O globo, n. 31691, 13/05/2020. País, p. 8

 

Em vídeo, Weintraub pede prisão de ministros do STF

Bela Megale

Aguirre Talento

13/05/2020

 

 

Imagens da reunião do conselho ministerial, que ocorreu em 22 de abril, no Palácio do Planalto, também mostraram falas de Damares Alves defendendo a detenção de prefeitos e governadores 

JORGE WILLIAM 5/12/2019Crítica aos Poderes. Titular da Educação afirmou que membros do Supremo deveriam ir para a cadeia; declaração de Weintraub não surpreendeu ministros

 No vídeo da reunião do conselho de ministros exibido ontem aos investigadores, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). No mesmo encontro, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, falou em detenção de prefeitos e governadores.

O encontro ocorreu em 22 de abril, no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Jair Bolsonaro, e foi citado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal, em 2 de maio, como prova da tentativa de interferência política do presidente no comando da PF.

Segundo relatos de quatro pessoas que assistiram à gravação da reunião ministerial, Weintraub afirmou que “tem que mandar todo mundo para a cadeia, começando pelo STF”. A declaração do titular da Educação não surpreendeu os ministros do Supremo.

Os presentes relataram que a frase foi dita enquanto Weintraub criticava as pessoas que atuam nos Poderes em Brasília. Como O GLOBO informou, na mesma reunião, o presidente Jair Bolsonaro disse que a troca do comando da Polícia Federal no Rio teria o objetivo de proteger seus familiares e aliados.

O vídeo do encontro também traz falas da ministra Damares Alves defendendo a prisão de prefeitos e governadores.

A gravação, com mais de duas horas de duração, foi assistida ontem por Sergio Moro, que estava acompanhado de seus advogados. Também estavam presentes policiais federais, procuradores da equipe da Procuradoria-Geral da República e integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU), responsáveis pela defesa de Bolsonaro. Todos tiveram que deixar os telefones celulares do lado de fora da sala.

INQUÉRITO POR RACISMO

No fim do mês passado, o ministro Celso de Mello, do STF, autorizou abertura de inquérito pela Polícia Federal para a investigar Abraham Weintraub por suspeita de crime de racismo por causa das declarações que fez em sua conta no Twitter sobre a China. A prática de ato considerado preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é punível com reclusão de um a três anos e multa, com agravante de ter sido feito por meios de comunicação. Em seu Twitter, o ministro da Educação insinuou que os chineses poderiam se beneficiar da crise decorrente da escalada da Covid-19.

No despacho, o ministro atendeu pedido do Ministério Público Federal (MPF) determinando que sejam obtidos os dados digitais da conta de Weintraub em rede social. Por solicitação do vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, responsável pelas investigações criminais da PGR perante o Supremo, Celso de Mello determinou à Polícia Federal que tome o depoimento de Weintraub.

O ministro do STF rejeitou pedido do MPF para que fosse concedido à autoridade investigada o direito de marcar horário e local do depoimento. Segundo Celso de Mello, investigados não têm essa prerrogativa, apenas vítimas e testemunhas. O ministro também retirou o sigilo da investigação. O caso chegou à PGR a partir de representação do PSOL na Câmara e também de um cidadão que não quis ser identificado.