Título: A resposta de Israel
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2012, Mundo, p. 24

Em represália à vitória da Palestina na ONU, governo de Tel Aviv decide construir mais de 3 mil casas em assentamentos na Cisjordânia

Um dia depois da ONU aprovar a resolução que elevou o status da Palestina a Estado observador não membro, o governo de Israel autorizou ontem a construção de casas de colonos em áreas da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. A medida foi anunciada em meio ao apelo internacional por diálogo para a solução do conflito e vista como retaliação pelos palestinos. O governo israelense não reconheceu se tratar de represália nem informou quando terão início as construções. Mas jornais locais, citando fontes oficiais, noticiaram que algumas das novas residências devem ser edificadas na polêmica área E1, cortando a Cisjordânia em duas. Analistas consideraram que status aprovado na Assembleia Geral é um fator novo em um estático processo de paz, mas se dizem céticos de que ele trará avanços.

Líderes palestinos classificaram a autorização israelense de vingança e um “tapa na cara” dos que apoiaram o pedido apresentado pelo presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas. Membro do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Hanan Ashraui disse que a expansão faz parte de uma “plano de colonização global” por parte de Israel. Citados pelo jornal israelense The Times of Israel, o porta-voz de Abbas, Nabil Rudeineh, e o negociador oficial palestino, Saeb Erekat, também criticaram a decisão. “(A medida) foi um tapa na cara do mundo, que votou a favor do Estado da Palestina”, disse Rudeineh. Erekat acusou Israel de “desafiar toda a comunidade internacional e insistir em destruir a solução para dois Estados”.

Segundo a mídia israelense e internacional, Israel tem planos para construir mais de 3 mil casas em áreas palestinas. O jornal New York Times, citando uma fonte do governo, disse que a decisão foi tomada na noite de quinta-feira após a votação na ONU. O avanço das construções poderá representar, de acordo com a publicação, a conexão entre o assentamento de Maale Adumim, na Cisjordânia, e a cidade de Jerusalém (em Israel), tornando impossível uma futura ligação entre as cidades palestinas de Ramallah e Belém e formando um corredor dentro da Cisjordânia. O gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, não comentou a medida.

O avanço dos assentamentos israelenses em território palestino é um dos principais entraves nas negociações de paz dos dois povos. Frequentemente, é motivo de protestos dos palestinos, como ocorreu ontem no vilarejo de Maasarah, próximo a Belém. O presidente Abbas chegou a afirmar no passado que não retomaria as conversações enquanto as construções não fossem congeladas. Maior aliado de Israel, os Estados Unidos têm sido críticos ao crescimento das colônias judaicas nessa área e, ontem, alertaram que a ação é “contraprodutiva” e dificultará a retomada das conversações de paz.

Antes da autorização ser conhecida, vários países haviam chamado palestinos e israelenses a retomarem as negociações. Abbas, ainda em Nova York, conclamou ao diálogo. “Disse mil vezes que queremos retomar as negociações estamos dispostos a fazê-lo, mas existem pelo menos 15 resoluções da ONU que consideram a colonização ilegal e um obstáculo para a paz”, declarou a jornalistas.

Israel e EUA se opuseram fortemente à iniciativa de Abbas na ONU. Mas o pedido foi aprovado por 138 dos 188 países votantes. Nove se opuseram e 41 se abstiveram. O novo status de Estado observador permitirá acesso da Palestina a outros organismos da ONU, como o Tribunal Penal Internacional (TPI). Na quinta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considerou que, ao apresentar a solicitação, os palestinos “violaram seus acordos com Israel”. “Israel atuará como consequência”, afirmou, contradizendo posições iniciais de que não haveria retaliação.

(A medida) foi um tapa na cara do mundo, que votou a favor do Estado da Palestina

Nabil Rudeineh, porta-voz do governo palestino

Panamá na contramão

O Panamá foi o único país da América Latina a votar contra o reconhecimento da Palestina como Estado observador não membro da ONU. Sua posição foi na contramão da maioria dos países da região que votaram a favor, inclusive o Brasil. O Ministério das Relações Exteriores panamenho divulgou um comunicado em que diz que, para ser reconhecida como Estado, a Palestina deve primeiro negociar de forma direta um processo de paz com Israel na qual se reconheça o direito do país hebreu a sua segurança. “O governo panamenho considera que a Palestina tem o direito de ser reconhecida como Estado e, consequentemente, fazer parte da comunidade internacional das Nações Unidas, no entanto, para isso, deve primeiro, resolver suas diferenças com seu vizinho, o Estado de Israel”, afirma o texto. Por essas razões, o governo de Ricardo Martinelli “lamenta não poder apoiar a resolução pela Palestina”.

Longo caminho

Datas que marcam a busca dos palestinos para a criação de um Estado:

» 29 de novembro de 1947: A Assembleia Geral da ONU adota a resolução 181 sobre a divisão da Palestina, na época sob mandato britânico, e para a criação de dois Estados, um judeu e outro árabe, com Jerusalém com um status internacional. A resolução é rejeitada pelos países árabes.

» 28 de maio de 1964: Criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)

» 22 de novembro de 1974: A Assembleia Geral da ONU reconhece o direito dos palestinos à autodeterminação e à independência e a concede um status de observador à OLP.

» 6-9 de setembro de 1982: A Liga Árabe adota o plano de Fez, que reconhece implicitamente Israel e prevê a criação de um Estado palestino e a retirada israelense de todos os territórios ocupados em 1967.

» 15 de novembro de 1988: Proclamação em Argel do “Estado palestino independente”, aceitação das resoluções 242 e 338 da ONU convocando uma retirada israelense dos territórios ocupados em 1967 e uma solução negociada.

» 13 de setembro de 1993: Depois de seis meses de negociações secretas em Oslo, Israel e a OLP se reconhecem mutuamente e assinam em Washington uma declaração de princípios sobre uma autonomia palestina transitória de cinco anos. O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, e o chefe da OLP, Yasser Arafat, se cumprimentam com um aperto de mãos histórico.

» 1º de julho de 1994: Arafat cria em Gaza a Autoridade Palestina, da qual será eleito presidente em janeiro de 1996.

» 12 de março de 2002: Resolução 1397 do Conselho de Segurança mencionando pela primeira vez o Estado palestino.

» 30 de abril de 2003: Publicação do mapa do caminho elaborado pelo Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, ONU, Rússia e UE), que prevê um Estado palestino até 2005. Os palestinos aceitam o plano, Israel o adota em maio, mas faz 14 objeções.

» 14 de junho de 2009: o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, aceita o princípio de um Estado palestino, embora sob condições rígidas.

» 8 de outubro de 2010: Durante uma reunião árabe na Líbia, o presidente palestino, Mahmud Abbas, apresenta alternativas às negociações de paz estagnadas, entre as quais figura a demanda de adesão à ONU de um Estado da Palestina nas fronteiras de 1967.

» 23 de setembro de 2011: Abbas apresenta à ONU o pedido de admissão do Estado da Palestina, que não foi levado ao Conselho de Segurança por não ter os nove votos necessários de seus integrantes.

» 31 de outubro de 2011: os palestinos se tornam membros de pleno direito da Unesco.

» 29 de novembro de 2012: Assembleia Geral da ONU aprova resolução que eleva a Palestina ao status de Estado observador das Nações Unidas .