Título: Conflito sectário
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Fonte: Correio Braziliense, 21/12/2012, Mundo, p. 18

Relatório aponta que comunidades islâmicas e outros povos foram arrastado para a guerra. Investigadores ouviram mais de mil testemunhas sobre crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pelas forças pró-Assad e seus opositores

A comissão de investigadores da ONU sobre a Síria, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, divulgou ontem um relatório sobre o conflito no país. Segundo o documento, a principal tensão envolve a comunidade alauita, a qual pertence o presidente sírio, Bashar al-Assad, e a comunidade sunita, além de outros povos que foram afetados desde o início da rebelião, em março do ano passado. "As outras minorias, como os armênios, os cristãos, os drusos, os palestinos e os turcomanos foram arrastados pelo conflito", informou a comissão, que também acrescentou que “ataques e represálias levaram as comunidades a se armarem e serem armadas pelas partes do conflito”, o que resultou na criação de outros grupos armados. "A situação é tal que comunidades inteiras correm o risco de ter que fugir do país ou ser massacradas” por um dos dois lados.

Para fazer o relatório, os membros da comissão ouviram mais de mil depoimentos de testemunhas em países vizinhos da Síria, entre 28 de setembro e 16 de dezembro deste ano. O grupo recebeu informações sobre os crimes de guerra e contra a humanidade cometidos tanto pelas forças leais a Assad, quanto pelos insurgentes. Além disso, a comissão entregou ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos duas listas com os nomes dos responsáveis pelos crimes. “A guerra de atrito que está sendo travado na Síria trouxe imensurável destruição e sofrimento humano para a população civil”, conclui o relatório.

Putin Em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, negou que a Rússia tenha cometido um erro ao se opor a uma intervenção militar na Síria durante um discurso de encerramento que faz todos os anos. De acordo com o mandatário, seria um erro repetir uma operação semelhante à da Otan na Líbia no ano passado, quando a aliança ocidental ajudou a derrubar o ditador Muammar Kadafi. "Não importa como eles explicaram a posição deles. O Estado está caindo aos pedaços. Conflitos entre etnias e clãs continuam. Além disso, eles acabaram levando ao assassinato do embaixador dos Estados Unidos", afirmou Putin, fazendo menção à morte do representante americano em Benghazi, Christopher Stevens, por fanáticos islamitas em setembro deste ano.

Considerado o maior aliado do regime sírio, o presidente russo também admitiu que o país precisa de mudanças, mas negou qualquer preocupação com o destino de Assad, já que, para ele, o futuro da Síria é o que mais importa. "Não estamos preocupados com o destino do regime de Assad. Naturalmente, mudanças estão sendo exigidas, mas há algo que mais nos preocupa: o que vai acontecer depois? Nossa posição não é para que Assad e seu regime se retenham no poder a qualquer custo, mas sim para que as pessoas cheguem a um acordo sobre como elas vão viver no futuro, o quanto a sua segurança e participação no comando do Estado seria garantida.”

Detidos por militares

Dois sobrinhos-netos do vice-presidente sírio, Faruk al-Shara, além de outros cinco homens foram detidos pelos serviços de inteligência militares do país, informou ontem o Observatório Sírio de Direitos Humanos. "O professor universitário Zaydun Zohbi, de 38 anos, seu irmão Suhaib e cinco amigos, que militam a favor de uma mudança pacífica na Síria, foram detidos no dia 15 de dezembro em um café, por membros dos serviços de inteligência militar”, afirmou a ONG, que pediu a libertação de Shara e todos os prisioneiros civis e militares que estão em poder do governo. Ainda ontem, centenas de palestinos retornaram ao acampamento de refugiados Yarmuk, na capital síria, Damasco, afirmaram moradores à France Presse. Eles fugiram do acampamento após os conflitos entre rebeldes e uma milícia aliada ao governo se intensificarem na última terça-feira.