O globo, n. 31683, 05/05/2020. Opinião, p. 2
Mobilização mundial tenta conter onda de invasão de terras indígenas
05/05/2020
A ação de garimpeiros e madeireiros ilegais em reservas indígenas na Amazônia não chega a ser novidade num governo que despreza o meio ambiente. Mas, diante da pandemia do novo coronavírus, que assume proporções catastróficas na Região Norte, em especial no Amazonas, torna-se, além de irregular, um risco para essas populações, mais vulneráveis a qualquer tipo de doença.
Desde a morte do ianomâni, os casos se multiplicaram. No dia 28 de abril, o Instituto Socioambiental (ISA), que monitora o avanço da doença nessas populações, contabilizava 11 mortes confirmadas pela Covid-19. E o número de registros sobe de forma acelerada.
Por óbvio, a forma de conter o avanço da doença é impedindo a onda de invasões de terras indígenas. O que também beneficiaria a floresta, à medida que reduziria o desmatamento e a extração ilegal de recursos minerais.
Mas o governo Jair Bolsonaro prefere adotar uma negligência deliberada, podando de todas as formas a atuação dos órgãos técnicos. Em abril, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, demitiu o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo, depois de uma megaoperação realizada em terras indígenas no Sul do Pará para reprimir o desmatamento e o garimpo ilegais. Como é de praxe, equipamentos apreendidos com os invasores foram queimados. Mas, na visão do governo, quem agiu errado foi o diretor do Ibama, que não conseguiu conter o ímpeto dos fiscais. No fim do mês passado, outros servidores que participaram da operação foram exonerados.
A exploração em áreas de reservas é assunto a ser tratado em bases técnicas, e decidido no Congresso. Fora isso, ações ilegais de madeireiros, garimpeiros e grileiros devem ser reprimidas pelos órgãos competentes. É preciso que o governo Bolsonaro tenha uma visão clara sobre quem está a favor da lei e quem está contra ela.