O globo, n. 31683, 05/05/2020. Economia, p. 19

 

Estados: Maia indica que votará texto do Senado

Bruno Góes

05/05/2020

 

 

Presidente da Câmara defende rapidez para que socorro de R$ 60 bi chegue ao caixa de prefeitos e governadores. Comitê de secretários estaduais de Fazenda diz que valor é insuficiente e que auxílio é R$ 23,7 bi menor que o previsto no texto original

DANIEL MARENCO/13-9-2019Congresso Nacional. Projeto de ajuda financeira aos governos locais foi aprovado no Senado e agora está na Câmara

 O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem que o projeto de socorro a estados e municípios deve ser aprovado sem mudanças ao texto elaborado por senadores. Após negociação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), com a equipe econômica do governo, foi definido na proposta um auxílio de R$ 60 bilhões aos governos locais por um período de quatro meses.

Embora a forma de distribuição seja diferente do primeiro projeto da Câmara, que condicionava a transferência diretamente ao percentual de perdas com a arredação de ICMS (estados) e ISS (municípios), Maia afirmou que é preciso votar logo o socorro. Caso haja alterações, a proposta teria que retornar ao Senado.

— Avançou na relação com o Poder Executivo.

Não podemos esquecer que o Executivo, no início, não queria dar nenhum real para estados e municípios. E a proposta que foi feita (depois) à Câmara foi de R$ 14 bilhões. Então, mérito do presidente Davi (Alcolumbre), que conseguiu R$ 60 bilhões para estados e municípios. Foi na linha do projeto da Câmara. É uma vitória do Congresso. Nós colocamos o tema. O Senado conseguiu mostrar ao governo que, de fato, há a necessidade deste recurso. O valor em quatro meses é muito parecido (proporcionalmente com o estimado pela Câmara em seis meses) —disse Maia.

QUEDA DE ATÉ 40%

O texto aprovado no Senado prevê R$ 60 bilhões em repasses aos governos locais e mais R$ 60 bilhões em medidas como a suspensão do pagamento de dívidas com União e bancos públicos.

Da injeção de verba de R$ 60 bilhões, R$ 50 bilhões seriam recursos livres, que podem ser empregados conforme a decisão do governo local. Eles seriam divididos da seguinte forma: 60% para estados e 40% para municípios. Já os outros R$ 10 bilhões precisam ser alocados na saúde. Deste total, R$ 7 bilhões ficariam com os estados, e R$ 3 bilhões, com os municípios.

Apesar da disposição da Câmara em votar o projeto aprovado no Senado, estados continuam a reivindicar um benefício maior. Em nota, o Comsefaz, comitê que reúne os secretários estaduais de Fazenda, destacou que o auxílio aprovado pelo Senado é R$ 23,7 bilhões menor que o inicialmente elaborado por deputados. Segundo o órgão, há estados que já esperam perdas de mais de 40% na arrecadação e, assim, o pacote seria insuficiente para conter as perdas.

“Os secretários de Fazenda ainda discordam da fórmula de divisão dos recursos, na proporção de 60% para os estados e 40% para os municípios que foi fixada no final. A proporção da arrecadação desses recursos em queda em 2019 foi de 67% para esta dose 33% para os municípios, eéo único número que traduz as condições de perdas dos entes”, critica anota.

Mesmo criticando os critérios de distribuição, que, segundo ele, podem gerar distorções por levar em conta um “mix de indicadores”, Maia argumentou que agora é preciso dar celeridade ao projeto. Para o presidente da Câmara, estados do Sul serão os mais prejudicados.

Os senadores também asseguraram que servidores de saúde e de segurança ficarão fora do congelamento de salários previsto no texto por 18 meses.

Os pontos do pacote de ajuda

> Repasse de R$ 60 bi. O principal ponto do projeto é a transferência direta de recursos a estados e municípios. Do valor total, R$ 50 bilhões, serão de uso livre: 60% ficarão com estados e 40%, com os municípios. O restante será para a saúde.

> Recursos para a saúde .O pacote prevê repasses de R$ 10 bilhões carimbados para saúde. Desse total, R$ 7 bilhões são para estados e R$ 3 bilhões, para municípios. A divisão leva em conta a incidência da Covid-19 em cada ente federado.

> Suspensão de dívidas .O projeto também suspende dívidas dos estados e municípios com União, bancos públicos e instituições financeiras internacionais. A medida tem impacto de R$ 60 bilhões, o que eleva o impacto do pacote a R$ 120 bilhões.

> Congelamento de salários. Para liberar os recursos, o Senado fechou um acordo com o governo para congelar por 18 meses salários de servidores federais, estaduais e municipais. Profissionais de saúde e de segurança pública foram poupados.

> Regras fiscais. O texto também muda permanentemente pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Um deles proíbe que governadores e prefeitos em fim de mandato aprovem aumento de despesas com impacto em anos seguintes.