O globo, n. 31690, 12/05/2020. Economia, p. 13

 

Seguro-desemprego

Gabriel Shinohara

12/05/2020

 

 

Pedidos chegam a 748 mil em abril, alta de 22,1% em comparação ao mesmo mês de 2019

 Sob efeito da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, 748 mil trabalhadores deram entrada no seguro-desemprego em abril, um aumento de 22,1% em comparação com o mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Economia. No ano, já são 2,3 milhões de requerimentos. O número de abril também representa um aumento de 39,4% em relação a março, quando houve 537 mil pedidos.

O governo estima que há ainda 250 mil pessoas que têm direito a pedir o benefício e ainda não o fizeram. Isso ocorre porque o trabalhador tem até 120 dias para solicitar o benefício, e os requerimentos não puderam ser feitos presencialmente nos meses de março e abril, pois as agências do Sistema Nacional de Emprego (Sine) de estados e municípios estavam fechadas em razão do distanciamento social. Em março, o número de pedidos represados era de 200 mil.

Em abril, os requerimentos digitais representaram 87% do total, o que é pouco usual. No mesmo mês de 2019, o índice era de apenas 1,7%. Em razão desses números, a Secretaria do Trabalho entende que muitos trabalhadores aguardaram para fazer o pedido presencialmente.

“Os requerimentos podem ser feitos de forma 100% digital e não há espera para concessão de benefício. No entanto, os dados indicam que esses trabalhadores aguardam a abertura das unidades do Sine, que são de administração municipal e estadual e que estão sem atendimento presencial devido às medidas de isolamento social decorrentes da pandemia da Covid-19”, comentou a secretaria em nota.

No dia 28 de abril, o governo federal incluiu o processamento do benefício do seguro-desemprego na lista de atividades essenciais, o que permitiu a reabertura das unidades do Sine e a volta do atendimento presencial.

João Saboia, professor titular do Departamento de Economia da UFRJ, afirma que a situação de crise começou a ficar mais clara no meio de março, e o processo de demissão leva um pouco mais de tempo, o que pode explicar o número maior de pedidos de seguro-desemprego em abril:

— Os números provavelmente devem aumentar mais ainda no mês de maio. Cada vez fica mais claro que o quadro de cri sevai ser profundo elongo, e o empregado restá tomando a iniciativa de demitir os empregados.

Os homens são maioria entre os que pediram o benefício, 57,1%, e a faixa etária major itá riaé ade 30 a 39 anos, que representou 33,1% dos pedidos. Quanto à escolaridade, 62,4% têm ensino médio completo.

O setor de serviços representou 41,6% das solicitações, seguido de comércio, com 27,7%; indústria, com 19,9%; e agropecuária, com 3,3%.

Para José Márcio de Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, os números já eram esperados pela “recessão profunda” em todos os países. Ele acredita, no entanto, que haverá um aumento nos próximos meses:

—Está tendo forte queda no PIB e, consequentemente, um aumento no desemprego. As políticas adotadas pelo governo em relação ao mercado de trabalho, como a possibilidade de redução de jornada e salário e a suspensão de contrato, vão amenizar um pouco, mas não conseguirão resolver tudo.

6,2 MILHÕES DE ACORDOS

Ontem, o secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, afirmou que 6,2 milhões de pessoas aderiram à medida provisória( MP )936, que permite a redução de jornada e salário e a suspensão do contrato:

— Mais de seis milhões de trabalhadores já se beneficiaram do programa. Agente acredita que agrande maioria desse volume estaria desempregada hoje.

AMP foi editada em1º de abril para evitar demissões durante acrise. Os trabalhadores que tiverem corte de salário e suspensão do contrato receberão um complemento com base no seguro- desemprego. A redução de jornada e salário tem vigência de até três meses e a suspensão do contrato, de até dois meses.