Correio braziliense, n. 20821 , 25/05/2020. Brasil, p.7

 

Veto a passageiros vindo do Brasil

Jorge Vasconcellos

25/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Medida assinada pelo presidente Donald Trump afeta todos que estiveram no território brasileiro por um período de 14 dias. Portadores de green card, além de cônjuges e filhos de americanos, são as exceções

Os Estados Unidos anunciaram ontem que vão barrar a entrada de passageiros que estiveram em um período de 14 dias no Brasil, com o objetivo de conter o avanço do novo coronavírus em território americano. A decisão foi tomada por meio de decreto do presidente Donald Trump, dois dias depois de o Brasil ultrapassar a Rússia e se tornar o segundo país do mundo em número de casos da covid-19, atrás apenas dos EUA. A medida passará a valer na próxima sexta-feira.

“Hoje, o presidente tomou a ação decisiva para proteger nosso país, ao suspender a entrada de estrangeiros que estiveram no Brasil durante um período de 14 dias antes de buscar a admissão nos Estados Unidos”, diz um comunicado da secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany. “A ação de hoje garantirá que estrangeiros que estiveram no Brasil não se tornem uma fonte adicional de infecções em nosso país. Essas novas restrições não se aplicam aos voos comerciais entre os EUA e o Brasil”, acrescenta a nota.

A medida não será aplicada a pessoas que residam nos Estados Unidos ou sejam casadas com um cidadão americano. Da mesma forma, filhos ou irmãos de americanos, desde que tenham menos de 21 anos, poderão entrar nos EUA. Integrantes de tripulações de companhias aéreas ou pessoas que ingressem no país a convite do governo dos EUA também estão isentas da proibição.

Repercussão

O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, tentou minimizar a decisão de Trump. O presidente americano é tido como um aliado pelo presidente Jair Bolsonaro. “Ao proibir temporariamente a entrada de brasileiros nos Estados Unidos, o governo americano está seguindo parâmetros quantitativos previamente estabelecidos que alcançam naturalmente um país tão populoso quanto o nosso. Não há nada específico contra o Brasil. Ignorem a histeria da imprensa”, tuitou Felipe Martins.

Para Juliano da Silva Cortinhas, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o decreto de Trump “é uma consequência da irresponsabilidade do governo brasileiro frente à pandemia e de parte da população que desrespeitou as medidas de isolamento social decretadas nos estados”. “Vamos, a partir de agora, pagar o preço, tanto em vidas como em medidas restritivas à nossa movimentação pelo sistema internacional”, disse o docente.

O decreto de Donald Trump foi assinado horas depois de o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Robert O’Brien, afirmar que o governo americano adotaria restrições à entrada de passageiros vindos do Brasil. Ele falou sobre o assunto durante entrevista ao programa Face the Nation, da rede de TV CBS.

“Esperamos que seja temporário, mas, devido à situação no Brasil, tomaremos todas as medidas necessárias para proteger o povo americano”, declarou O’Brien, antes de frisar que os brasileiros estão “passando por um mau momento”. O número de notificações do novo coronavírus no Brasil chegou a 363.211, com 15.813 novos registros entre sábado e ontem, segundo o Ministério da Saúde.

Trump disse na terça-feira da semana passada, pela terceira vez, que considerava proibir a entrada de passageiros provenientes do Brasil. “Não quero pessoas vindo para cá e infectando nosso povo. Também não quero que as pessoas fiquem doentes por lá. Estamos ajudando o Brasil com respiradores. O Brasil está tendo problemas, não há dúvida sobre isso”, afirmou o presidente americano.

Até ontem, os EUA não haviam fornecido os respiradores, mas, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, disse em uma rede social que mil unidades do equipamento serão entregues pelo governo americano.

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Casos fatais aumentam em 653 desde o sábado

Jorge Vasconcellos

25/05/2020

 

 

 

O número de casos confirmados da covid-19 no Brasil chegou a 363.211, com 15.813 novos registros entre sábado e ontem, segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. A pasta contabilizou, no mesmo período, mais 653 mortes provocadas pela doença, o que elevou o total de casos fatais a 22.666.

Das 653 novas mortes registradas no país, segundo o ministério, 275 ocorreram entre a quinta-feira e o sábado. De acordo com a pasta, 190 mil casos estão em acompanhamento e 3,5 mil óbitos em investigação. Ainda conforme o órgão, 149.911 pacientes (41,3%) foram curados da covid-19.

O Brasil ultrapassou a Rússia na sexta-feira e agora é o segundo país em número de casos de covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins. No mesmo dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a América do Sul se tornou o novo epicentro da pandemia e que o Brasil é o país mais afetado.

Entre as unidades da Federação com o maior número de casos no país, São Paulo figura em primeiro lugar, com 82.161 casos confirmados e 6.163 fatalidades. Rio de Janeiro aparece na segunda posição com 37.912 e 3.993 mortes. Em seguida, estão Ceará (35.595 casos e 2.324 mortes) e Amazonas (29.867 casos e 1.758 mortes).

O estado de São Paulo, na tentativa de conter a pandemia, antecipou feriados. Hoje é feriado em todos os municípios paulistas. A medida, entretanto, não tem surtido efeito: a meta de aumentar a adesão ao isolamento social a 55% não foi alcançada em nenhum dos dias do megaferiado, iniciado na quarta-feira da semana passada, na capital paulista.

Testagem

No Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde informou que a capacidade de testagem do Laboratório Central Noel Nutels (Lacen) e dos laboratórios parceiros dobrou nas últimas semanas, passando de 900 para até 1,8 mil amostras analisadas por dia. Casos da covid-19 e óbitos causados pela doença também podem ser confirmados por critérios clínico-laboratoriais, ou por exames em laboratórios privados habilitados.

Apesar do agravamento da crise sanitária, o Brasil completa nove dias sem um ministro da saúde, desde a demissão de Nelson Teich. Quem comanda a pasta interinamente é o secretário-executivo, general Eduardo Pazuello.

Ontem, Pazuello participou de uma manifestação, na Esplanada dos Ministério, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e contra as medidas de isolamento social decretadas pelos estados. O ato foi marcado por aglomerações e outros comportamentos considerados de risco pelas autoridades sanitárias.