Título: Putin nega regime autoritário e critica EUA
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Fonte: Correio Braziliense, 21/12/2012, Mundo, p. 19

Ao fazer um balanço sobre a política na Rússia, o presidente Vladimir Putin rebateu as acusações de que prevalece no pais um “sistema autoritário” e não poupou críticas aos Estados Unidos, que, em sua opinião, não têm condições de dar lições ao mundo sobre direitos humanos. “Não concordo que se qualifique o nosso sistema de autoritário. A melhor prova é a minha decisão de abandonar o meu cargo depois de dois mandatos. Se eu tivesse considerado que a melhor escolha era a via do autoritarismo, teria mudado a Constituição. Era fácil”, afirmou.

Putin deixou a Presidência em 2008 após oito anos no comando do país. Trocou de posição com o primeiro-ministro Dmitri Medvedev. Em maio, ao fim do primeiro mandato de Medvedev, reassumiu o cargo de presidente. “Eu mostrei respeito pela lei”, disse o presidente, que desde a nova eleição se viu às voltas com frequentes manifestações em defesa das liberdades políticas e de expressão. “Se alguém considerar que a democracia e o respeito das leis são coisas diferentes, engana-se. Existe o sentimento entre nós de que a democracia é o trotskismo, a anarquia, mas não é assim”, ressaltou Putin. Adoção O presidente empenhou seu apoio à decisão da câmara baixa do Parlamento (Duma) de proibir a adoção de crianças russas por cidadãos norte-americanos. “É uma resposta emocional por parte da Duma, mas creio que é apropriada”, opinou. O projeto, aprovado na quarta-feira, é, na verdade, uma resposta às sanções previstas pela chamada Lei Magnitski do Congresso americano. Essa lei proíbe a entrada nos Estados Unidos de autoridades russas envolvidas na morte do jurista russo Serguei Magnitski — ocorrida numa prisão de Moscou, em 2009 — ou em outras violações dos direitos humanos. Prevê ainda o confisco dos seus bens.

Para Putin, a lei americana é um “ato não amistoso”. O presidente russo destacou que há muitos problemas relacionados aos direitos humanos nos Estados Unidos, citando a prisão de Guantánamo. “(Os americanos) Mantêm pessoas na prisão há anos sem nem mesmo apresentar uma ata de acusação (contra elas). É impensável. Eles as acorrentam, como na Idade Média... e legalizaram o uso da tortura... Imaginem se nós tivéssemos feito isso? Há quanto tempo se prometeu fechar Guantánamo?... E nos dizem que temos problemas!”

Logo no início do balanço, Putin comemorou a boa fase econômica. “Os resultados são bons, sobretudo em comparação com a recessão na Eurozona e a desaceleração da economia dos Estados Unidos”, afirmou. Em seguida, desmentiu os boatos de que estaria com problemas de saúde. “Podem continuar esperando.”

Falante, Putin se mostrou disposto a conceder residência ou mesmo passaporte russo ao ator Gerard Depardieu, que decidiu deixar a França em razão da alta cobrança de impostos.