Título: PSB reluta em apoiar Delgado
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2012, Brasil, p. 10

Bancada socialista vai reforçar a candidatura do colega mineiro na briga pelo comando da Câmara, mas direção da legenda está reticente

Após meses angariando apoio, mas sem receber nenhuma sinalização oficial, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) ganhou o reforço integral dos colegas da bancada para se candidatar à presidência da Câmara. No entanto, a cúpula do partido ainda está reticente quanto à ideia de lançar um nome próprio na disputa pelo comando da Casa. Os deputados socialistas decidiram, por unanimidade, referendar a candidatura de Júlio, mas o anúncio público da decisão foi adiada pelo direção nacional. A maior preocupação da sigla é que o deputado esteja apenas sendo incentivado por petistas contrários ao acordo para levar o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), ao comando da Câmara.

Parte dos 32 deputados federais do PSB aproveitou a presença do presidente do partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que estava em Brasília ontem, para informá-lo da decisão da bancada. Após evento em que discursou para os prefeitos eleitos pela legenda e concedeu entrevista coletiva à imprensa, Campos e os demais dirigentes foram cercados por parlamentares socialistas, como Romário (RJ), Márcio França (SP), Beto Albuquerque (RS) e Sandra Rosado (RN), que exigiram uma posição do comando partidário.

Eduardo evitou dar declarações incisivas e disse que falaria abertamente sobre o tema após ouvir o próprio Júlio e os demais integrantes da sigla nas próximas duas semanas. "O entendimento da direção tem sido que não adianta ir para a briga se não sentir que tem time para jogar", afirmou o deputado Severino Ninho (PSB-PE). "O presidente tem pedido cautela e repetido que a ansiedade é inimiga do êxito, e também diz que a melhor saída é sempre respeitar a proporcionalidade do Congresso, dando grandes espaços aos partidos maiores", comentou outro parlamentar socialista.

O receio dos caciques socialistas é, principalmente com o PT e o PMDB. Os dois partidos têm um acordo desde 2011 para que, após o comando do petista Marco Maia (RS), um peemedebista assumira a Casa em 2013. No entanto, parlamentares dissidentes de ambos os partidos ameaçaram romper o acordo e incentivaram Júlio Delgado a enfrentar Henrique Eduardo Alves. "O problema é que muitos dão tapinha nas costas, dizem que estão do lado do Júlio e não oficializam o apoio nem garantem que ele vai ter votos", reclama outro deputado do PSB.

Negociações Enquanto a própria legenda não se decide, Júlio Delgado mantém conversas com representantes de outros partidos e se mantém otimista. "A cada dia que passa, dou uma braçada à frente. Já passei do meio do oceano e, estando mais próximo do porto de chegada, fica mais difícil voltar", filosofa o deputado. Seu otimismo, porém, ainda pode esbarrar na possibilidade de grupos descontentes da Câmara escolherem a atual vice-presidente da Casa, Rose de Freitas (PMDB-ES), como interlocutora.

Até o início do mês, Rose se negava a atender pedidos para se lançar candidata, e sinalizou que apoiaria Júlio. Mas, nesta semana, ela mudou de ideia. "Decidi que vou aceitar o desafio", declarou a deputada ao Correio. "Quero fazer isso em nome de uma mudança necessária na estrutura da Casa, que hoje deixa o plenário de fora das decisões, limitando tudo a algumas lideranças", afirmou.