O globo, n. 31680, 02/05/2020. Especial Coronavírus, p. 14

 

Moro depõe hoje

02/05/2020

 

 

PF E MP VÃO OUVI-LO SOBRE ACUSAÇÕES A BOLSONARO
Ex-ministro será ouvido por delegados da PF e procuradores, que apuram se presidente cometeu crime.

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro vai prestar depoimento hoje, em Curitiba, no inquérito que apura suas acusações de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir no trabalho da Polícia Federal (PF). Moro será ouvido entre o fim da manhã e o início da tarde por dois delegados do Sinq (Serviço de Inquéritos Especializados), grupo da PF que atua em inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF), e por procuradores da equipe do procurador-geral da República, Augusto Aras, que solicitou a abertura da investigação. Em entrevista à revista Veja, Moro afirmou que apresentará provas das acusações que fez. A oitiva deve ocorrer na superintendência da PF na capital paranaense. O ex-ministro voltou a morar em Curitiba após um ano e quatro meses em Brasília. No pedido de abertura da investigação, o procurador-geral da República informou que o inquérito vai apurar se Bolsonaro cometeu crime e também se Moro falou a verdade. Com isso, ambos são alvos do procedimento. Aras também disse ao STF que há suspeita de cometimento de sete crimes: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça, corrupção passiva privilegiada e denunciação caluniosa.

 ARAS REBATE EX-MINISTRO

Na quinta-feira, Aras enviou um ofício ao relator do inquérito que apura a denúncia de Moro, o ministro do STF Celso de Mello, informando que designou três procuradores para tomarem os depoimentos do exministro: João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita. Ontem, Celso de Mello se manifestou favoravelmente aos nomes indicados. À Veja, Moro classificou como "intimidatória" a forma como Aras pediu a abertura de inquérito. No pedido, o procurador-geral disse que haveria

a possibilidade de que Moro fosse responsabilizado por calúnia, caso suas acusações não fossem comprovadas.

— Entendi que a requisição de abertura desse inquérito que me aponta como possível responsável por calúnia e denunciação caluniosa foi intimidatória. Dito isso, quero afirmar que estou à disposição das autoridades —disse o ex-ministro. Ontem, Aras rebateu a declaração de Moro e disse que "ninguém está acima da Constituição". Em nota enviada à imprensa, Aras disse que "não aceita ser pautado ou manipulado ou intimidado por pessoas ou organizações de nenhuma espécie".