O globo, n. 31687, 09/05/2020. Especial Coronavírus, p. 13

 

Araújo chama FHC e ex-ministros de hipócritas

09/05/2020

 

 

Chanceler emprega linguagem incisiva e ideias de Olavo de Carvalho para rebater artigo publicado pelo GLOBO
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, respondeu com veemência ao artigo publicado na edição de ontem do GLOBO e de outros jornais pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelos ex-ministros Aloysio Nunes, Celso Amorim, Celso Lafer, Francisco Rezek, José Serra, Rubens Ricupero e Hussein Kalout. No texto, o grupo condena a política externa do governo de Jair Bolsonaro, afirmando que contraria a Constituição "em letra e espírito". Em uma resposta de tom incisivo repleta de referências ao povo e com linguagem incomum ao meio diplomático, Araújo afirma que FHC, Ricupero e Amorim são "paladinos da hipocrisia", enquanto os demais são chamados de "figuras menores". [Eles] "precisam vir aprender conosco como se defende a Constituição. Não é com clichês globalistas. Não é com mentiras. Não é com nostalgia de um Brasil apático e corrupto. É com fé e amor pelo povo brasileiro" , escreveu.

O artigo de FHC e dos ex ministros deixou de lado uma cisão de décadas na política externa brasileira, em favor de uma condenação comum da atual atuação do Itamaraty. Sob Araújo, afirmam, "a diplomacia brasileira, reconhecida como força de moderação e equilíbrio a serviço da construção de consensos, converteu-se em coadjuvante subalterna do mais agressivo unilateralismo". Em crítica à relação atual entre o Brasil e os EUA no governo Bolsonaro, o grupo disse que "não se pode conciliar independência nacional com a subordinação a um governo estrangeiro cujo confessado programa político é a promoção do seu interesse acima de qualquer outra consideração". Araújo empregou ideias do ideólogo Olavo de Carvalho para responder. Além de criticar o "globalismo", conceito sem lastro acadêmico que considera haver uma conspiração internacional para enfraquecer a soberania nacional, o ministro também atacou o Foro de São Paulo, alvo frequente do escritor, descrito como uma "rede de corrupção, ditadura, narcotráfico e terrorismo". Mais cedo, Araújo discursou em uma reunião informal do Conselho de Segurança das Nações Unidas por ocasião dos 75 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, e insinuou que comunistas tentam se aproveitar da pandemia para "sequestrar e perverter" a ONU, de modo que a organização sirva a objetivos totalitários".