Título: Depois do êxodo, volta à terra natal
Autor: Lobato, Paulo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2012, Economia, p. 16

Investimentos e programas sociais elevam a renda dos nordestinos e reduzem os fluxos migratórios. Muitos dos que deixaram a região conseguem retornar e abrir negócio próprio

Os movimentos da asa branca, pássaro pouco menor que um pombo, são acompanhados de perto pelo sertanejo, pois a chegada e a partida da ave de uma região significam o início e o fim do período chuvoso. No chamado Grande Norte de Minas e no Nordeste brasileiro, os versos, estampados no alto dessa página, ainda fazem parte da realidade de muitas famílias, que deixam o semiárido em busca de emprego, principalmente, no Sudeste. Por outro lado, devido ao aumento do poder aquisitivo do brasileiro, uma parcela grande de ex-refugiados da seca já faz o caminho de volta. Melhor: muitos que foram para o Sudeste e agora retornam para a terra natal usam suas economias para abrir o próprio negócio, fomentando a renda na região.

Essa boa nova, porém, ainda não chegou à casa de Ana Rodrigues, 47 anos, moradora de Mamonas, a 300 quilômetros de Montes Claros. Em busca de emprego, cinco de seus seis filhos se mandaram para São Paulo. Ela espera, ansiosa, pelo dia em que eles vão voltar em definitivo. "Saíram para o mundo para não passar fome", lamenta. Dois filhos de Jucineide Justino, 45 anos, também se foram. Trocaram Lagoa Grande, no sertão de Pernambuco, por Petrolina, onde o emprego é farto graças à lavoura irrigada pelas águas do São Francisco. "Sei que um dia o mesmo deve acontecer com meus três filhos menores."

De 1960 a 1980, mais de 1,3 milhão de nordestinos deixaram a terra natal. Para eles, como para os filhos de dona Ana, a meca era São Paulo. Hoje, embora muitas famílias do Norte de Minas e do Nordeste ainda partam em busca de um futuro melhor, a migração é menor do que a da época em que o rei do baião gravou Asa Branca. Isso se deve a vários fatores, como investimentos privados e públicos e a expansão de programas sociais, entre eles o Bolsa Família. O professor Alisson Flávio Barbieri, do Departamento de Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, avalia que a redução das desigualdades sociais e econômicas ante o Sudeste e o Sul brasileiros abriu caminho para o crescimento da economia e a migração de retorno.

A redução da desigualdade foi fundamental para que Jailson Sales, 46 anos, fizesse o caminho de volta para casa, em Exu (PE), quase 30 anos depois de ter partido para São Paulo, onde trabalhou em várias funções na indústria. "Em 2010, percebi que o Nordeste havia crescido, que as pessoas passaram a ter renda maior. Decidi voltar". Ele veio na companhia de um amigo, Luiz Antônio Rodrigues, 61 anos, que trocou Guarulhos (SP) pela terra de Gonzaga. Montaram uma fábrica de confecções com 20 funcionários.