Correio braziliense, n. 20822 , 26/05/2020. Economia, p.7

 

Pandemia freia o setor da construção civil

Marina Barbosa

26/05/2020

 

 

Com queda de quase 40% das vendas em abril, 79% das construtoras devem adiar lançamentos nos próximos meses. Empresas apontam a importância de programas como o Minha Casa, Minha Vida para amenizar impacto no nível de emprego do segmento

A crise do novo coronavírus interrompeu o ciclo de recuperação do setor da construção civil, que é um dos principais empregadores do país. Pesquisa divulgada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) explica que o setor estava crescendo até março deste ano, mas já calcula um baque de quase 40% nas vendas em abril. Por isso, 79% das construtoras pretendem adiar os próximos lançamentos imobiliários.

 Os dados mostram que as vendas ainda cresceram 26,7% entre janeiro e março deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os lançamentos, contudo, já caíram 14,8% no período, com os empresários preocupados com os efeitos da covid-19 no bolso do consumidor . E as expectativas futuras são ainda mais negativas.

Para abril, o setor projeta um tombo de 38,8% nas vendas — queda que pode fazer a construção civil vender apenas 6,5 mil unidades no mês, o menor volume dos últimos 12 meses. A Cbic também estima uma redução de 63% nos lançamentos imobiliários em abril, ou seja, a colocação de apenas 3,2 mil unidades imobiliárias no mercado.

“Menos de 15% das empresas pretendem lançar imóveis normalmente. Estamos empurrando esses lançamentos para a frente. E, quando adiamos isso, também adiamos o ingresso de investimentos”,  comentou o sócio da Brain Inteligência Corporativa, Fábio Tadeu Araújo, que fez a pesquisa com a Cbic.

A queda dos lançamentos é decorrência do comportamento mais cauteloso do consumidor, diante da incerteza sobre a manutenção do emprego e da renda. De acordo com a pesquisa, 45% dos brasileiros que pretendiam comprar um imóvel no início deste ano desistiram já em março, quando a pandemia ainda estava começando no país. E esse número subiu para 53% em abril.

O presidente da Cbic, João Carlos Martins, lembrou que o baque nos lançamentos gera um efeito negativo no mercado de trabalho. Muitos empregados da construção civil já sentem os efeitos na própria renda. Em abril, 54% das empresas do setor anunciaram férias coletivas ou acordos de suspensão do contrato de trabalho ou de redução da jornada e do salário dos empregados.

O vice-presidente da área de Indústria Imobiliária da Cbic, Celso Petrucci, reconhece que a construção civil entrou em “outro mundo” com a pandemia da covid-19. Ele afirma, contudo, que a redução das vendas e dos lançamentos imobiliários não deve reduzir o preço dos imóveis. “Não há expectativa de queda, porque não existe condição de que nossa moeda e nossa matéria prima tenham redução de preço”, alegou Petrucci. Martins, contudo, disse que espera uma redução das taxas do financiamento imobiliário em breve, o que poderia compensar a alta de preços.

Os dirigentes da Cbic, porém, dizem estar confiante na capacidade de recuperação do setor. “Temos 1,1 milhão de casamentos, 350 mil divórcios e 2 milhões de nascimentos por ano no Brasil. Não dá para deixar de morar. Temos um nível de demanda por imóveis inerente ao próprio dinamismo demográfico”, afirmou Araújo.

Minha Casa

A entidade, porém, pediu atenção do governo aos programas de habitação popular. Afinal, o Minha Casa, Minha Vida e os financiamentos habitacionais lastreados pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) são responsáveis por boa parte das atividades da construção civil no Brasil. “Os recursos do FGTS e do Minha Casa devem ser responsáveis por mais de 80% do mercado imobiliário do país, independentemente da pandemia. Por isso, é fundamental ter segurança e previsibilidade nessas questões”, disse Celso Petrucci, contando que só o Minha Casa foi responsável por 55% das vendas e 57% dos lançamentos registrados no primeiro trimestre deste ano.

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Governo está otimista com concessões

Simone Kafruni

26/05/2020

 

 

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse esperar que, aos R$ 239 bilhões previstos de investimentos privados no programa de concessões, se somem, até o fim do mandado do atual governo, R$ 30 bilhões de recursos públicos. No ano passado, o ministério tinha R$ 8 bilhões de orçamento e todo esse valor foi executado.

“Podemos fazer um pouco mais (neste ano). Não adianta pedir muito para projetos, porque temos uma capacidade limitada de execução. Entre R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões a mais, a gente tem condições de executar”, explicou. “Então, podem ser R$ 30 bilhões públicos que, até o fim do período, vão se somar aos R$ 239 bilhões privados”, disse o ministro, ontem, em live promovida pelo Santander. Durante o encontro, ele prometeu ainda “arrebentar” na privatização de aeroportos, vendendo todos os terminais que estão na carteira.

Apesar de prever aumento de recursos públicos no programa de concessões, Freitas garantiu que o governo manterá a linha liberal. “Quando o Pró-Brasil, nasceu, houve interpretação equivocada do programa”, disse. De acordo com o ministro, há preocupação de melhorar o arcabouço legal das agências reguladoras para “trazer alívio para o setor privado”. Nessa linha, um dos pontos é a mudança do regime de partilha para tornar leilões de óleo e gás do pré-sal mais atrativos.

“Temos (os campos) Sépia e Atapu remanescentes da cessão onerosa para serem leiloados. O marco do saneamento também é importante, o investidor tem muito interesse. Ficou evidente que esta crise de saúde foi agravada pela falta de saneamento básico. É preciso dissipar os riscos jurídicos”, assinalou.

“Estamos falando de novos investimentos, notadamente privados. Fazer a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste Leste) este ano, a Ferrogrão, os 17 mil km previstos de rodovia, 43 aeroportos, dezenas de terminais portuários, linhas de transmissão, óleo e gás, saneamento básico. Obviamente, também alguma coisa de obra pública, que a gente pode fazer mais”, disse Freitas.

Aeroportos

O ministro destacou, ainda, que a venda de terminais aeroportuários continua na agenda de concessões, apesar da violenta queda na demanda por voos. “Nós vamos arrebentar na venda de aeroportos. Por uma razão muito simples: ousadia. Todo mundo está tirando aeroportos da praça e nós vamos colocar, seremos vendedores exclusivos no mundo”, afirmou.

“Nós estamos adequando a demanda e vamos acabar com uma restrição, que era obrigatoriedade de 15% do capital de um operador aeroportuário. Agora vamos permitir que qualquer um possa fazer uma oferta por um aeroporto, basta um suporte técnico com operador, o que abre espaço para que fundos de investimentos possam”, ressaltou.

 “A gente vai conseguir vender todos os aeroportos que estão na carteira, começando, na 6ª rodada, que deve ir para o mercado no primeiro trimestre do ano que vem”, disse. O Ministério da Infraestrutura estima leilão em março de 2021. “Na sequência, virão Viracopos e São Gonçalo do Amarante (dois terminais devolvidos pelos concessionários). E, na 7ª rodada, Congonhas e Santos Dumont. Quem é que vai deixar de fazer um bid (proposta) nesses dois?”, indagou Freitas.