Título: Dólar pode ser novo estímulo
Autor: Ribas, Sílvio; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2012, Economia, p. 15

O governo deu sinais ontem de que pode usar a desvalorização do real como estratégia para incentivar o crescimento econômico em 2013, segundo analistas ouvidos pelo Correio. Reagindo à onda de pessimismo que atingiu o setor produtivo com a divulgação do fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, o dólar teve uma alta de 1,6% e rompeu a barreira dos R$ 2,10 que vinha sendo mantida pelo Banco Central (BC) como um teto informal para a alta da moeda norte-americana. A divisa fechou em R$ 2,13, na maior elevação desde maio de 2009.

O que chamou mais a atenção, contudo, foi que o BC não interveio no mercado e permitiu a subida das cotações. Nos últimos meses, sempre que a moeda ameaçava ultrapassar esse limite, o governo agiu para conter a valorização. Para os analistas, foi um sinal de que o BC decidiu permitir uma alta mais significativa do dólar para estimular as exportações e a atividade econômica.

Com o real mais fraco, o preço do produto brasileiro exportado fica mais competitivo, o que dará um novo ânimo a uma indústria exportadora que ainda busca forças para se recuperar do baque provocado pela crise financeira global. Para o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno, a alta de 1,6% na cotação da moeda, ontem, e de 2,11%, na semana, refletem bem essa disposição do governo em utilizar o real desvalorizado como instrumento de incentivo à economia.

O economista sênior do banco BES Investimento, Flávio Serrano, citou ainda que o menor desempenho do PIB no ano poderá levar o BC a postergar a subida de juros em 2013. “Com esse crescimento fraco da economia em 2012, muito dificilmente teremos aumento de juros ano que vem.” O banco trabalhava com a possibilidade de que a autoridade monetária elevasse os juros nas duas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2013. “Agora, é provável que essa alta seja deslocada para o começo de 2014”, disse Serrano.

Em linha com as análises, os chamados juros futuros, que indicam as estimativas do mercado para o longo prazo, passaram a projetar, ontem, a elevação da taxa básica apenas em 2014, diferentemente de um dia antes, quando a curva indicava um reajuste da Selic já no fim de 2013.