando a comum um movimento de alta da cotação. Normalmente, a época registra maiores remessas de lucros e dividendos de filiais brasileiras às suas matrizes no exterior.

Outra razão para a grande demanda por dólares é o fraco crescimento da economia, que aumenta a interpretação de que o governo vai favorecer um real mais desvalorizado para estimular as exportações. A moeda norte-americana recuou 0,21%, encerrando a R$ 2,116, na venda. A oscilação variou de R$ 2,126, logo na abertura do pregão, e R$ 2,101. "A conjuntura tem sido de câmbio mais para cima, e há uma saída sazonal de recursos e uma procura por dólares nesse período", disse o estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno.

Competitividade Para prover liquidez ao mercado de câmbio e impedir uma alta muito rápida do dólar, o Banco Central tem atuado com mais força no mercado desde o início da semana. Ontem, anunciou uma medida que eleva de 360 dias para cinco anos o prazo para a modalidade de pagamento antecipado de exportações que fica isento de taxação. As operações acima disso continuam pagando alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), como operações normais de crédito.

O anúncio ocorreu depois que a autoridade já tinha feito, na segunda-feira, dois leilões de swap cambial tradicional — operações que equivalem à venda de dólares no mercado futuro — e outros dois de venda da moeda norte-americana conjugada com compra. Operadores avaliam que, além de dar liquidez para o mercado, as ações do BC evitam distorções nas cotações e movimentos especulativos, evitando um impacto excessivo na inflação. Com as intervenções, a divisa já recuou 0,69% ante o real desde a quarta-feira.

Analistas também acreditam que o governo deve favorecer um real mais desvalorizado para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, principalmente depois que o crescimento econômico do terceiro trimestre veio muito abaixo das expectativas — apenas 0,6%. Dados da produção industrial brasileira divulgados ontem reforçaram a preocupação com o ritmo da atividade, ao mostrar que a indústria está com dificuldade de manter uma trajetória consistente de alta.

"A tendência de alta do dólar é mais pelos fundamentos econômicos e pela preocupação do governo com o crescimento", reforçou o operador de uma corretora em São Paulo que prefere não ser identificado. Apesar da queda das últimas duas sessões, o dólar ainda está em alta de 4,22% desde novembro. Desde fevereiro — quando o BC intensificou as intervenções para desvalorizar o real —, a moeda norte-americana acumula alta de 21,11%.