Correio braziliense, n. 20822 , 26/05/2020. Política, p.4

 

Barroso põe fake news na mira

Renato Souza

Ingrid Soares

26/05/2020

 

 

PODER » Agora no TSE, ministro promete combater falsidades e desinformações como arma eleitoral, para evitar a repetição do cenário de 2018. Condenou ainda quem ataca as instituições e deixou claro que são poucas as chances de haver adiamento das eleições municipais

Ao tomar posse como o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso fez um forte discurso em defesa da democracia e contra a disseminação de fake news, especialmente no período eleitoral. O ministro substitui sua colega de Supremo Tribunal federal (STF) Rosa Weber, cuja gestão recebeu criticas pela atuação tímida contra as notícias falsas, que invadiram as redes sociais antes e durante a eleição de 2018. Denúncias de uso de robôs para difusão de mensagens em massa contra os então candidatos à Presidência ainda não foram julgadas pela corte eleitoral.

No discurso de posse, Barroso disse que é necessário combater a mentira e a desinformação. “Uma das grandes preocupações da Justiça Eleitoral são as chamadas fake news ou, mais apropriadamente, as campanhas de desinformação, de difamação e de ódio. Refiro-me às informações intencionalmente falsas e deliberadamente propagadas”, apontou.

O ministro completou alertando que compartilhar falsidades é crime. “A internet permitiu a conexão de bilhões de pessoas pelo mundo afora, em tempo real, dando lugar a fontes de informação independentes e aumentando o pluralismo de ideias em circulação. Porém, à medida em que as redes sociais adquiriram protagonismo no processo eleitoral, passaram a sofrer a atuação pervertida de milícias digitais, que disseminam o ódio e a radicalização. São terroristas virtuais que utilizam como tática a violência moral, em lugar de participarem do debate de ideias de maneira limpa e construtiva”, condenou, destacando o papel da imprensa profissional e das empresas de mídias sociais no combate às notícias falsas.

O presidente Jair Bolsonaro compareceu à cerimônia por vídeoconferência. Participaram ainda o procurador-geral da República Augusto Aras, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. O ministro Edson Fachin, também do STF, assumiu como vice-presidente do TSE.

Barroso aproveitou a oportunidade para criticar ataques às instituições da República e ressaltou que não se pode defender a volta da ditadura. “Não há volta nesse caminho. Só quem não soube a sombra não reconhece a luz que é viver em um Estado democrático de direito, com todas as suas circunstâncias. Nós já percorremos e derrotamos os ciclos do atraso”, salientou.

Sem adiamento

Barroso observou também que um eventual adiamento das eleições municipais deste ano, por conta da pandemia, será decidido em conjunto com o Congresso, como adiantou na entrevista concedida ao Correio, publicada no último domingo. E acrescentou que está praticamente fora de cogitação que os pleitos municipais coincidam com os gerais, de 2022.

“Prorrogação de mandatos, mesmo que por prazo exíguo, deve ser evitada até o limite. O cancelamento das eleições municipais, para fazê-las coincidir com as eleições nacionais em 2022, não é uma hipótese sequer cogitada”, decretou.

Frase

“À medida em que as redes sociais adquiriram protagonismo no processo eleitoral, passaram a sofrer a atuação pervertida de milícias digitais, que disseminam o ódio e a radicalização. São terroristas virtuais”

Luiz Roberto Barroso, presidente do TSE

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Globo e Folha tiram repórteres do Alvorada

26/05/2020

 

 

As constantes agressões de apoiadores de Jair Bolsonaro, estimuladas pelo próprio com os habituais destemperos contra a imprensa, levou o Grupo Globo e o Grupo Folha a retirarem seus repórteres da cobertura da entrada do Palácio da Alvorada. Separados apenas por uma grande da claque que se aglomera em busca de atenção do presidente, os jornalistas têm sido alvos de xingamentos, ironias e ameaças. Mas, ontem, a hostilidade passou do tom, pois foi mais agressiva que o habitual — o que levou os dois veículos a tomarem a decisão de proteger seus profissionais.

A única medida das autoridades em favor dos jornalistas foi separar os cercados dos dois grupos, o que não evitou para que as hostilidades cessassem. A ação dos seguranças da Presidência é insuficiente para coibir as agressões e, geralmente, quando intervêm, é sempre depois de os repórteres já terem escutado um rol de xingamentos pelos bolsonaristas.

Temendo que a situação fuja do controle, o Grupo Globo comunicou sua decisão, por carta, ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. “São muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico”, diz a nota, em certo trecho. E completa: “Com a responsabilidade que temos com nossos colaboradores, e não havendo segurança para o trabalho, tivemos que tomar essa decisão”. A Folha tomou a mesma decisão.

Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) apoiou a decisão dos dois grupos. “Esses ataques ganharam corpo e se tornaram mais graves, havendo, inclusive, agressões físicas a repórteres por parte da claque bolsonarista (…). A ABI saúda esta decisão e parabeniza as Organizações Globo e o Grupo Folha”.

Ontem, um grupo de aproximadamente 15 pessoas era o mais exaltado contra os jornalistas. As agressões verbais ocorreram pouco depois de o próprio presidente criticar jornalistas. “O dia em que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês”, disse Bolsonaro, indicando que não daria entrevista. Foi a senha para os ataques da claque. “Mídia lixo”, “comunistas”, “safados” foram alguns dos insultos ditos logo depois de o presidente deixar o local. A segurança no Palácio da Alvorada é responsabilidade do GSI, que, procurado, não se manifestou até o fechamento desta edição.