Valor econômico, v.20, n.4990, 29/04/2020. Empresas, p. B5

 

Laboratório suíço prevê vacina em outubro

Assis Moreira

29/04/2020

 

 

A esperança de uma vacina para frear as mortes causadas pela covid-19 dá um certo ânimo nos mercados financeiros, e um laboratório suíço acredita ter chances nessa corrida desenfreada.

A Saiba Biotech, que reúne cerca de 50 pesquisadores em seu projeto, espera ser a primeira a produzir a vacina e a inocular grande parte da população suíça já nos próximos meses.

Martin Bachmann, um dos fundadores do laboratório e chefe de imunologia da Universidade de Berna, aponta chances reais de a vacina ser bem sucedida. "Esperamos ter vacinas suficientes até outubro para imunizar a maioria da população suíça", disse ao Valor. "Vamos começar com os grupos de risco, em particular os idosos e depois imunizar a maioria do resto da população. Não vamos imunizar crianças."

A vacina em desenvolvimento pela equipe suíça tem uma abordagem diferente dos outros laboratórios. Utiliza as chamadas partículas semelhantes ao vírus. Injeta um vírus sintético não infeccioso para o homem e proporciona uma boa resposta imunológica.

Um protótipo foi desenvolvido em fevereiro, poucas semanas depois da identificação do novo coronavírus na China, e teve sucesso nos testes em ratos de laboratório, quando o soro neutralizou o vírus.

Para imunizar os suíços ainda neste ano, serão necessárias de 10 a 15 milhões de doses da vacina. Bachmann estima que o laboratório terá capacidade de produzir milhões de doses em um curto espaço de tempo.

Indagado se a Saiba tem o dinheiro para o desenvolvimento da vacina até o ponto em que ela possa ser produzida em grande escala, Bachmann deu uma resposta curta: "Sim." O investimento é estimado em 100 milhões de francos suíços (US$ 103 milhões).

A Saiba reúne pesquisadores em Berna, Zurique, Waedenswill (Suíça), Riga (Letônia) e Anhui (China). A expectativa é de obter na Suíça a aprovação com base na fase II de testes. As autoridades suíças acompanham, sem comentários, limitando-se a informar que há outros três projetos de vacina contra o covid-19 em pesquisa no país.

Ontem, a americana Pfizer disse que pode ter uma vacina contra o coronavírus pronta para uso em caráter emergencial no outono (no Hemisfério Norte), caso seja aprovada nos testes de segurança.

Os testes da vacina, que já começaram na Alemanha, podem chegar aos EUA já na próxima semana, se os reguladores de saúde aprovarem, disse o presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla, em entrevista. Os resultados do estudo podem chegar já no próximo mês, disse Bourla.

A Pfizer precisaria fazer mais testes para garantir que a vacina funcione com segurança. Se todos os testes forem bem-sucedidos, a Pfizer poderá começar a distribuir a vacina em caráter emergencial no outono e receber aprovação para ampla distribuição até o final do ano, disse Bourla.

Globalmente há mais de 80 programas de vacinas contra o vírus que já matou mais de 210 mil pessoas. Cerca de 3 bilhões de pessoas em "lockdown" para se precaver da pandemia, na espera de tratamento ou vacina.

Na corrida atualmente, um dos projetos mais avançados é do Instituto Jenner, da Universidade de Oxford. A primeira dose administrada em humanos ocorreu na semana passada. Cientistas do National Institute of Health's Rocky Mountain, em Montana (EUA) inocularam seis macacos com doses da vacina do Instituto Jenner, da Universidade de Oxford. Os animais foram depois expostos a pesadas quantidades do vírus da pandemia. E 28 dias depois, todos os seis macacos estavam com boa saúde.

Pesquisadores de Oxford esperam que a vacina esteja disponível até setembro - vários meses à frente das estimativas da OMS, que menciona sempre algo entre um ano e 18 meses - se ficar provado que é efetiva.

Outros dois laboratórios dos EUA, Moderna e Inovio, começaram testes clínicos e com tecnologias envolvendo material genético modificado. Na China, está em teste uma vacina preparada pela Academia de Ciências Médicas Militares e pela companhia CanSino, cotada na bolsa de Hong Kong.

Perguntado sobre qual laboratório, afinal, será o primeiro a ter a vacina efetiva, Bachmann responde: "Boa pergunta. O tempo vai dizer. Eu acho que a China será a última. Será muito difícil produzir grandes quantidades de vírus inativados."

Ele é também é professor de vacinologia no Instituto Jenner da Universidade de Oxford, mas esclarece que seu projeto do Saiba e Universidade de Berna é completamente separado. (Com Dow Jones Newswires)