Título: PSB desembarca do governo
Autor: Marcos, Almiro; Paganini, Arthur
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2012, Cidades, p. 36

Aliado histórico do PT, partido do senador Rodrigo Rollemberg decide deixar a base de apoio de Agnelo Queiroz. A decisão foi referendada ontem durante plenária regional da sigla, que já articula aliança com o PDT

Um dos principais aliados na campanha vitoriosa de Agnelo Queiroz (PT) em 2010, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) anunciou ontem oficialmente a saída da base de apoio do Governo do Distrito Federal (GDF). A relação já vinha se desgastando desde o ano passado. O posicionamento da plenária regional do PSB, realizada ontem pela manhã no auditório Parlamundi da Legião da Boa Vontade (LBV), na 916 Sul, confirmou uma decisão tomada anteriormente durante 15 reuniões zonais feitas nas cidades do DF.

Segundo o presidente regional da legenda, Marcos Dantas, o desembarque da base se deve "ao distanciamento dos compromissos de campanha pelo governo". "Entre tantos exemplos, poderia citar a saúde como o principal problema", apontou.

A votação de ontem revelou a preferência de 85% dos filiados pela saída do GDF e pela adoção de uma posição "de total independência em relação à administração regional", conforme nota divulgada após o resultado das urnas. Foram 241 votos pelo desligamento contra 43 pela manutenção da aliança com o GDF e uma abstenção. A saída do ex-secretário de Agricultura, Lúcio Valadão, e do ex-presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), José Guilherme Leal, foram oficializadas na última segunda-feira.

Uma reunião da Executiva do partido deve ser realizada amanhã para definir a saída dos demais integrantes da sigla que estão no governo, mas Dantas crê ser possível uma "transição até o fim do ano" para que todos desembarquem de vez do GDF. Segundo o presidente da legenda, o PSB concentra cerca de 60 cargos, entre os quais a Secretaria de Turismo, a Administração do Lago Norte e a presidência da Central de Abastecimento do DF (Ceasa-DF).

Mesmo com o afastamento no âmbito regional, o senador e secretário de Organização do PSB-DF, Rodrigo Rollemberg, permanecerá como aliado político da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Após o resultado da votação de ontem, durante coletiva de imprensa, Rollemberg refutou qualquer vínculo entre a decisão tomada pelo partido e uma eventual candidatura dele ao governo, em 2014. "Não tem nada a ver. A decisão é de todo o partido. Não veio de cima, afinal, ouvimos as nossas bases e elas indicaram a posição de independência em relação ao governo", explicou (leia Seis perguntas para).

Busca de apoio Durante a coletiva, Dantas e Rollemberg deixaram claro que buscarão no Distrito Federal o apoio do Partido Democrático Trabalhista (PDT), do senador Cristovam Buarque. Mas uma aproximação com o Partido Socialismo e Liberdade (PSol), apesar de não ter sido citada pelos dois, é possível, caso os dirigentes do partido optem por explorar o fato de que há, no DF, siglas de esquerda que não participam ou que "foram abandonados" pelo governo, como o PDT. Pedetistas, aliás, também anunciaram independência em relação ao GDF recentemente.

Rompida agora, a relação de Agnelo Queiroz com Rollemberg vinha de outras eleições. Os dois estiveram juntos em 2006, quando PSB e o PCdoB (sigla que, à época, abrigava o governador) se uniram para lançar uma chapa alternativa ao Palácio do Buriti. Mas, por fim, acabaram decidindo apoiar a petista Arlete Sampaio. Já em 2010, Agnelo foi o candidato ao governo e Rollemberg, ao Senado. Ambos saíram vitoriosos.

A posição tomada ontem pelo PSB também encontrará eco nos corredores da Câmara Legislativa, onde o único distrital da legenda, Joe Valle, é apontado como um dos mais fiéis seguidores do Palácio do Buriti. Em discurso durante a plenária de ontem, o distrital disse que vai "defender os interesses de Brasília. "Vou criticar quando ele (o governo) tiver de ser criticado e apoiar, quando for o caso", afirmou.

Crises As relações entre o governo e seu antigo aliado começaram a azedar ainda no ano passado. O primeiro sinal de crise veio no primeiro semestre, com a indicação de aliados do ex-deputado distrital Pedro Passos (PMDB) para cargos ocupados pelo PSB na Emater, empresa sob forte influência do grupo capitaneado por Rollemberg. Depois, em novembro de 2011, ocorreu a demissão de Paulo Sérgio Bretas de Almeida Salles da direção da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP), que também era indicação do partido.

Queixas Primeiro foi a Executiva Regional do PDT que anunciou a saída da base do governo, em setembro do ano passado. O partido tinha feito parte da aliança que elegeu Agnelo e reclamou de falta de espaço na administração. No entanto, a situação foi contornada até abril de 2012, quando a Executiva Nacional determinou o rompimento da parceria. A decisão levou à saída do então secretário do Trabalho, Glauco Rojas, e do administrador do Lago Norte, Marcos Wortmann, ambos ligados ao distrital Israel Batista. Este último permaneceu mais três meses no partido. Em meados de julho, ele se filiou ao PEN e voltou à base de Agnelo Queiroz na Câmara Legislativa.

Seis perguntas para Rodrigo Rollemberg, senador e secretário de organização do PSB-DF

Qual a razão da saída do PSB da base do governo Agnelo Queiroz? O desconforto não é recente, já vem de longe. Desde o ano passado. Não foi uma decisão tomada apenas pela plenária regional. Tivemos o cuidado de ouvir a nossa base para saber o que os filiados pensam. Realizamos 15 reuniões nas cidades do DF no último mês e, em todas, a posição foi para deixar o governo.

Quais as justificativas para a decisão? Isso não antecipa as próximas eleições. Na verdade, só indica uma insatisfação do partido em relação à condução administrativa e política do governo. Agnelo Queiroz se afastou dos compromissos de campanha e de aliados históricos, como o PSB e o PDT. Não queremos compactuar com o que vem ocorrendo. Entendemos que o DF enfrenta graves problemas nas áreas de saúde e segurança. Além disso, o Executivo não vem tendo um diálogo com os movimentos sociais. As alianças políticas feitas posteriormente à eleição têm afastado o governo de seus compromissos e isso traz uma grave deficiência administrativa. O PSB não concorda e quer se manter independente.

O senhor cita questões negativas do governo, mas houve algo de positivo? É claro que existiram também alguns avanços, mas não estamos saindo por causa de uma questão específica. É devido a um contexto geral. Em síntese, não estamos satisfeitos por Agnelo não ter cumprido compromissos de campanha e por ter se afastado de seus aliados históricos.

O PSB avalia que contribuiu para o governo? Sim, onde pudemos trabalhar, desempenhamos o nosso papel. Compreendemos o esforço e o desempenho dos nossos quadros na estrutura do GDF. Mas a expectativa, quando integramos a aliança que elegeu o Agnelo, era participar ativamente das decisões estratégicas. No entanto, o Executivo se fechou em poucas pessoas e os partidos da aliança ficaram de fora.

O senhor já conversou com Agnelo Queiroz a respeito da saída da base? Ele já sabe do processo político que está ocorrendo dentro do PSB. Tivemos o cuidado de fazer um processo amplo, público e democrático, ouvindo nossa base. É uma posição do partido como um todo.

Essa posição interna no DF reflete alguma postura de independência nacional do partido? O senhor vaideixar a base da presidente Dilma Rousseff? Não, não. Estou absolutamente dentro do governo e sigo como aliado em tempo integral da presidente Dilma. Essa posição no PSB do DF não tem nada a ver com minha postura no Senado. Acho correta a condução que ela tem feito do governo. Nossa discordância é em relação apenas ao DF.