WILSON DIAS/17-12-2019Interesses. Plenário da Câmara dos Deputados em ação: governo age para formar base aliada

A anunciada análise, pelo governo, de currículo dos indicados por partidos do centrão para cargos na administração federal não impediu que o mais recente nomeado tivesse um histórico de envolvimento em suspeitas. Novo titular da Secretaria Nacional de Mobilidade, do Ministério do Desenvolvimento Regional, Tiago Queiroz foi indicado ao cargo pelo Republicanos, cujo presidente, deputado Marcos Pereira, é também vice-presidente da Câmara.

Não é o primeiro cargo no segundo escalão que Queiroz ocupará. Em 2018, ele era o diretor de Logística do Ministério da Saúde, à época comandado, no governo Temer, por Ricardo Barros, do PP, outra sigla do centrão. Em dezembro daquele ano, o Ministério Público Federal moveu uma ação de improbidade contra Barros, e Queiroz estava entre os denunciados. Segundo relata a ação do MPF, Tiago Queiroz enviou ofícios a juízes em ações movidas por pacientes, pedindo que interferissem junto à Anvisa

para que fosse liberada a importação de medicamentos de uma empresa contratada como fornecedora do Ministério da Saúde. O MPF acusou a gestão de Barros de irregularidades na contratação da empresa.

As nomeações fazem parte de um acordo do presidente Jair Bolsonaro com os partidos para formar uma base aliada para votações na Câmara e no Senado. Na quarta-feira, o PP, comandado pelo senador Ciro Nogueira, levou a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.

Mais nomeações atendendo a demandas do PP, PL e PSD são esperadas para os próximos dias. Dois nomes sugeridos pelo PL para assumir o comando do Banco do Nordeste foram barrados pelo governo sob a justificativa de que não se encaixavam no perfil da vaga. Agora, o governo analisa uma terceira indicação. O PSD negocia superintendências da Funasa nos estados.

ALCOLUMBRE TRAVA INDICAÇÃO

Em alguns casos, as indicações são travadas por interesses e pela força de outros partidos. Nos últimos dias, por exemplo, o governo reviu a distribuição de cargos ao centrão para fazer um aceno ao DEM, partido dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). O Palácio do Planalto havia colocado o comando da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) na mesa de negociações. A ideia era que o órgão, com um orçamento de R$ 1,5 bilhão, ficasse com o Republicanos.

Desde agosto do ano passado, no entanto,a companhia é presidida pelo engenheiro Marcelo Moreira Pinto, indicado pelo então líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Segundo relatos, a possível transferência do comando da Codevasf para outro partido foi travada por Alcolumbre. De acordo com aliados, o presidente do Senado atuou junto ao ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para que não houvesse mudança.