Título: Investimento recua 2%
Autor: Ribas, Sílvio; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2012, Economia, p. 15

Essencial para impulsionar a economia, indicador da compra de máquinas e equipamentos cai pela quinta vez consecutiva

O desempenho pífio da economia no terceiro trimestre do ano, de apenas 0,6% sobre os três meses anteriores, deixou evidente o que o próprio governo já reconhece internamente: o tão esperado crescimento de 4% em 2013 dependerá cada vez mais de investimentos e não mais apenas do consumo ainda aquecido. Com diferentes mercados de bens sendo ainda mais atendidos por importados, com gargalos de infraestrutura e ganhos de produtividade concentrados mais no agronegócio, só o investimento pode sustentar crescimento mais acelerado do Produto Interno Bruto (PIB), avaliam analistas.

Pelo quinto trimestre consecutivo, a taxa de investimentos na economia operou no vermelho, caindo 2% ante o trimestre anterior. No ano, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o consumo de máquinas e equipamentos destinados ao setor produtivo, já despenca 3,9%. Foi a pior retração desse indicador em três anos, o que acendeu um sinal amarelo no Planalto. Conforme antecipou ao Correio uma fonte da equipe econômica, o governo vai lançar mão de novas medidas de desoneração ao setor produtivo para tentar impulsionar a retomada da atividade em 2013.

O primeiro anúncio será feito na semana que vem, com a extensão, por mais um ano, do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). O segundo passo será incluir mais setores na lista de 25 já beneficiados com a desoneração da folha de pagamento. A construção civil é um dos que estão na fila. Com a medida, em vez de calcularem a contribuição previdenciária com base na folha de salários, as empresas recolhem o tributo com base em uma taxa entre 1% e 2% do faturamento. Ontem, ao comentar o resultado do PIB, Mantega confirmou que novas desonerações estão no radar do governo. “Continuaremos tomando medidas, principalmente no âmbito de financiamentos para investimentos”, disse.

A preocupação do governo se deve à constatação de que a ainda lenta melhora da economia não tem sido acompanhada pela expansão do investimento. Foram ao todo cinco resultados trimestrais negativos consecutivos na comparação anual, igualando o desempenho da crise de 2008 e 2009. Na comparação contra o terceiro trimestre de 2011, a desaceleração chegou a 5,6%. “Esse foi o maior recuo nessa base de comparação desde o terceiro trimestre de 2009”, ressaltou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.

Com isso, os investimentos produtivos completaram o mais longo período de queda em 13 anos. Esse desempenho é menor apenas do que as seis quedas verificadas entre o segundo trimestre de 1998 e o terceiro de 1999. Para o economista-sênior do banco português BES Investimento, Flávio Serrano, após tantas quedas, é provável que os próximos números retornem ao campo positivo. A perspectiva também é compartilhada pelo governo, que acredita em uma retomada já a partir do quarto trimestre deste ano. “A dinâmica de investimento está pressionada, com dificuldade para reagir. Mas é natural que tenha alguma recuperação”, disse Serrano.

Divisa em alta R$ 2,13 Cotação de fechamento da moeda norte-americana ontem

Juros em queda Em um ano e meio, a taxa básica despencou 5,25 pontos percentuais (Em % ao ano)

Mês Selic Jul/11 12,5 Ago/11 12 Out/11 11,5 Nov/11 11 Jan/12 10,5 Mar/12 9,75 Abr/12 9 Mai/12 8,5 Jul/12 8 Ago/12 7,5 Set/12 7,25 Nov /12 7,25

Fonte: Banco Central

Antonio Cruz/ABr - 13/9/12 Segundo Mantega, governo tomará novas medidas para que empresas tirem planos de ampiação da gavetaIndústria patinaRio de Janeiro e Brasília — Com grande peso no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), o setor industrial manteve o freio sobre o desempenho da economia. No terceiro trimestre, embora tenha esboçado uma pequena reação ante o trimestre anterior, motivada por incentivos do governo para a venda de bens duráveis, o crescimento de 1,1% ficou longe do esperado. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a produção industrial recuou 0,9%, mostrando que a política de estímulos ainda foi insuficiente para uma retomada mais firme.

“Apenas a indústria de transformação, que representa 53% da indústria total e 14,5% do PIB brasileiro, caiu 1,8% em relação a igual período de 2011”, sublinhou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE. Já em relação ao segundo trimestre, houve crescimento de 1,5%, influenciado pelo consumo das famílias. Com isso, lembrou, os elevados estoques mantidos pelo setor começaram a ceder só recentemente, quando R$ 11 bilhões foram queimados, entre julho e setembro.

Decepção

O maior destaque positivo na indústria na comparação anual dos trimestres foi o setor de produção de eletricidade, gás e água, com alta de 2,1%. O negativo foi a extrativa mineral, com um tombo de 2,8%, influenciado essencialmente pelo recuo na produção de petróleo. Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o desempenho a maioria dos componentes do setor industrial tiveram “resultados decepcionantes”.

Conforme o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a ligeira melhora da indústria como um todo, apesar de positiva, ainda não deve levar empresários a desengavetar planos de investimentos produtivos, o que ajudaria o setor a aumentar o ritmo de produção e, com isso, a diminuir o descompasso entre oferta e demanda. “A indústria melhorou o seu desempenho no terceiro trimestre, mas ainda é cedo para que isso tenha reflexos mais significativos nas decisões de investir dos empresários”, escreveram os economistas da entidade, em nota divulgada ontem. (SR e DB)

Palavra de especialistaCenário preocupa

O recuo por cinco trimestres consecutivos do investimento é preocupante, tanto que estamos projetando uma queda da Formação Bruta de Capital Fixo (FBC) de 5% em 2012. A última vez que essa taxa havia caído tanto foi em 2009, no auge da crise, quando despencou 6,7%. É fato que o cenário internacional contribui para esse quadro de pessimismo. Hoje, existe uma menor demanda por investimento ao redor do mundo. É claro que a própria condução da política econômica brasileira, com medidas muito intervencionistas, acaba abalando também a confiança do mercado, o que gera um entrave ao investimento. Se observarmos outros países da América Latina, como Chile e Colômbia, que estão sujeitos ao mesmo cenário externo que o Brasil, o investimento está crescendo. Portanto, nesse cenário de queda de 5% no ano, acreditamos que o médio prazo também será muito comprometido. O país só conseguirá crescer acima de 3,5%, se a taxa de investimentos sobre a economia voltar a operar acima de 18% ou 19% do PIB.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências