O globo, n. 31691, 13/05/2020. País, p. 8

 

Bolsonaristas de ato na porta de Moraes se tornam réus na Justiça

Cleide Carvalho

13/05/2020

 

 

Protestos eram contra decisão de suspender nomeação de Alexandre Ramagem

REPRODUÇÃO/REDES SOCIAISContra o STF. Manifestantes em frente ao prédio do ministro, em São Paulo

 A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia contra Antonio Carlos Bronzeri e Jurandir Alencar, que participaram de protesto em frente ao prédio onde mora Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Os manifestantes foram denunciados pelo Ministério Público estadual pelos crimes de ameaça, difamação, injúria e perturbação do sossego.

A decisão foi tomada ontem pelo juiz Márcio Sauandag, da 22ª Vara Criminal de São Paulo, que deu prazo de 10 dias para que os dois réus apresentem defesa por escrito.

O grupo de manifestantes se reuniu em frente ao prédio de Moraes em 2 de maio para protestar contra a decisão do ministro de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal e pediram a saída do ministro da Suprema Corte. Moraes foi contra o nome de Ramagem alegando que a medida feria a impessoalidade do cargo de presidente, uma vez que o indicado é amigo pessoal da família de Jair Bolsonaro.

Em 3 de maio, a Justiça já havia determinado punições para os dois manifestantes que foram presos em flagrante. Segundo a decisão, eles deveriam manter uma distância mínima de 200 metros do ministro, além de impedir qualquer outro contato por meios de comunicação.

Foi determinado, ainda, o recolhimento domiciliar durante a noite e nos dias de folga para os dois. Eles também estão proibidos de deixar a cidade por mais de oito dias sem autorização judicial e devem comparecer em juízo quando o Tribunal de Justiça de São Paulo retomar as atividades.

A promotora Alexandra Milaré Santos afirmou que os manifestantes permaneceram por cerca de duas horas em via pública, realizando diversas ameaças à vítima, tais como “você e sua família jamais poderão sair nas ruas deste país, nem daqui a 20 anos". Além disso, usaram um caixão para simular a morte do ministro. Alexandra pediu que as penas sejam agravadas porque os crimes foram cometidos contra funcionário público e a manifestação ocorreu durante período de calamidade pública em função da pandemia de Covid-19. 

ATAQUES E PALAVRÕES

O grupo levou bandeiras do Brasil e dirigiu ataques também ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP). De acordo com imagens divulgadas nas redes sociais, cerca de 20 pessoas estavam no local. Um dos vídeos registra o momento em que o grupo diz palavrões.

A polícia foi chamada e três manifestantes foram levados à 14ª Delegacia de Polícia, em Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista. Dois deputados da base bolsonarista da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) foram à delegacia para dar assistências aos detidos.

Bronzeri é alvo de outra ação do Ministério Público, que retirou do ar vídeos de sua autoria que difundiam a falsa informação de que a pandemia da Covid-19 não existia. Além disso, ele é envolvido em crime deste tipo. Em janeiro de 2019, o PSOL anunciou que entraria com ação judicial contra ele e contra a blogueira Regina Villela, então filiada ao PSL. Na época, ele foi acusado de propagar mentiras e discursos de ódio em redes sociais contra Jean Wyllys, logo depois de o parlamentar ter anunciado que deixaria o Brasil por receber ameaças.

Uma das fake news afirmava que Wyllys estaria saindo do Brasil por estar envolvido “com a tentativa de assassinato contra Jair Bolsonaro”, em setembro de 2018, durante a campanha eleitoral.O PSOL afirmou à época que Regina Villela era autora de um vídeo, contendo a mesma mentira, divulgado no canal “Politicaplay” do YouTube. No vídeo, ela contracenava com Bronzeri.