Título: Brasília é líder em qualidade de vida
Autor: Mader, Helena; Garcia
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2012, Cidades, p. 31

Dois estudos divulgados ontem - um da FGV e outro de uma consultoria internacional - concluem que a cidade tem os melhores índices na habitação, renda, trabalho, saúde, segurança e educação entre os 5.655 municípios brasileiros

Brasília é conhecida como a capital da qualidade de vida por conta de suas ruas largas e arborizadas e de seu projeto urbanístico inovador. Mas a cidade também ostenta excelentes indicadores nas áreas de habitação, renda, trabalho, saúde, segurança e educação. Essas estatísticas colocaram Brasília na liderança de dois importantes rankings divulgados ontem. Estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas mostrou que o DF tem o maior Indicador Social de Desenvolvimento dos Municípios — um índice que avalia fatores como níveis de escolarização, taxas de homicídios, oferta de saneamento básico e renda. Brasília também foi eleita por uma consultoria internacional como a melhor cidade para viver no Brasil.

O indicador da Fundação Getulio Vargas leva em conta 28 fatores, distribuídos em seis categorias. No índice sobre educação, os técnicos analisam o total de crianças menores de 3 anos que frequentam creches, o número de matriculados no ensino fundamental, as taxas de analfabetismo, a nota da Prova Brasil e o desvio idade-série. Para avaliar a segurança, a FGV leva em conta as estatísticas de homicídios e, para os indicadores de emprego, são consideradas as taxas de ocupação e formalização, além dos dados sobre trabalho infantil. No cálculo do índice de habitação, a fundação avalia elementos como a coleta de lixo, a oferta de energia elétrica e água canalizada, o sistema de esgoto e a densidade de moradores por cômodo. Na categoria saúde, os técnicos verificam fatores como a taxa de mortalidade infantil e de mortalidade por causas evitáveis. No quesito renda, a FGV analisa os índices de pobreza extrema e de pobreza. Em todas as categorias, o DF apresenta os melhores índices do país entre as unidades da Federação.

Brasília lidera o ranking das capitais e também dos municípios. Aparece em primeiro lugar até mesmo quando os dados são comparados entre as 5.565 cidades brasileiras. O estatístico Osvaldo Russo, diretor de Estudos e Políticas Sociais da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), comemorou a divulgação do estudo da Fundação Getulio Vargas, mas explicou que o resultado não surpreendeu. "Ainda que haja desigualdade social, Brasília tem a maior renda per capita do Brasil e isso contribui para o resultado. Os excelentes índices educacionais do DF também tiveram influência, a escolaridade aqui é muito alta, em todos os níveis", comentou Russo.

O diretor da Codeplan citou outros resultados positivos para o Distrito Federal. "Na área de saúde, apesar de enfrentarmos problemas que são recorrentes em todo o Brasil, também temos índices positivos, como as menores taxas de mortalidade materna e uma altíssima expectativa de vida. Brasília tem os melhores dados relativos a saneamento básico, com atendimento praticamente integral de rede de esgoto", acrescentou Osvaldo Russo.

Preocupação Apesar dos números positivos, há vários indicadores que preocupam os técnicos do governo. "O número de creches ainda é muito baixo, mas é um deficit que se observa em todos os estados", comentou o diretor da Codeplan. Apesar de ter a maior renda per capita do país, o Distrito Federal ainda tem 46 mil pessoas que vivem em situação de pobreza extrema.

A pesquisadora da Fundação Getulio Vargas Priscilla Tavares, que participou da elaboração do indicador, explica que a FGV analisou dados do IBGE, e dos ministérios da Saúde e da Educação para calcular o novo índice. Essa é a primeira vez que o Indicador Social de Desenvolvimento dos Municípios é divulgado, mas a publicação será anual a partir de agora. "Nosso objetivo foi focar nos indicadores básicos que estão na área de atuação dos prefeitos. Assim, as pessoas podem usar essas informações para cobrar melhorias dos municípios", explicou Priscilla.

Brasília também foi considerada a melhor cidade para se viver no Brasil pela consultoria internacional Mercer. A capital federal ocupa, entretanto, a 102ª posição no ranking mundial. "Usamos Nova York como parâmetro comparativo e, em quase todos os itens, o DF ficou abaixo da metrópole norte-americana. As cidades brasileiras se destacaram pelo fator ambiental. Como não temos furacões e terremotos, acabamos por ganhar qualidade de vida", explicou a consultora-sênior de capital humano da companhia, Renata Herrera.

No ano passado, Brasília ficou em 101º lugar. "A queda não é justificada por alguma piora na região, mas por melhorias em outras. No geral, as capitais europeias estão na frente. Viena, por exemplo, está em primeiro lugar em quase todos os itens. Mesmo assim, o DF sai na frente das outras cidades brasileiras em oportunidade de emprego, educação e serviços públicos. Estes fatores não foram levados em consideração pelo estudo", completou Renata.

Para o presidente do Conselho Comunitário do Sudoeste, Elber Barbosa, na capital federal a qualidade de vida dos brasilienses vem diminuindo nos últimos anos. "Ainda temos as melhores condições, principalmente, no mercado de trabalho e no meio ambiente. Mesmo assim, estamos perdendo em alguns quesitos, como preservação urbanística, trânsito e segurança pública. O policiamento de Brasília não estava preparado para o crescimento demográfico excessivo que presenciamos atualmente", avaliou.