Título: Itamaraty pede explicação a Eldad
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2012, Mundo, p. 17

Embaixador de Israel é chamado pelo Brasil para falar sobre expansão de assentamentos

O Ministério das Relações Exteriores brasileiro repetiu o gesto de cinco países da União Europeia — França, Reino Unido, Suécia, Espanha e Dinamarca — e convocou o embaixador israelense, Rafael Eldad, a prestar esclarecimentos sobre a decisão do governo Benjamin Netanyahu de acelerar a construção de assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. O chamado projeto E1 dividiria o território palestino ao meio e, segundo vários governos ocidentais, inviabilizaria qualquer solução para o conflito no Oriente Médio baseada em dois Estados.

Fontes diplomáticas israelenses confirmaram ao Correio Braziliense que, ao longo das últimas semanas, mantiveram "muitas reuniões" com "altas figuras" do Itamaraty. No fim da manhã de ontem, Eldad e o embaixador Paulo Cordeiro, subsecretário de África e Oriente Médio, discutiram "vários temas", entre eles a questão da adesão da Autoridade Palestina na Organização das Nações Unidas (ONU) sob o status de Estado observador não membro. Funcionários da embaixada em Brasília disseram aguardar um posicionamento oficial da chancelaria israelense.

Sob a condição de anonimato, um funcionário do Itamaraty revelou ao Correio que o encontro foi "muito cordial". "O embaixador Paulo Cordeiro expressou a posição do Brasil, contrária à expansão dos assentamentos na Cisjordânia, anunciada nos últimos dias pelo premiê israelense. Também reiterou que os assentamentos na Palestina não contribuem, de forma positiva, para o processo de paz. O embaixador israelense tomou nota e registrou", afirmou.

Eldad, por sua vez, admitiu a Cordeiro, que a elevação do status da Autoridade Palestina para membro observador não permanente da ONU "não é uma contribuição positiva para o processo de paz, por se tratar de uma iniciativa unilateral". O representante do governo israelense afirmou que o processo só será retomado por meio de negociações bilaterais.

A reportagem tentou entrar em contato com Eldad, por meio do celular, mas até o fechamento desta edição não havia obtido resposta. "Isso é algo que o Itamaraty tem que responder, eu não quero fazê-lo", afirmou uma fonte, ao ser questionada sobre o teor da reunião. A chancelaria brasileira tentou suavizar a importância do encontro e descartou uma "chamada de atenção" ou uma "ofensa" ao governo israelense. A reunião é vista como um momento no qual o governo de Dilma Rousseff demonstra, claramente, às autoridades israelenses que discorda das medidas recentemente tomadas em relação aos territórios palestinos. Além do Brasil, a Austrália, a Irlanda e o Egito também chamaram os representantes diplomáticos de Israel.

"Fim do mundo"

O vice-ministro das Relações Exteriores israelense, Danny Avalon, minimizou a crise diplomática sem precedentes. "Este não é o fim do mundo. Defender a segurança de Israel é mais importante do que relações públicas diplomáticas", declarou Avalon, também membro do partido ultranacionalista Israel Beiteinu, que recentemente formou uma aliança eleitoral com o Likud, de Netanyahu. Em carta enviada ontem ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e ao Conselho de Segurança, a Autoridade Palestina acusou Israel de crimes de guerra e de agir de "modo pária, hostil e arrogante, contrariando todos os princípios e regras do direito internacional e reagindo com desprezo pela vontade da comunidade internacional".

Eu acho...

"A crise diplomática é desagradável, mas Israel tem o total direito de construir na Judeia e na Samaria. São terras históricas dos judeus, que viviam por muitos séculos na região, antes que o islã chegasse. Os assentamentos não são o problema, já que Israel pode removê-los se quiser, e isso foi feito no Sinai e na Faixa de Gaza. Se a construção na Judeia e na Samaria impede a criação do Estado palestino, é algo muito bom. Será uma questão de tempo até que esse Estado seja governado pelo Hamas. O que o mundo fará? Enviará tropas?"

» Mordechai Kedar, especialista israelense do Centro para Estudos Estratégicos Begin-Sadat (em Ramat Gan)