Título: Docentes querem debater
Autor: Castro, Grasielle; Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 21/12/2012, Política, p. 7

Estender até o fim de 2015 o prazo em que ficarão válidas no Brasil tanto as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa quanto as normas atualmente em vigor atende a uma reclamação de grupos organizados que, desde 2009, vêm se posicionando contra as novas diretrizes. Um dos defensores do aperfeiçoamento na reforma, Ernani Pimentel, professor e autor de livros sobre língua portuguesa, acionou a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, no ano passado, para alertar sobre o que considera equívocos, além de denunciar a falta de participação de docentes na discussão. Desde então, o tema entrou na agenda do colegiado, culminando, no último dia 27, em reunião com a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil.

“Levamos para ela todas as inquietações trazidas até nós pelo professor Pimentel e debatidas em audiência pública com outros especialistas. E tratamos da conveniência de, diplomaticamente, ampliar o prazo”, afirma a senadora Ana Amélia (PP-RS). Ela chegou a apresentar projeto de decreto legislativo, com o senador Cyro Miranda (PSDB-GO), propondo o adiamento do início da reforma ortográfica. Mas observou, em seguida, que era preciso um decreto presidencial. Por isso, recorreu à Casa Civil.

Ana Amélia não descarta mudanças no texto do acordo, embora ressalte que o adiamento tem outros objetivos. “Queremos que todas as dúvidas sejam tiradas nesse tempo e que os professores participem, aprendam, mas se forem necessárias mudanças, por que não fazê-las? Precisaremos usar de negociação política e entendimento”, afirma a parlamentar.

Para Ernani Pimentel, que lidera o movimento Acorda Melhor, a reforma ortográfica está baseada em regras ilógicas e excessões. Ele cita o caso de cor-de-rosa. “Cor de violeta, cor de abacate, cor de qualquer coisa não tem hífen. Mas cor-de-rosa tem. A justificativa é estar consagrado pelo uso. Mas se o acordo vem para mudar o uso, por que adotar essa justificativa? O aluno de hoje não quer decorar, não aceita mais essas ilogicidades. A didática evolui, não é mais por memorização”, diz.

Água-de-colônia e água de cheiro, aponta Pimentel, seriam mais exemplos de irracionalidade do acordo. “Como explicar para um estudante deste século que um tem hífen e o outro, não. Simplesmente não tem lógica”, reclama. Ernani considerou a recomendação do Ministério das Relações Exteriores pelo adiamento como uma “vitória”. “É resultado de uma consciência de que se pode mudar, melhorar. Esse acordo é uma utopia. Nenhum país está se sentindo seguro para adotá-lo.”