Título: Convulsão no Egito
Autor: Walker, Gabriela
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2012, Mundo, p. 16

Centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas do Egito em mais um dia de protestos da oposição. Na noite de ontem, ativistas cercaram o palácio presidencial, no bairro de Heliópolis, e derrubaram as grades de proteção instaladas em torno do prédio. Uma fonte oficial disse à agência France-Presse que o presidente, Mohamed Morsy, "abandonou o prédio na hora prevista, depois de concluir sua agenda". Um vídeo divulgado pela internet mostra um comboio saindo do Palácio de Itihadiya, sob a proteção da polícia de choque, enquanto manifestantes gritavam "covarde, covarde".

Outro grupo permaneceu na Praça Tahrir, no centro do Cairo, dominada por manifestantes há quase duas semanas. A oposição chamou o ato de "Último aviso" e pediu a revogação imediata do decreto que aumenta a concentração dos poderes de Morsy, além do cancelamento do referendo sobre a nova Constituição.

Ao menos 18 pessoas precisaram de cuidados médicos depois de choques com a polícia, mas ninguém ficou gravemente ferido, segundo a agência de notícias estatal. As forças de segurança lançaram bombas de gás lacrimogêneo para conter a multidão e evitar a invasão do palácio.

O chefe da Assembleia Constituinte, Hossam Al-Gheriany, confirmou que o presidente estuda suspender os artigos mais controversos da declaração constitucional. O anúncio veio depois de protestos e da condenação de dois artigos pelo Conselho Nacional para os Direitos Humanos. A Corte Administrativa de Justiça, que começou a analisar os pedidos para o cancelamento do decreto e do referendo, precisou postergar a decisão.

"Seria esperar demais que o Egito migrasse de uma forma muito natural para uma democracia moderna e aberta. O que vemos é uma disputa interna pelo poder", explica ao Correio José Sombra Saraiva, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).

A onda de protestos levou os EUA e a União Europeia a expressarem preocupação. "Há muita tensão no Cairo. Pedimos aos manifestantes que demonstrem suas opiniões de maneira pacífica", disse um porta-voz americano. Em nota, membros do Parlamento Europeu exortaram o diálogo e se disseram receosos com o "momento crítico" vivido pelo Egito. Em protesto contra a falta de liberdade de imprensa, 12 jornais não publicaram as edições de ontem. Hoje, cinco canais de tevê devem interromper a programação.

EUA negam a captura de drone

A Marinha norte-americana negou que o Irã tenha "capturado" um avião não tripulado de sua frota, conforme foi anunciado pelo governo de Teerã na manhã de ontem. "Não temos evidências de que as afirmações iranianas sejam verdadeiras", declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. A Guarda Revolucionária iraniana afirma que um drone americano foi interceptado ao invadir o espaço aéreo do país, enquanto "sobrevoava a região do Golfo Pérsico com o objetivo de identificar e coletar informações".