Título: PIB cresce só 0,6%
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2012, Economia, p. 14

Resultado do terceiro trimestre fica abaixo da expectativa. Investimentos têm a maior queda dos últimos três anos e, com bancos segurando empréstimos, setor de serviços apresenta variação nula

A economia brasileira continua emperrada pela falta de investimentos e pela desconfiança do setor produtivo. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,6% no terceiro trimestre em relação ao segundo e só 0,9% na comparação com igual período do ano anterior, somando R$ 1,09 trilhão. Ao ficar abaixo da menor das estimativas que vinham sendo feitas nas últimas semanas, os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decepcionaram investidores e analistas, e criaram um clima de tensão e nervosismo na equipe econômica do governo.

Na noite de quinta-feira, ao ser informada do resultado, a presidente Dilma Rousseff cobrou explicações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vinha apostando em uma aceleração mais intensa da atividade econômica naquele período. O cenário descortinado pelo IBGE, no entanto, foi bem diferente das previsões traçadas nos gabinetes do ministério. Com ajuste sazonal, o resultado acumulado nos quatro trimestres terminados em setembro revela uma economia crescendo ao ritmo também de 0,9%. Se for considerada a performance apenas dos nove primeiros meses de 2009, o avanço é ainda mais tímido, de 0,7%. O desempenho pífio conseguido até agora indica que nem mesmo a já modesta estimativa do Banco Central de que o PIB poderia avançar 1,6% em 2012 deverá ser alcançada.

Mantega, que na semana passada ainda apostava em alta trimestral de 1,3% , ontem se disse “surpreso” com o “pibinho”, mas, sobretudo com o comportamento do setor de serviços, responsável por 60% da composição do indicador, que teve variação nula no período. “Não foi tão alto como todo mundo esperava”, disse ele, em São Paulo. Como Mantega, nenhum dos principais analistas do mercado estimava um aumento menor do que 1%.

Mesmo assim, o ministro manteve o discurso otimista, disse que nos últimos três meses do ano a economia deve crescer 1% e reafirmou a aposta em uma expansão de 4% do PIB em 2013. Embora frustrado com o resultado trimestral, o chefe da Fazenda afirmou ter ficado “satisfeito” por ver que o índice de aumento foi mais elevado do que nos períodos anteriores. “O que está acontecendo na economia brasileira é um movimento difuso de recuperação de todos os setores”, garantiu. A mesma avaliação foi manifestada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que, em nota, afirmou que os dados do IBGE “indicam continuidade da recuperação da atividade econômica neste segundo semestre”.

Tombo Apesar de os consumos do governo e, sobretudo, das famílias terem apresentado forte expansão na comparação com o terceiro trimestre de 2011, os técnicos do IBGE apontam o tombo dos investimentos como fator mais preocupante e o vilão do baixo crescimento do PIB. A formação bruta de capital fixo (FBCF), que mede a compra de máquinas e equipamentos voltados à atividade produtiva doméstica, despencou 5,6% na comparação anual e caiu 2% em relação ao trimestre anterior.

Foi a quinta retração trimestral seguida dos investimentos e a queda mais forte dos últimos três anos e meio, mostrando que as medidas tomadas pelo governo para estimular a atividade não foram capazes de superar a desconfiança dos empresários sobre os rumos da economia e convencê-los a tirar da gaveta os projetos de ampliação ou construção de novas fábricas. “O que puxou o PIB para baixo foi o recuo na produção de bens de capital, como consequência imediata do cenário de incertezas no Brasil e no exterior”, comentou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.

Mas a grande novidade do cálculo do PIB no terceiro trimestre veio do recuo das atividades bancárias. O desempenho atípico da intermediação financeira, que tem peso de 7% na economia, foi determinante para a estagnação do setor de serviços e contaminou o resultado global. “Trata-se de um paradoxo, no qual a redução das taxas de juros cobradas pelo setor financeiro não representou aumento expressivo da demanda e melhora do desempenho das empresas”, sublinhou Roberto Luís Ramos, coordenador de Contas Nacionais do IBGE. Na realidade, os bancos refrearam os empréstimos, preocupados com o alto índice de inadimplência dos clientes.