Título: Histórico de conflitos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2012, Política, p. 2

Tantas dissidências e confusões — o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também ameaça lançar-se como candidato a presidente, sem o apoio formal da cúpula do próprio partido — remete, inevitavelmente, à 2005, quando a base aliada rachada permitiu a eleição do "nanico" Severino Cavalcanti (PP-PE) como presidente da Câmara. Na esteira da confusão política iniciada em fevereiro, veio o escândalo do mensalão, com desdobramentos que chegam até os dias de hoje, com o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em dezembro de 2004, o PT tinha quatro pré-candidatos à presidência: Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), Arlindo Chinaglia (SP), Virgílio Guimarães (MG) e Paulo Rocha (PA). Rocha e Chinaglia desistiram no meio do caminho. Greenhalgh foi escolhido pelo presidente Lula, apoiado pelo então presidente do PT, José Genoino . Mas Virgílio, incensado pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), se manteve firme como candidato. Perdeu no voto da bancada, mas foi até o plenário.

Cavalcanti nunca foi um nome forte na disputa. Conhecido como o "rei do baixo clero", prometia agrados e benesses para os deputados que não se sentiam representados pelos parlamentares das cúpulas. Mas encontrou uma brecha na disputa interna do PT e viabilizou o próprio nome.

Em 2003, João Paulo havia sido eleito presidente da Casa com mais de 90% dos votos. Dois anos depois, a disputa seria decidida em segundo turno. Rachada, a base aliada viu na divisão petista a oportunidade de dar o troco no PT. Greenhalgh e Severino passaram para um novo escrutínio, na mesma noite. A oposição, liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, orientou o voto no candidato pepista, que tornou-se presidente da Casa. "Fui dormir à noite e acordei com Severino presidente", irritou-se Lula. Severino foi afastado do cargo no meio do ano acusado de cobrar propina do dono de um restaurante da Câmara.